Litoral vacinou apenas 55% das crianças na campanha contra a poliomielite; baixo índice acende alerta para possível retorno da doença


Por Luiza Rampelotti Publicado 11/10/2022 às 14h51 Atualizado 17/02/2024 às 19h08
Bebês de 2, 4 e 6 meses recebem o imunizante via injeção intramuscular. Foto: Sesa

A 1ª Regional de Saúde do Litoral, que engloba os 7 municípios da região, vacinou apenas 55% das crianças até 5 anos na Campanha Nacional Contra a Poliomielite (ou paralisia infantil), que aconteceu de 8 de agosto a 30 de setembro em todo o Brasil. Os dados foram divulgados na última segunda-feira (3).

O índice ficou abaixo da média estadual, 67%, e nacional, 58%, e acende um alerta, dado pela Organização Pan-Americana de Saúde, a respeito da possibilidade do retorno da enfermidade, que já foi erradicada no Brasil em 1989. Em 1994, o País conquistou o certificado de eliminação da doença, mas o vírus continua presente em outros países, aumentando a necessidade de medidas preventivas.

Realizada anualmente, a campanha contra a pólio busca alcançar crianças menores de 5 anos que ainda não foram vacinadas com as primeiras doses do imunizante, aplicado aos 2, 4 e 6 meses de idade via injeção intramuscular, e incentivar a aplicação da dose de reforço, que ocorre por meio da conhecida gotinha.  No entanto, apesar de a ação ter sido encerrada, as doses permanecem à disposição em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS), já que fazem parte do calendário vacinal e podem ser aplicadas durante o ano todo.


Antonina superou a meta


A cidade do Litoral que mais vacinou contra a poliomielite foi Antonina, que conseguiu bater a meta de 100% e alcançar ainda mais crianças. A expectativa era de imunizar 1.057 crianças, mas, na verdade, foram vacinadas 1.132.

Segundo o IBGE, o número de crianças é de 1.057, mas nem sempre está correto, além disso, vacinamos crianças de outras cidades, que entram na contabilidade de Antonina. Por isso ultrapassamos os 100% e isso é motivo de muita alegria”, explica o secretário municipal de Saúde, Odileno Garcia.

Em seguida, Guaratuba foi o outro município que mais vacinou, com 86% das doses aplicadas. A meta era vacinar 2.290 crianças, mas apenas 1.977 receberam a imunização.

Depois, Morretes também se destacou ficando acima da média no índice de cobertura vacinal. A expectativa era vacinar 993 crianças, mas foram 848 as que receberam o imunizante, isso representa 85%.

Guaraqueçaba foi outra cidade que teve um resultado considerado bom; 80% das 491 doses destinadas à campanha foram aplicadas, isto é, 393 crianças receberam a vacina.


Paranaguá e Pontal vacinaram apenas 41%


O restante dos municípios não chegou a 50% da cobertura vacinal do público alvo, exceto por Matinhos, que obteve exatamente esse resultado. Na cidade, 1.020 das 2.035 doses destinadas à campanha foram aplicadas.

Já Paranaguá e Pontal do Paraná tiveram o pior resultado; foi 41% em ambas as cidades. Em Paranaguá, a expectativa era vacinar 9.901 crianças, entretanto, apenas 4.090 receberam a imunização. Já em Pontal do Paraná, que deveria imunizar 1.535, somente 632 crianças foram vacinadas.

Além disso, em Paranaguá, por exemplo, as faixas etárias de 2 e 3 anos tiveram ainda menos adesão. Na faixa de 2 anos, somente 29% do público alvo foi atingido, o que representa 766 crianças; já nas de 3 anos, o número é ainda pior, apenas 26% do total esperado foi imunizado, isto é, 689 crianças.

De acordo com a diretora de enfermagem da secretaria municipal de Saúde, Miriam Simão, a meta era de vacinar pelo menos 95% das crianças até 5 anos. “A baixa cobertura nos últimos anos é preocupante. Também registramos baixa adesão para outras vacinas. Precisamos manter o país livre de doenças que podem ser prevenidas com elas. Os pais ou responsáveis precisam se atentar aos riscos e levar as crianças para as doses necessárias”, comenta.

Vale destacar que, mesmo com o término da campanha, prefeituras têm liberdade de continuar realizando aplicações caso ainda tenham doses remanescentes.


Vacinas salvam vidas


O JB Litoral falou com a enfermeira Marta Maria Heck Andreola, atuante no programa de imunizações da Vigilância Epidemiológica da 1ª Regional de Saúde. Ela comenta que a cobertura vacinal está muito baixa, e que isso significa que a população, de modo geral, não possui o esquema vacinal completo, com todas as doses necessárias de uma vacina para atingir uma imunidade desejável.

Com isso, corremos um grande risco de reviver doenças que já foram extintas graças à criação dessas vacinas e a adesão da sociedade durante várias décadas, como a poliomielite, causada pelo vírus que provoca a paralisia infantil. Antes da existência da vacina, na década de 50, a doença deixou milhares de crianças com graves deficiências no mundo inteiro”, ressalta.

Ela relembra que, recentemente, em agosto, Nova York, nos Estados Unidos, declarou estado de emergência para evitar a propagação do vírus, pois teve um caso confirmado da doença. Com isso, a enfermeira comenta que o mundo inteiro está preocupado com a exposição dos países com baixa cobertura que podem ter, novamente, a circulação da doença, já que se corre o risco de importar o vírus, que pode se multiplicar rapidamente.

A vacinação é a única arma contra o vírus e é muito importante para nossa proteção e de toda sociedade. Informações seguras e de qualidade são encontradas em sites do Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais da Saúde. Por favor, não acreditem e nem compartilhem informações de fontes duvidosas, isso prejudica a adesão das pessoas que têm dúvidas. As vacinas são gratuitas, disponíveis a todos. Vacinem seus filhos, familiares, se vacinem. E incentivem as pessoas que vocês amam a se vacinarem também, vacinar é um gesto de amor. Vacinas salvam vidas”, conclui a enfermeira.


Pais podem responder criminalmente


Desde 2018, a carteira vacinal atualizada é exigida nas escolas de todo Paraná, sejam públicas ou privadas, no ato da matrícula do aluno. A determinação foi imposta pela Lei 19.534/2018, que considera a saúde coletiva tendo em vista a queda nas coberturas vacinais.

Além disso, responsáveis por crianças que não receberam a vacina contra a poliomielite no Paraná poderão ser responsabilizados criminalmente, de acordo com o Ministério Público do Paraná (MPPR). O promotor de Justiça Ângelo Mazzucchi Santana Ferreira explicou que, além de responder pelo crime de infração de medida sanitária preventiva, o responsável poderá responder também por crime contra a criança.

Se ele não vacinar, nós teremos como levar isso ao conhecimento das promotorias que atuam em crimes contra a criança. Se ainda assim resistir, podem ser adotadas outras medidas indenizatórias”, explicou Ferreira em entrevista à RPC.