Depois de 26 anos, Ilha da Cotinga recebe novo posto de saúde para atendimento dos indígenas


Por Luiza Rampelotti Publicado 07/12/2022 às 13h25 Atualizado 17/02/2024 às 23h23

A primeira unidade de saúde da Ilha da Cotinga, em Paranaguá, foi inaugurada em 1996, construída pelo Rotary Club Gralha Azul e administrada pela Funai e representantes rotarianos. No entanto, o local não funcionou por muito tempo devido à falta de recursos e, há anos, os indígenas residentes na ilha estavam sem uma unidade de saúde.

A situação só foi transformada na manhã de sexta-feira (2), quando a Prefeitura de Paranaguá inaugurou a nova Unidade Básica de Saúde (UBS) reformada e ampliada. A partir de agora, a população indígena será atendida no local por meio do Distrito Sanitário Indígena (DSEI) com apoio da Secretaria Municipal de Saúde.

Até então, os moradores da Ilha da Cotinga precisavam se deslocar até o continente em situações de urgência e emergência. A cacique da aldeia Tekoa Takuaty, Juliana Kerexu, comenta que, atualmente, o atendimento médico básico é feito pela equipe de saúde da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) rotineiramente. Ela conta que um médico vai até o local de 15 em 15 dias, e as enfermeiras e dentistas vão uma vez por semana.

Eles vêm atender, olhar as crianças; temos uma gestante também aqui na aldeia. Mas se for emergência a gente tem que ir para a UPA, na cidade, e daí é todo um movimento, porque não temos trapiche e dependemos muito da maré. Se tiver maré seca, por exemplo, e o caso for urgente, tem que ir pelo mangue mesmo, fazer a trilha. É dessa forma que a gente tá fazendo”, diz ao JB Litoral.


Local específico para atendimento


Com a nova unidade, a Ilha da Cotinga passa a contar com um local específico e próprio para o atendimento médico. “É com muita alegria que entregamos a unidade de saúde para a comunidade indígena na Cotinga. Ampla e moderna, a obra trará grande benefício ao povo que reside naquela ilha”, diz o prefeito Marcelo Roque (Podemos).

O valor do investimento foi de R$ 611 mil, com saldo remanescente do programa federal Saúde Indígena. O novo posto conta com consultório médico, sala de vacina, consultório odontológico, sala de enfermagem, entre outras repartições com um ambiente mais confortável para o atendimento dos pacientes.

A Ilha da Cotinga abriga duas aldeias indígenas: a Tekoa Takuaty, formada por seis famílias, totalizando 27 pessoas, e a Pindoty, com cerca de 53 indígenas da etnia Guarani e Mbya Guarani, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). Ou seja, a Cotinga é a residência de, aproximadamente, 80 indígenas.

Agradeço a todos em nome da comunidade que tem essa cultura milenar e que vive nesta aldeia. Vemos com alegria essa unidade reformada e ampliada que será de muita ajuda a comunidade indígena e todos que residem na Cotinga”, comenta o cacique Dionísio Rodrigues, da aldeia Pindoty.


Posto de saúde foi o primeiro passo, indígenas têm mais necessidades


A chefe do Escritório Regional da Funai, Caroline Willrich, relembra que desde que começou a trabalhar na região, em 2016, o antigo posto já estava abandonado. Desta forma, como já citado, os indígenas precisavam se deslocar de barco até o continente, em Paranaguá, ou eram atendidos precariamente na escola local ou em outros espaços da aldeia.

Agradeço a comunidade por todo esse trabalho e esforço. Precisamos valorizar essa comunidade e temos muito o que aprender com eles. Todas as conquistas dos povos indígenas são com muita luta e o povo sonhava com isso há muitos anos. Hoje é um dia de vitória”, destaca Caroline.

Ao JB Litoral, ela conta que a inauguração do posto foi a primeira conquista, dentre outra série de necessidades, da população indígena local. Apesar da nova unidade de saúde, os índios continuarão vinculados ao Sistema Único de Saúde para consultas com especialistas e exames, por exemplo, sendo oferecido na Cotinga apenas atendimento básico, vacinas e serviços de odontologia.

Ainda vamos precisar melhorar o atendimento, mas já foi um grande passo! Estamos todos muito felizes, é o primeiro posto de saúde em aldeias do Litoral do Paraná. Porém, o ideal é o atendimento diário, visitas mais frequentes de um médico, já que, por enquanto, será mais de enfermeiras e técnicas de enfermagem. Mas a primeira etapa era ter um local de atendimento, e foi bem feito. Agora fica mais fácil reivindicar as melhorias, uma delas básica, que é a energia elétrica. No momento, a ilha só tem um gerador e precisamos de energia, de preferência cabeada, já que as placas solares atendem apenas as necessidades mínimas por conta da legislação da Aneel. A energia elétrica é muito importante para garantir as geladeiras com vacina e será a próxima etapa a ser conquistada”, conclui.