Com a participação da comunidade, Iphan conclui obra de conservação da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do Mel


Por Flávia Barros Publicado 28/08/2024 às 11h53 Atualizado 29/08/2024 às 13h25

Foi um ano de superação de desafios, imprevistos que tiveram que caber no orçamento e prazos que se estenderam. Mas, vencidas todas as adversidades, o resultado foi comemorado pelas comunidades da Ilha do Mel, na última sexta-feira (23), com a entrega da obra de conservação da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres. Conforme acompanhou o JB Litoral desde a fase de projeto, os serviços realizados são considerados emergenciais para melhoria das condições de conservação e segurança do conjunto histórico da Fortaleza, que é a única edificação militar do período colonial no Paraná.

O que foi feito

Com o investimento de R$ 642.690,25, recursos destinados via emenda parlamentar da então deputada federal Christiane Yared, as obras começaram em agosto de 2023.

Um patrimônio histórico dessa magnitude, incrustado em nosso patrimônio natural, merece nossa total atenção. É essencial que a sociedade o valorize e, acima de tudo, que seja uma prioridade para aqueles que ocupam cargos de poder. Foi com esse compromisso que, enquanto deputada federal, destinei essa emenda para colaborar na preservação da nossa história“, destacou Yared ao JB Litoral.

Neste um ano, foram realizados serviços de recuperação da Casa de Guarnição e revestimento interno das muralhas e das prisões. Além disso, também foram feitos trabalhos arqueológicos e instalada uma nova biblioteca no ambiente recuperado da Casa de Guarnição.

O nosso foco, realmente, foi a recuperação da Casa de Guarnição, que estava em condições precárias, com vistas a receber a biblioteca. Como os recursos e o tempo eram limitados, optamos por fazer as obras sem projeto, o que trouxe consequências, mas todas contornadas, com a união e apoio da comunidade”, disse Sandra Correa, arquiteta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Reforçamos o telhado, recuperamos todas as paredes internas, fizemos a troca do piso e a recuperação dos banheiros da Casa de Guarnição. Foi feita também a reparação de todo o revestimento das muralhas na parte chamada de cortina interna, que é a parte interna da Fortaleza e das prisões”, detalhou Sandra, durante a cerimônia de entrega das obras.

Comunidade participou do processo

Um dos pedidos da população da Ilha do Mel atendidos pelo Iphan foi o de não fechar a Fortaleza durante a execução das obras e pesquisas arqueológicas. Os portões da edificação, declarada patrimônio histórico, ficaram abertos durante todo o tempo, com visita de estudantes e da comunidade, que também recebeu palestras e aulas práticas sobre a Fortaleza, com atividades de educação patrimonial nas escolas.

A arquiteta do Iphan destacou o exemplo de como a participação dos moradores foi fundamental para montar a biblioteca na Fortaleza. “Não tínhamos como trazer o mobiliário e o Jean Valentim, barqueiro da comunidade, disse: ‘a gente traz gratuitamente, porque é para as nossas crianças, é para o nosso povo’, e esse é um dos exemplos do apoio e do envolvimento dos moradores”, pontuou Sandra Correa.

O morador Alcione Valentim, 55 anos, vive na ilha desde que nasceu e era um dos moradores presentes na entrega das obras. “Ficou muito bonito. Nós precisamos preservar o nosso patrimônio, pois é a nossa história e, quanto mais preservada ela é, mais atrai turistas também e movimenta a nossa economia“, afirmou ao JB Litoral.

A biblioteca

A ideia que nasceu como uma sala de leitura, em 2009, agora foi materializada. A biblioteca instalada na Casa de Guarnição é aberta ao público e o acervo tanto pode ser apreciado no local quanto os livros podem ser retirados para leitura em casa.

Aqui temos obras desde as específicas do acervo do Iphan, voltadas para o Patrimônio Histórico, mas também temos o acervo geral, com literatura infantil e adolescente. Agora, queremos aumentar esse acervo para torná-lo mais atrativo, ter o que chamamos de literatura de lazer”, disse a bibliotecária e servidora do Iphan, Joana Coradi.

Mais cultura

Durante a solenidade de entrega das obras de conservação, também foi aberta a exposição Paisagens Caiçaras, com material colaborativo feito por comunidades tradicionais de todo o território caiçara, no qual o Litoral do Paraná está inserido. Foram lançados, ainda, o catálogo da exposição e o Plano de Conservação da Fortaleza, ambas publicações do Iphan.

A cerimônia também contou com a presença do presidente do Iphan, Leandro Grass, que enalteceu a importância da conclusão das obras. “Não tem como o lugar ser bom para o turista se ele é ruim para quem mora nele. A Ilha do Mel, que é tão visitada, que lá em Brasília as pessoas comentam que é maravilhosa, linda, fantástica, se não for boa para quem vive nela, não tem como ser boa para os turistas. Por isso que é tão importante ter a recuperação do patrimônio. Estão todos de parabéns”, disse Grass.

Ainda falaram aos presentes a superintendente do Iphan no Paraná, Fabiana Moro Martins; o prefeito de Paranaguá, Marcelo Roque (PSD); e representantes das comunidades tradicionais.

Única edificação militar do período colonial no Paraná, a Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres foi tombada pelo Iphan em 1939 e é um dos atrativos mais visitados da Ilha do Mel. O conjunto arquitetônico abrange a Casa de Guarnição, o Paiol de Pólvora, o corpo central da Fortaleza e, no topo do Morro da Baleia, uma bateria de canhões do início do século XX.

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