Idosa pede ajuda ao JB Litoral: para não ter mais a casa invadida pelo esgoto, construiu até barricada no portão, em Antonina


Por Flávia Barros Publicado 16/02/2023 às 19h36 Atualizado 18/02/2024 às 04h58

Imagine o que é passar quase 50 anos tentando resolver um problema que bate à porta de casa e ver, gestão após gestão, que ele não é solucionado. Essa é a indignação da pensionista Geaneci dos Santos, 77 anos, que viu os pais morrerem sem conseguir realizar o sonho de não ter mais a casa invadida pelo esgoto toda vez que chove um pouco mais forte (ou nem isso), em plena região central de Antonina. Com uma vasta “coleção” de protocolos repleta de pedidos para a instalação de manilhas e limpeza da valeta (onde corre esgoto a céu aberto bem perto da entrada da casa da família), e todas as contas de água e IPTU pagas, a idosa recebeu a reportagem na tarde da última sexta-feira (10).

A família adquiriu a casa em 1976, com a esperança de que a valeta – que fica nos fundos da Estação Ferroviária, em pleno Centro da cidade – fosse um problema solucionado pela Prefeitura. “Infelizmente, somente a nossa casa fica defronte à linha férrea e com acesso pelo fundo do terreno; as demais têm sua frente para a rua Bom Jesus. Algumas dessas residências têm encanamento que cai direto na valeta“, disse.

Cansada de ter a casa invadida pelo esgoto, a idosa perdeu a entrada da garagem para construir uma mureta que impede a entrada da água suja. Foto: Kaike Mello / JB Litoral

Dona Geaneci também explica que a valeta é uma continuação da rede que vem da principal rua da cidade, e que receberia até o esgoto do hospital. “Quando vem a chuva a situação complica, pois todo o lixo de esgoto para em nossa casa, principalmente em nosso quintal e, muitas vezes, dentro de casa. Muito complicado isso“, lamentou a idosa.

A pensionista já perdeu as contas de quantas vezes pediu à Prefeitura a canalização do esgoto e a limpeza da valeta. Foto: Kaike Mello / JB Litoral


TENTATIVAS


A dona da casa explicou, ainda, que a família já conseguiu, por conta própria, algumas manilhas, mas elas não teriam dado conta da vazão da valeta. “Vamos atrás dos prefeitos e nada. Esse é o quarto ou quinto que procuramos e a resposta que sempre ouvimos é que a solução dessa valeta ‘está no projeto’. Que projeto é esse que nunca acaba?”, questionou.

Cansada de tanto ir à Prefeitura pedir a canalização do esgoto e a limpeza da valeta, a pensionista vai acumulando protocolos, mas não deixa de pagar todas as contas em dia. Triste e com os boletos de água e IPTU quitados, a moradora mostra a mureta construída com tijolos, ao longo de todo o portão. “Fica difícil até de entrar em casa, mas só assim para parar de ter minha casa invadida por aquele monte de sujeira“, contou Geaneci, que mandou construir uma espécie de barricada há quase dois anos e perdeu a entrada da garagem, pois agora o carro não passa.

Eu não estava aguentando mais. Chegava a chorar com toda a sujeira que descia de lá e invadia a casa, quase perdi um sofá que tinha acabado de comprar. E também tem o mato; tem meses que o mato fecha tudo aqui na frente e temos que mandar limpar. Não me conformo com isso acontecendo no Centro da cidade“, relatou.

Dona Geaneci não estaria nem mais sendo recebida pelo prefeito de Antonina, José Paulo Vieira Azim (PSD). “Já conversei com ele tantas vezes, mas, ultimamente, ele já nem quer me receber. Toda vez que vou procurá-lo, ele está viajando, está fora em reunião, mas o carro dele sempre está lá. Basta querer que isso aqui se resolve“, finalizou a moradora.

A pensionista já perdeu as contas de quantas vezes pediu à Prefeitura a canalização do esgoto e a limpeza da valeta. Foto: Kaike Mello / JB Litoral


SEM RESPOSTA


Está em tramitação na Vara Cível de Antonina desde 2021, atualmente em fase de instrução, o processo em que o Ministério Público do Paraná cobra a “implementação completa dos serviços de saneamento básico, utilizando-se o sistema separador absoluto, no Município de Antonina, com obtenção das devidas licenças ambientais, sanitárias, de segurança e urbanísticas e rigorosa obediência, nos termos da Lei nº 4.150/1962 e às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)“, diz trecho do documento a que o JB Litoral teve acesso.

Caso o processo leve à condenação do Município, os problemas da Dona Geaneci podem estar, finalmente, perto de acabar.

O JB Litoral solicitou esclarecimentos à direção do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto de Antonina (Samae) e à Prefeitura de Antonina, mas, até o fechamento desta edição, não obteve respostas.