Instituto Palazzolo: um raio de esperança na periferia de Paranaguá – histórias de amor, solidariedade e transformação


Por Luiza Rampelotti Publicado 23/02/2024 às 16h18

Quatro irmãs e duas funcionárias mantém o Instituto funcionando, além de outros 30 voluntários. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral
Quatro irmãs e duas funcionárias mantém o Instituto funcionando, além de outros 30 voluntários. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

Em meio às ruas simples do Jardim Esperança, que abrigam moradores que desafiam inúmeras adversidades, está o Instituto Palazzolo, um raio de esperança que leva uma história de amor, dedicação e solidariedade para diversas comunidades. Desde 1991 em Paranaguá, a entidade religiosa sem fins lucrativos, que tem a declaração de Utilidade Pública, atende pessoas em situação de vulnerabilidade social, com a missão de acolher aqueles que mais necessitam, especialmente nas periferias da cidade.


Da periferia à dignidade


Quando chegaram em Paranaguá, as Irmãs dos Pobres desbravaram as periferias, começando no Morro da Cocada, na Vila do Povo e na Vila Esperança. Naquela época, a irmã Apoline Trezub, junto a outras religiosas, criou a Pastoral da Criança, que tinha o objetivo de formar mulheres para a liderança.

Mulheres simples, provenientes das comunidades, passavam por capacitação, elevando significativamente a autoestima, e formando outras. Elas dedicavam-se ao cuidado das grávidas locais, em um esforço minucioso que, efetivamente, contribuiu para a redução da mortalidade infantil. Posteriormente, a metodologia da Pastoral da Criança foi integrada às unidades de saúde, ampliando ainda mais seu impacto positivo.

Hoje, sediado no Jardim Esperança, o Instituto Palazzolo atende a 80 famílias em situação de vulnerabilidade social, cuidando de aproximadamente 250 crianças e seus familiares. Um centro pastoral que vai além das estatísticas, abraçando vidas e escrevendo histórias de superação.

Cada família recebe uma cesta básica por mês, mas o Instituto não se limita a isso. Sua atuação é multifacetada, proporcionando palestras sobre saúde, educação e temas relevantes. Oficinas de artesanato, bijuterias, panificação, manicure e pedicure, chinelos decorados, pedrarias e outras habilidades visam não apenas oferecer sustento, mas também fortalecer a autoestima e fomentar a independência financeira das pessoas atendidas.

O Instituto Palazzolo fica na Rua das Perdizes - Jardim Esperanca, em Paranaguá. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral
O Instituto Palazzolo fica na Rua das Perdizes – Jardim Esperanca, em Paranaguá. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral


Construção de vínculos


Profissionais voluntários, como pediatras, médicos osteopatas, psicólogos e advogados, oferecem seus serviços regularmente. Mas é na construção de vínculos que o Instituto deixa sua marca mais profunda. “Quando você constrói vínculo com as pessoas, elas se sentem alguém, sabem que tem alguém a quem recorrer como uma segunda família“, compartilha a Irmã Maria Gazia Leidi, que dirige o Instituto junto com outras três irmãs.

O projeto atende áreas como Jardim Esperança, Vale do Sol, Vila Garcia, Rio da Vaca, Rio das Torres, Jardim Paraná, Porto Seguro e a Comunidade São Luís Palazzolo. Além disso, mantém uma colaboração estreita com o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). 

Nas comunidades atendidas, a carência de infraestrutura é evidente; muitas famílias se viram obrigadas a ocupar espaços sem regularização, vivendo à margem da legalidade, pois só ali conseguiram encontrar um canto para sobreviver. “Muitas pessoas lutam muito para ter uma condição melhor. E nas visitas, a gente se emociona com a resiliência dessas pessoas. Apesar do trabalho árduo, a recompensa é imensa ao testemunhar alguém emergir da vulnerabilidade social, ressurgindo com a esperança renovada”, conta a Irmã Maria.

Ela revela que, embora muitas vezes não consigam solucionar todos os problemas das famílias atendidas, a simples declaração de “estamos aqui, junto com você, compartilhando de suas dores” carrega um significado profundo. “Jesus de Nazaré tocava as pessoas, se fazia próximo, ouvia, então esse também é o nosso trabalho. Sentimos em nós a dor, as lutas, as alegrias daquelas pessoas que a sociedade deixa de lado”, diz.


Generosidade é o que sustenta o Instituto


Para ingressar no programa, é requisito que os beneficiados apresentem toda a documentação em conformidade, incluindo a vacinação das crianças e a comprovação de acompanhamento regular nos serviços de saúde. Caso alguém não disponha de documentos, o Instituto oferece apoio na sua elaboração.

São quatro dedicadas irmãs e 30 voluntários os pilares que sustentam o Instituto. Para manter o projeto em funcionamento, é necessário o apoio de doações.

A generosidade de algumas empresas, que frequentemente nos presenteiam com alimentos, é um alicerce essencial. No entanto, a dinâmica das doações é imprevisível, e é por isso que mantemos um bazar permanente. Nesse espaço, oferecemos roupas cuidadosamente higienizadas e, se necessário, reformadas, todas em excelente estado de conservação e com preços acessíveis à nossa comunidade”, explica a Irmã Maria.

A renda gerada por esse bazar é direcionada para auxiliar famílias em diversas necessidades, como a compra de medicamentos, pagamento de contas de água e luz, entre outras urgências. Além disso, os voluntários dão vida nova a brinquedos usados, após uma minuciosa higienização e transformação, possibilitando que sejam adquiridos por valores simbólicos.

Queremos estimular o desenvolvimento individual e a conquista de autonomia financeira para cada pessoa que assistimos. Como uma entidade pequena e sem recursos públicos, cumprimos nossa missão com amor e dedicação”, explica a Irmã Maria.


Desafios financeiros


Atualmente, o Instituto Palazzolo enfrenta desafios significativos, especialmente no que diz respeito às despesas fixas essenciais para a manutenção da estrutura física do projeto, como material de limpeza, contas de água, luz, gás, gasolina, monitoramento, papelaria, entre outros. A Irmã Maria avalia que obtenção de doações regulares destinadas a essas despesas seria de imenso auxílio para enfrentar esses obstáculos.

Participamos da Feira da Partilha em três ocasiões, o que nos permitiu angariar recursos. Esses fundos foram direcionados para a reforma da nossa cozinha e aquisição de materiais essenciais para as pessoas envolvidas em nossas oficinas. Ao capacitá-las a iniciar suas próprias atividades, garantindo o material para que possam confeccionar e vender o que aprenderam, observamos um aumento na autoestima dessas pessoas”, destaca a irmã.


Entrega e renúncia


A Irmã Maria, nascida na Bélgica (Itália), traz consigo uma jornada de entrega e renúncia. Assim como a maioria das jovens de sua época, ela estudava, namorava e sonhava em construir uma família.

Apesar de ser de uma família católica, eles não praticavam a religião com assiduidade. Sua vida, até então imersa em uma realidade agnóstica, sofreu uma reviravolta após um luto impactante na família, que a levou a questionar o propósito da vida.

Aos 66 anos, a Irmã Maria Gazia Leidi dirige o Instituto junto com outras três irmãs. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral
Aos 66 anos, a Irmã Maria Gazia Leidi dirige o Instituto junto com outras três irmãs. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral

Apesar de não sermos abastados, eu tinha tudo. E foi a vida, na verdade Deus, que me conduziu a um retiro espiritual transformador; três dias de intensa oração onde a presença divina se fez profundamente evidente”, relembra.

Após a experiência, ela largou seu trabalho, seu namorado e foi em busca de uma congregação; foi quando encontrou a Congregação Irmãs dos Pobres. “Eu tinha 20 anos quando iniciei na congregação, estudei, fiz teologia e comecei a atuar na Itália com crianças que iam para adoção. Hoje tenho 66 anos“, revela a Irmã Maria.

Sua vocação missionária a trouxe ao Brasil aos 30 anos, e desde 2000 ela se dedica a Paranaguá. “Amo muito esta cidade, me sinto parnanguara. Estou muito inserida na comunidade, consegui estabelecer laços pois é um município onde todos se conhecem”, diz.

No entanto, a irmã não é apenas uma figura religiosa; ela é um testemunho de compaixão e empatia. “Hoje já não tenho tantas forças como antigamente, mas sempre o mesmo entusiasmo de colaborar para que o mundo se torne um pouquinho melhor. Se cada um fizer a sua parte, vamos conseguir“, expressa ela com esperança.

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