Diretor da 1ª Regional de Saúde fala sobre as condições do setor no Litoral
A 1ª Regional de Saúde do Paraná, sediada em Paranaguá, conta com um novo diretor há quase um ano. José Carlos de Abreu, servidor de carreira da Secretaria de Estado da Saúde (SESA) há 39 anos, foi nomeado em 11 de março de 2019 para o cargo, pelo secretário da Saúde Beto Preto. Em entrevista ao JB Litoral, Abreu falou sobre a atual situação da saúde nas sete cidades da região.
A princípio, o problema mais urgente diz respeito ao Hospital Estadual Lucy Requião de Mello e Silva, em Guaraqueçaba, que vem sendo alvo de críticas devido à falta de embarcações para realizar o transporte interhospitalar entre o município e Paranaguá, onde se localiza o Hospital Regional do Litoral (HRL), referência para a região. Até este domingo (01), as remoções necessárias estavam sendo feitas por meio do helicóptero do Batalhão de Polícia Militar de Operações Aéreas (BPMOA), que atuou no litoral durante a Operação Verão.
De acordo com Abreu, o transporte de pacientes em situação de urgência e emergência deveria ser feito pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), porém, existe dificuldade, devido às barreiras físicas, especialmente de acesso por via terrestre, em integrar o município ao serviço. “Essa é uma lacuna que está na cidade desde a instituição do SAMU, mas o Governo dará uma resposta à população em curto prazo. Nesse momento, passamos por uma crise decorrente das dificuldades que o município enfrenta, pois só existe uma lancha para o transporte marítimo, mas temos um olhar para isso e estamos buscando a solução”, explica.
Embarcações adquiridas em 2016
Em 2016, a cidade adquiriu cinco ambulanchas compradas pela prefeitura com recursos do Estado. Além disso, também comprou nove barcos para transporte e remoção de pacientes que necessitam de atenção de saúde, de acordo com o Governo. No entanto, atualmente, a saúde conta com apenas uma embarcação para realizar o transporte de pacientes, uma vez que as outras estão paradas devido à falta de manutenção.
O diretor da 1ª RS relembra que, quando os recursos para a aquisição de barcos foram repassados, pela gestão anterior, não foi realizado um estudo para compreender todas as questões locais. “Ou seja, os barcos não eram adequados para as condições de navegabilidade do canal, os motores eram de pequena potência e havia problemas de velocidade de deslocamento. Foram pontuadas várias situações que mostraram a necessidade de um estudo mais adequado para definir o perfil desses barcos”, diz. “Reconheço que o município, que já tem dificuldades de arrecadação, não pode sustentar sozinho o custeio das embarcações, mas o Estado pagava parte do combustível utilizado”, completa.
Anteriormente, o Hospital de Guaraqueçaba fazia o uso compartilhado com o município de uma lancha para o transporte dos pacientes em situação de urgência e emergência. “Mas o Executivo argumenta que, nesse momento, há outras necessidades do uso da lancha, o que impede a estrutura de atendimento dedicada ao hospital. Estamos discutindo uma forma de assumirmos o transporte emergencial dos pacientes, pois, hoje, o Estado não tem uma embarcação”, afirma.
Maternidade no 2º semestre de 2020
A respeito do Hospital Regional do Litoral, ele conta que a unidade está passando por uma grande transformação. “Temos uma gestão profissional e competente, e isso nos anima muito. É o 6º maior hospital público do Paraná, e está sofrendo uma remodelação no seu modo de funcionar”, diz.
Abreu informa que, assim que passou a chefiar a 1ª RS, encontrou no HRL um prédio recém-reformado, mas com necessidades de complementação de algumas obras de arquitetura e infraestrutura, o que incluía a maternidade. “Mas na hora de executar essas obras, encontramos dificuldades, pois, apesar de o Estado ter adquirido o hospital em 2004, em um leilão público, não tinha sido efetivada a transição formal da propriedade da antiga Santa Casa para o governo e o prédio sofreu um sequestro para cobrir dívidas trabalhistas. Isso já foi resolvido e essas obras estão em fase final”, revela.
Com a conclusão das obras, a previsão é de que a nova maternidade passe a funcionar ainda neste ano, a partir do início do segundo semestre. “Estamos realizando adequações, por exigência da lei, e trabalhando para dar agilidade a essas reformas para inaugurar a maternidade”, diz.
Ele explica, ainda, que a mudança da maternidade permitirá uma reorganização dos espaços internos do hospital e, ainda neste ano, será ampliado o número de leitos tanto da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal quanto da UTI geral. “A nova administração do hospital conseguiu complementar o atendimento com a contratação de alguns serviços que são fundamentais para o porte do hospital. Nós tínhamos dificuldades, por exemplo, pela ausência de profissionais, em manter nefrologistas e neurologistas, e isto está superado”, comenta.
Outra novidade é o estudo para o oferecimento de cirurgias de caráter eletivo no hospital. De acordo com Abreu, este é um pedido do governador Ratinho Júnior e o objetivo é avançar na oferta deste serviço.
HRL em rede com hospitais municipais
Apesar de existir apenas dois hospitais sob gestão do Estado no Litoral, em Paranaguá e em Guaraqueçaba, as demais cidades, exceto por Pontal do Paraná, contam com hospitais municipais. Estes também recebem investimentos do Estado e, segundo José Abreu, a intenção é que o HRL trabalhe em rede com as unidades hospitalares municipais. “O Hospital Regional se relaciona diretamente com os demais hospitais do litoral. Por exemplo, com o trabalho em rede, vamos começar um grande movimento em relação ao atendimento das gestantes da região. Em Matinhos, queremos microregionalizar a maternidade, que tem um grande potencial. Já em Guaratuba, o governo investiu R$ 1.5 milhão para a construção da nova maternidade municipal”, diz.
Além disso, a SESA também investe recursos no hospital de Antonina e outra discussão atual é sobre a vocação e segmento que terá o hospital de Morretes. “Isso tudo faz parte da reorganização da rede de assistência hospitalar do litoral, que terá impacto no resultado que a gente vai oferecer em curto prazo para a população no Hospital Regional do Litoral”, conta.
Baixa cobertura vacinal
Com a emergência do retorno de doenças infectocontagiosas, que já haviam sido superadas, como, por exemplo, o sarampo e a febre amarela, Abreu se preocupa com a baixa cobertura vacinal no litoral, uma vez que, segundo ele, a população não tem procurado os postos de saúde para realizar a vacinação. “O risco de sarampo e de febre amarela está nos cercando. A ação efetiva contra uma epidemia é a vacinação. No ano passado, tivemos um óbito por febre amarela, mas a população não procura o posto de saúde para se vacinar”, afirma.
Ele relembra que em sua profissão, farmacêutico químico, especialista em Saúde Pública, foi um dos responsáveis por ajudar no desaparecimento de algumas dessas doenças há mais de duas décadas. “Ficamos 20 anos sem ter sarampo, 25 anos sem casos de poliomielite no Paraná, mas temos o risco do retorno, pois o vírus está circulando. Nos anos 80, a maior dificuldade era dizer para as pessoas que as doenças matavam, e tivemos sucesso. O que as motivava a ir se vacinar é saber que a doença matava. Hoje, a população mais nova não conhece estes vírus, não acredita que elas existem e podem matar. Mas, somente no Paraná, já são 835 casos de sarampo, corremos o risco de uma explosão da doença em todo o país caso não haja vacinação”, explica.
Dengue e Coronavírus no litoral
A situação da dengue é outra preocupação no litoral do Paraná. Até o último boletim divulgado pela SESA, na quarta-feira (26), já havia 14 casos confirmados da doença na região, e mais de 36 mil em todo o Estado. “É importante chamar a atenção da população para o fato de que temos um alto índice de infestação intradomiciliar dos mosquitos, e é fundamental a participação do cidadão no enfrentamento dessa doença. 90% dos focos que contaminam as pessoas estão dentro de suas próprias casas”, diz.
Por isso, é tão importante o cuidado e atenção com os locais que mantenham água parada: ralos, vasos, garrafas de refrigerante, eventuais materiais sem uso, entre outros.
Para ele, o coronavírus também é motivo de atenção no litoral, especialmente devido ao Porto de Paranaguá, que reúne condições favoráveis para a entrada de infectados na cidade. “Essa é uma doença que já chegou ao país e precisamos substituir o medo e pânico pelas medidas de segurança. No Porto de Paranaguá, o limite é o mundo, e por aqui recebemos um conjunto enorme de pessoas de várias partes do planeta”, afirma.
Porém, Abreu destaca as ações de segurança contra a doença, realizadas pelos Portos do Paraná. “Temos que louvar a ação do porto, pois foi um dos primeiros a rever o protocolo para eventualmente receber pacientes com suspeita e dar o encaminhamento. O porto e os serviços de saúde do litoral estão muito vigilantes e preparados para receber qualquer caso suspeito”, tranquiliza o diretor da 1ª RS.Ele dá, ainda, uma boa notícia, que é a informação de que na China, epicentro da doença, o vírus está em uma curva descendente. “Como é um vírus novo, as pessoas não têm uma memória imunológica que as proteja em um primeiro contato. Então, práticas de cuidados higiênicos como lavar a mão, evitar a dispersão de saliva, entre outros, são fundamentais. Na China, as medidas higiênico-sanitárias se mostraram muito eficientes, já que os novos casos estão diminuindo”, afirma.