Coletores que atuaram na limpeza das praias durante a temporada denunciam falta de pagamento


Por Luiza Rampelotti Publicado 13/03/2023 às 13h22 Atualizado 18/02/2024 às 06h48

Ter praias limpas no Litoral é fundamental para que, cada vez mais, turistas visitem a região, garantindo a movimentação econômica e, consequentemente, criação de emprego e renda para a população litorânea. Mas, para além disso, a retirada do lixo tem um papel ainda mais essencial: contribuir para um ecossistema mais preservado.

Os grandes responsáveis pela limpeza das praias são os coletores de lixo. Eles são contratados pela Sanepar, durante a Operação Verão, para realizar esse trabalho de coleta, feito em parceria com os municípios.

Ao longo da temporada, de dezembro de 2022 a fevereiro de 2023, foram coletadas 560,8 toneladas de lixo, das quais cerca de 300 toneladas foram enviadas para a reciclagem. Equipes terceirizadas percorriam diariamente os 48,6 km das orlas de Matinhos, Guaratuba e Pontal do Paraná, fazendo varrição, coleta e separação de resíduos sólidos.

No entanto, apesar da importância do trabalho dos 147 coletores contratados para a Operação Verão pela ACR Administradora de Serviços, terceirizada da Sanepar, eles denunciam que, até o momento, ainda não foram pagos pelo serviço.

Sem trabalho, sem dinheiro

Amanda Gisela dos Salvos é uma das coletoras que foi contratada em dezembro e atuou até o final de fevereiro na praia de Caiobá, em Matinhos. Ela conta que desde o final do trabalho, dia 26 do mês passado, não recebeu a rescisão do contrato.

Eles só estão nos enrolando e um joga a culpa para o outro, mas ninguém faz nada. Não estou conseguindo arrumar serviço porque não deram nem baixa na minha carteira. Estou sem nada em casa, tenho três filhos para criar e o último pagamento foi no dia 18 de fevereiro”, conta ao JB Litoral.

Outro coletor passando pela mesma situação, também em Matinhos, é Bruno Moa Martignago. Ele conta que, no seu caso, está sem receber até o pagamento pelo trabalho executado em fevereiro.

Estamos sem dinheiro, com contas atrasadas. Trabalhei em Matinhos na temporada, limpando a sujeira que os veranistas deixavam nas praias todos os dias, mas estou sem receber desde fevereiro. Sem esse dinheiro para a gente se virar, tá difícil, pois tenho uma neném pequena de 11 meses, preciso de dinheiro para comprar fralda, remédio. Agora desempregado e sem dinheiro fica difícil”, desabafa.    

Atrasos recorrentes

A coletora Norma da Silva Martins Filha, moradora de Matinhos, também enfrenta o mesmo problema. Ela explica que, de acordo com a ACR, o valor da rescisão contratual cairia na conta dos trabalhadores no dia 8 de março, 10 dias depois do encerramento do contrato, mas isso ainda não aconteceu.

Meu marido está fazendo bico e eu estou parada. Nós só queremos receber o que nos é devido e saber como vai ficar a situação, se eles vão pagar multa ou não. Desde o começo do contrato, em dezembro, passamos por essa situação, esperando quando eles querem fazer o pagamento. O vale alimentação quando chegou também veio com atraso”, comenta.

O JB Litoral conversou com coletores que trabalharam nas praias de Matinhos e ainda não receberam os valores combinados. Foto: Arquivo pessoal

A informação do atraso recorrente no pagamento dos salários é reiterada pela coletora Rosa Aparecida Ferreira da Silva, de Matinhos. “Vários funcionários trabalharam durante esses três meses, de sol a sol, e desde o primeiro mês eles começaram com atrasos de pagamento, deixando coisas para pagar no final. E, na realidade, agora no final ficou vale para trás, dias de serviço do primeiro mês, e agora, no último mês, ficamos sem pagamento, sem abono dos filhos etc”, diz ao JB Litoral.

De quem é a responsabilidade?

Procurada pelo JB Litoral, a Sanepar passou a responsabilidade pelo atraso para a ACR Administradora de Serviços. A empresa afirmou que, desde o primeiro momento em que tomou conhecimento de irregularidades no cumprimento das obrigações trabalhistas para com o pessoal contratado para o serviço de limpeza no Litoral, tem feito gestão para garantir a regularização dessa situação.

O diretor da área responsável por este contrato esteve pessoalmente no Litoral para conversar com os trabalhadores e fazer o levantamento do que estava irregular, além de acionar a ACR. Neste momento, a Sanepar está em processo de negociação com a ACR para viabilizar a solução o mais rápido possível”, informou.

Além disso, a Sanepar afirma que a ACR solicitou na quinta-feira (9), formalmente, que a companhia de saneamento faça os pagamentos das rescisões diretamente aos trabalhadores. “Para que a Sanepar possa atender ao pedido, é necessário que a ACR entregue os documentos trabalhistas faltantes, exigidos por lei. O que não foi feito ainda. Estamos negociando com a empresa para que isto ocorra no tempo mais curto possível”, explicou.

Novo prazo para pagamento

A ACR Administradora de Serviços também falou com o JB Litoral, por meio de seu proprietário, Diego Pereira de Oliveira. De acordo com ele, nenhum colaborador ficará sem receber os valores devidos.

Para garantir os pagamentos das verbas rescisórias dos colaboradores que fizeram parte do Verão Maior, contratados por nossa empresa, foi realizado um acordo com a Sanepar, onde os valores que teríamos para receber da última medição do contrato serão utilizados pela Companhia de Saneamento para liquidar os valores devidos aos funcionários. O mesmo deve ocorrer no prazo de três dias úteis conforme informado pela própria Sanepar”, informou na sexta-feira (10).

Desta forma, o prazo atualizado para pagamento é até a próxima quarta-feira (15).