De resgate em locais de difícil acesso na Serra do Mar a emergências clínicas, afogamentos e traumas; conheça o serviço aeromédico recordista que atua também no Litoral


Por Flávia Barros Publicado 15/01/2024 às 21h47 Atualizado 06/02/2024 às 14h39
|

Na tarde desta segunda-feira (15), o helicóptero do Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA) atuou em duas situações, aqui no Litoral. No primeiro caso, foi realizado o transporte de uma paciente de 71 anos, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), da UPA Praia Grande, em Matinhos, para o Hospital Regional do Litoral (HRL), em Paranaguá.

Logo em seguida, foi realizada a remoção de uma mulher de 56 anos, com suspeita de infarto agudo do miocárdio, da Ilha do Mel também para o HRL. Situações em que a agilidade do helicóptero é fundamental para a vida das vítimas.

No final da tarde desse domingo (14), um outro chamado em que a atuação da aeronave faz toda a diferença: o resgate de vítimas em altura. Montanhistas acionaram o Corpo de Bombeiros para situação de resgate em montanha no Pico Marumbi, em Morretes, a uma altura de 1.539 metros, um pouco mais de 5.000 pés de altura.

Segundo informações repassadas pelo BPMOA, uma pessoa teria subido a montanha, entrado em exaustão e estava incapacitada de continuar caminhando. Ela foi retirada do local pelo helicóptero Falcão 08, assim como as demais situações desta segunda.

Serviço bateu recorde

Exemplos como esses ilustram o levantamento divulgado nesta segunda-feira (15) pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Segundo os dados, o serviço aeromédico do Paraná realizou 4.003 atendimentos em 2023, numa média de 10,97 atendimentos por dia. Foi um recorde desde o início do serviço, há 16 anos. Ele é 16% superior ao recorde anterior, batido em 2022, com 3.452 atendimentos. O resultado também é 41% superior a 2019 (2.833 atendimentos), 40% a 2020 (2.853) e 31% a 2021 (3.041).

Desde sua implantação, o serviço aeromédico fez 28.047 atendimentos, ajudando a salvar vidas de vítimas de acidentes, casos de emergência clínica, como infarto e AVC, de recém-nascidos que precisam de UTIs, entre outros, além de transporte de órgãos para transplante.

O atendimento é operado pelo Sistema Estadual de Regulação de Urgência e suas respectivas centrais. O serviço do Paraná é referência nacional, considerando o número de aeronaves, a capacitação dos profissionais e, principalmente, porque é o único coordenado e operado exclusivamente para atendimentos de saúde, sendo acionado por médicos reguladores via sistema de Urgência e Emergência sempre que há indicação clínica de gravidade e necessidade.

“Time” do ar

O transporte é feito por seis helicópteros e um avião que ficam em cinco bases (localizadas em Curitiba, Cascavel, Londrina, Maringá e Ponta Grossa) escolhidas estrategicamente para garantir a cobertura de 100% do Estado com o serviço. As aeronaves são tripuladas por pelo menos um piloto, um médico e um enfermeiro. O serviço é autorizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e segue as diretrizes dispostas no Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) nº 90.

O serviço aeromédico, uma das iniciativas do atendimento pré-hospitalar, é um hospital sobre asas transportando cidadãos e fazendo a diferença na vida dos paranaenses”, diz o secretário estadual da Saúde, Beto Preto. “Esse serviço foi ampliado pelo Governo do Estado e agora registramos o maior número de atendimentos da história. Essa é a orientação do governador Ratinho Junior, para que possamos investir e fazer o que for possível para salvar vidas”, completa.

Foto: BPMOA

Cada um no seu quadrado

Cada base de helicóptero é responsável por uma área de atendimento de até 250 quilômetros do seu ponto de origem, com voos de até duas horas de duração para possibilitar ida e volta sem a necessidade de reabastecimento. Atualmente todo o Paraná é coberto por cinco bases aeromédicas. Em Curitiba, ficam alocados dois helicópteros, um da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e um do Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas do Paraná (BPMOA), além de um avião da Sesa. Cascavel, Londrina, Maringá e Ponta Grossa contam com um helicóptero cada, contratados pela Sesa junto à empresa Helisul. As equipes médicas e de enfermagem são disponibilizadas pelos Samus Regionais.

Além destas, durante o Verão Maior Paraná, o Governo do Estado também disponibiliza mais uma aeronave com base em Matinhos para dar suporte aos atendimentos no Litoral paranaense, numa parceria entre a Sesa e Secretaria de Estado da Segurança Pública.

Quanto custa?

Todos os serviços aeromédicos do Paraná são financiados com recursos da Sesa. Anualmente, o contrato dos helicópteros de Cascavel, Londrina, Maringá e Ponta Grossa, e do avião alocado em Curitiba, prevê um investimento de até R$ 85,5 milhões, dependendo do uso durante o período. A secretaria também repassou, somente no ano passado, R$ 13,5 milhões pelo Fundo Estadual de Saúde para o BPMOA, além de custear as equipes médicas do Samu, que prestam os atendimentos aeromédicos, num montante de R$ 4,3 milhões em 2023.

História

Quando foi implantado no Estado, em agosto de 2007, o serviço aeromédico do Paraná contava com apenas um helicóptero da PRF, com equipe e equipamentos médicos da Sesa, em parceria com o Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) de Curitiba. Era coordenado pelas forças militares e atuava diretamente apenas no atendimento e remoção de vítimas de trauma.

Em 2014 houve a ampliação do serviço com a inclusão de aeronaves próprias da Sesa, de um avião em Curitiba e um helicóptero em Cascavel, com equipes médicas e equipamentos para todo tipo de atendimento: além do trauma, emergências clínicas, infartos, AVCs e neonatos. Outra novidade foi que passou a ser acionado diretamente pelas Centrais de Regulação Médica de Urgência do Complexo Regulador do Estado.

Em 2016 houve a implantação de helicópteros em Londrina e Maringá e, em 2018, em Ponta Grossa – completando assim a frota atual do Serviço Aeromédico do Estado, no modelo assistencial que é mantido até hoje. Em 2017, mais uma evolução: o serviço passou a contar com uma equipe médica em voo.

O diretor de Gestão em Saúde da Sesa, Vinícius Filipak, responsável pela coordenação do Serviço Aeromédico da Sesa, foi o primeiro médico a integrar o atendimento no Paraná. Prestes a completar 40 anos de profissão, ele tinha 46 anos de idade quando voou pela primeira vez para um resgate aeromédico no Estado, em 2007. Na época, Filipak integrava a equipe médica do Siate e voava com um piloto e um enfermeiro da PRF para auxiliar na remoção de pacientes de trauma em Curitiba e Região Metropolitana (RMC).

Um dos primeiros pacientes foi um montanhista com fratura exposta na Serra do Mar. Por ser um local de difícil acesso, o helicóptero realizou um serviço que demoraria muitas horas se fosse por via terrestre”, conta.

Um caso que também me marcou foi de um paciente que sofreu um acidente de trânsito muito grave na RMC e teve uma parada cardíaca. Ele estava em estado crítico e se o atendimento demorasse cerca de cinco minutos a mais, ele não teria sobrevivido, o que só foi possível graças à atuação coordenada de todo o Sistema de Urgência, iniciando pelo helicóptero até a chegada ao hospital capacitado para o atendimento correto do paciente”, lembra o diretor.

*Com informações da AEN e do BPMOA