Com bloqueios na Estrada da Graciosa, comerciantes locais já tiveram perda de 70% nas vendas durante a temporada
Desde o final de novembro, a Estrada da Graciosa (PR-410), rodovia que liga Quatro Barras (Região Metropolitana de Curitiba) às cidades de Antonina e Morretes, tem passado por transtornos. Deslizamentos de terra ocasionados pelas chuvas interditaram a via que, até hoje, ainda não foi totalmente recuperada.
No dia 29 daquele mês, a estrada foi interditada completamente, em seus dois sentidos. Apenas 21 dias depois, em 20 de dezembro, a via foi parcialmente liberada, com a operação pare-e-siga e bloqueio diário das 18h às 7h.
Contudo, na noite de 3 de janeiro de 2023, a rodovia voltou a ser totalmente bloqueada depois de um novo deslizamento de terra. Apenas no dia 11, após mais uma semana de bloqueio, é que ela foi liberada.
Depois, no dia 23, foi novamente interditada devido à queda de uma árvore. Mas o material foi retirado da pista rapidamente e a rodovia foi liberada, novamente no sistema pare-e-siga, nos mesmos moldes anteriores, ainda sem previsão de volta à normalidade.
Pela Estrada da Graciosa passam inúmeros turistas ao longo do ano, que encontram centenas de comércios que sobrevivem desse movimento. É durante a temporada que os comerciantes tentam arrecadar ao máximo, pois é quando conseguem uma reserva financeira para se manterem durante o restante do ano. Desta forma, caso os meses de baixa temporada não tenham um movimento expressivo, eles não enfrentarão grandes problemas. No entanto, como nesta temporada isso não aconteceu, as famílias estão muito apreensivas, já que não terão esse saldo de caixa.
Dificuldades para os comerciantes
Quem passa pela via encontra a região de São João da Graciosa, em Morretes, onde há mais de 80 comércios preparados para o atendimento. A presidente da Associação dos Comerciantes e Moradores do São João da Graciosa, Margarete Marcelino, fala sobre as dificuldades geradas pelo bloqueio durante a temporada.
“Os comerciantes se prepararam, alguns tinham um dinheirinho e investiram nos seus comércios, fizeram pintura, trocaram mesa, compraram móveis, utensílios de cozinha, reformaram seus quiosques, esperando trazer mais conforto para o cliente e agilidade no seu trabalho, porque entendemos que, mesmo que o turista esteja de passagem e curtindo, ele quer agilidade no atendimento, não quer perder tempo esperando. Mas estamos passando por um período bastante crítico por conta das interdições”, diz ao JB Litoral.
Margarete revela que a expectativa dos comerciantes para o verão 2022/2023 estava muito alta, já que de 2021 a 2022 a pandemia de coronavírus atrapalhou o movimento turístico. No entanto, as condições climáticas pegaram a todos de surpresa.
“Tivemos essa infelicidade de vir essas chuvas e quedas de barreira, que realmente pegou muita gente de surpresa. Temos uns 80 comércios na região do São João da Graciosa entre pousadas, quiosques, restaurantes, artesanato, comida regional etc. São cerca de 300 famílias que vivem do turismo, que não têm outra fonte de renda, então isso gerou um impacto muito grande”, comenta.
Queda de 70% nas vendas
Com a estrada enfrentando tantos problemas, a presidente da associação conta que os comerciantes locais têm passado por momentos de desânimo. Para ela, quando há a incerteza sobre os lucros, os trabalhadores começam a sofrer com pressão psicológica e emocional.
“As famílias já tiveram muitas perdas e a situação é delicada. Os comerciantes investiram em mercadorias, em mais funcionários, mas precisaram demitir, porque não tinham como manter. Eu, particularmente, entendo que 50% da temporada já foi perdida e, além disso, tivemos uma queda de, aproximadamente, 70% nas vendas. Então os comerciantes não têm uma perspectiva muito positiva até o final da temporada”, lamenta Margarete.
A expectativa das famílias de comerciantes do São João da Graciosa é que a economia volte a girar, que os turistas desçam ao Litoral pela estrada, e que voltem a fomentar os comércios locais. “A nossa região é muito rica. Eu falo que a Estrada da Graciosa não precisa de propaganda, ela se autossustenta, é maravilhosa. Além das paisagens, cachoeiras etc., aqui temos caldo de cana, pastel, pamonha, coxinha de aipim, barreado, artesanato, que é procurado durante o ano inteiro, mas não tanto quanto durante o verão”, diz a presidente da associação.
Ela faz um apelo para que o Poder Público tenha um “olhar mais atencioso para a estrada”. Em seu ponto de vista, a Graciosa necessita de obras de manutenção, não apenas emergenciais, com o intuito de evitar que novos deslizamentos e/ou bloqueios voltem a acontecer.
Comerciantes há mais de 30 anos
Uma das famílias que possui comércio na região da Estrada da Graciosa é a de Gilton Dias Junior. Há mais de três décadas eles trabalham com a venda de produtos regionais, artesanatos e alimentação.
Ele confirma que a temporada de 2022/2023 tem sido complicada, já que, desde as chuvas do final de novembro, a estrada tem sofrido com diversos deslizamentos de terra e a pista cedeu, acarretando na interdição total que durou algumas semanas.
“Na prática, não houve temporada e os prejuízos estão se acumulando. Além do prejuízo de quem possui comércio, esses estabelecimentos empregam muitas pessoas que dependem do fluxo turístico para sustentar suas famílias, então é um efeito cascata e toda a população da região da Graciosa acaba sofrendo com a situação”, lamenta.
Falta de informações e demora para a resolução dos problemas
De acordo com Gilton, o que mais tem sido motivo de indignação e preocupação da população neste momento é a falta de informações concretas e ações rápidas para a resolução dos problemas. “Neste último deslizamento, houve uma demora de mais de uma semana somente para realizar análise da situação da pista. Enquanto isso, a população estava sem nenhuma informação ou estimativa de prazo”, comenta.
Assim como Margarete, ele também pede por um olhar mais atencioso do Poder Público pela Estrada da Graciosa. “É importante mencionar, também, que a estrada acaba sendo tratada, muitas vezes, com menor prioridade em relação às outras regiões do litoral paranaense. Não há manutenção preventiva das encostas ou monitoramento, além de que a cada ano a manutenção da rodovia é apenas paliativa. Não há projetos estruturais para recuperar os recantos, valorizar a região e torná-la mais atrativa. Sinto que falta reconhecimento da importância turística e, até mesmo, logística, já que se trata de uma importante via de acesso, ligando o Litoral a Curitiba”, finaliza.
O que diz o DER-PR
O JB Litoral procurou o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR), que cuida da Estrada da Graciosa, para questionar a respeito da manutenção preventiva e monitoramento da via, bem como sobre projetos para recuperação e valorização da região. No entanto, até o momento, não houve retorno.