Centenária e cheia de vida: Estação Ferroviária completa 102 anos e já foi palco até de parto

Conheça a história da Dona Célia Machado, a “filha da Estação”, que nasceu e morou no prédio histórico até os quatro anos de idade.


Por Luiza Rampelotti Publicado 07/05/2024 às 20h04

Nesta terça-feira (7), a Estação Ferroviária de Paranaguá sopra 102 velinhas, mas sua história começa bem antes disso. Embora oficialmente inaugurada em 1883, foi somente após um processo meticuloso de reformas e expansões que o prédio adquiriu sua forma atual. Foi em 7 de maio de 1922 que a conclusão dessas transformações deu à antiga estação uma nova vida, incorporando-a às instalações que conhecemos hoje, que marcaram a época de ouro da ferrovia no litoral paranaense.

O prédio centenário ainda ostenta a imponência de outrora, quando os trens partiam de Curitiba em direção ao Litoral, ou vice-versa, oferecendo aos passageiros uma vista espetacular da majestosa Serra do Mar. Até 2011, a Estação ainda era um ponto de desembarque para aqueles que queriam apreciar a beleza da natureza durante a descida da Serra.

No entanto, o tempo, implacável, deixou suas marcas. Em 2015, a Estação Ferroviária se encontrava em um estado lastimável, com o telhado desabando, a fachada suja e o abandono pairando sobre sua estrutura. Mas como em toda história, sempre há um recomeço. Graças a uma ordem judicial, a Prefeitura de Paranaguá deu início a uma grande reforma, concluída em 2020. O resultado? O prédio renasceu, com seus traços originais restaurados e novas adaptações para receber o público.

Designada como Patrimônio Cultural do Estado do Paraná em 1990, a Estação Ferroviária de Paranaguá continua a ser não apenas um monumento físico, mas um elo vivo com o passado e a importância da ferrovia na história da região.

A “filha da Estação”

Dona Celia Machado Estação ferroviária
Dona Célia Machado tem 99 anos e nasceu dentro da Estação Ferroviária, onde morou até os quatro anos. Foto: Arquivo pessoal/Pedro Guetter

Entre os tantos que cruzaram seus corredores e que carregam a Estação no coração, está Dona Célia Machado, de 99 anos. Ela, que quase testemunhou a inauguração do prédio, nasceu dentro de seus antigos muros, sendo a legítima “filha da Estação”.  

Dona Célia é a última filha viva de Pedro Machado de Souza, o primeiro agente da Estação da Estrada de Ferro de Paranaguá. Pedro e sua família se estabeleceram no prédio em 1922, quando ele assumiu suas responsabilidades na chefia do espaço, ocupando três aposentos no andar superior. A escadaria principal dava acesso à residência, tanto pelo lado externo, através de uma porta lateral, quanto pelo interior da Estação, que contava com cozinha, sala de jantar e sanitários utilizados pela família no andar térreo. Esses aposentos recentemente foram utilizados como escritório da coordenação do sistema de vacinação contra a Covid-19 em Paranaguá.

Nascida em 1925, Dona Célia passou seus primeiros quatro anos de vida brincando pelos corredores do local, com o barulho dos trens como trilha sonora. Ao JB Litoral, seu filho, Pedro Guetter, que recebeu o nome em homenagem ao avô, compartilha a história da mãe com a Estação. “Um acontecimento inédito e interessante: minha mãe Célia, que está com 99 anos, certamente é a única pessoa viva que pode contar que nasceu ali dentro daquelas paredes, pois a família toda morava ali naquele prédio”, destaca.

História familiar entrelaçada com o prédio histórico

Pedro Machado de Souza, se aposentou da Rede Ferroviária em 1929 e se mudou para Curitiba com sua família (esposa e sete filhos), mas sua memória vive através de sua caçula. Atualmente, Dona Célia enfrenta os desafios que acompanham os 99 anos de uma vida bem vivida. Sua memória pode estar se apagando lentamente, mas sua conexão com a Estação Ferroviária de Paranaguá permanece vívida, uma testemunha silenciosa de um tempo passado.

O filho de Dona Célia é engenheiro civil aposentado, mora em Garopaba (SC) e conta sobre a história da mãe com a Estação de Paranaguá. “Graças ao trabalho de pesquisa que o Almir Silvério e o Hamilton Júnior (do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá – IHGP) fizeram, houve um resgate de muita coisa que a gente não sabia. Por exemplo, temos a ideia de que a minha mãe nasceu dentro da Estação Ferroviária, uma vez que naquele tempo, em 1925, os partos eram feitos em casa pelas parteiras”, comenta.

Segundo ele, Dona Célia, que vive em Curitiba junto com os outros quatro filhos, tem tido dificuldades para reconhecer as pessoas e de comunicação, tendo em vista a idade avançada. À medida em que se aproxima o centenário da “filha da Estação”, em 12 de janeiro de 2025, Pedro reflete sobre a história familiar entrelaçada com o prédio histórico.

Ele destaca que a descoberta sobre os primeiros momentos de vida de sua mãe surgiu através da pesquisa realizada por membros do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP), Almir Silvério e Hamilton Júnior. Em 2022, quando a Estação comemorou seu próprio centenário, todos os filhos de Dona Célia se reuniram em Paranaguá, junto com a mãe, prestando sua homenagem ao legado eterno da histórica estrutura.

No centenário da Estação, por iniciativa do IGHP e da Secretaria de Cultura do Município, minha mãe foi homenageada em um evento singelo, mas muito emocionante no prédio. Foi algo muito especial para nós e para ela“, conclui Pedro Guetter.

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