Moradores do Litoral podem andar de Maria Fumaça por preço especial a partir de domingo (11)


Por Luiza Rampelotti Publicado 06/09/2022 às 17h35 Atualizado 17/02/2024 às 16h48
maria fumaça

Do próximo domingo (11) até o dia 6 de novembro, os moradores do Litoral poderão aproveitar o passeio de Maria Fumaça, em Antonina e Morretes, por um preço especial. A tarifa custará R$ 35 com transfer incluso.

A campanha “Trem para o Caiçara”, da Agência de Desenvolvimento Cultural e do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur Litoral) e da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) pretende integrar os moradores dos 7 municípios da região para comemorar os aniversários de Antonina e Morretes, respectivamente em 12 de setembro e 31 de outubro.

Os valores dizem respeito ao ingresso por pessoa e será necessário apresentar comprovante de residência. A saída da Estação Ferroviária de Antonina é às 9h e da Estação de Morretes às 16h30. A volta de transporte rodoviário para a cidade de origem está inclusa.

Para dar um gostinho de como é o passeio de Maria Fumaça, o JB Litoral conversou com Alcimar Meira Gonçalves, chefe de trem, que atua na locomotiva desde que os passeios voltaram a acontecer, em novembro de 2020.

Sou a pessoa que bate o sino dando a autorização para o trem sair, confiro os bilhetes durante a viagem”, se apresenta Alcimar.

Revivendo o passado

Alcimar é o chefe de trem. Ele quem conta sobre as histórias da ferrovia aos passageiros. Foto: Arquivo pessoal/Alcimar Meira Gonçalves

Ao longo do trajeto de 16 quilômetros no trecho da ferrovia Dona Isabel, entre Morretes e Antonina, a Maria Fumaça – batizada de Trem Caiçara – passa pelo meio da Mata Atlântica, cruzando rios e área de mangue. A viagem dura cerca de 1 hora e o chefe de trem vai contando algumas histórias dos tempos passados.

As pessoas de mais idade no trem se lembram de seus pais, seus avós nas viagens. Lembram das paradas na Estação de Banhado, de Morretes. É muito fascinante e consigo ver o brilho no olho de quem passa pelo trem. O apito da Maria Fumaça remete ao passado e tem pessoas que até choram emocionadas durante o passeio”, conta Alcimar.

A locomotiva a vapor que está em atividade é a mais antiga do país ainda em operação. Ela é de 1884 e foi fabricada na Filadélfia, nos Estados Unidos.

O mais interessante é que até mesmo a Maria Fumaça tem história com o Litoral. É que ela foi a primeira locomotiva comprada para a ferrovia Paranaguá – Curitiba, e ficou em operação até 1950. Várias gerações andaram nela e hoje podem reviver o passado.

Na época em que a locomotiva entrou em operação, trabalhou na Rede Ferroviária Federal até 1954 e, depois, em 1965, quando foi comemorado os 80 anos da ferrovia Paranaguá – Curitiba ela passou por uma manutenção para fazer os passeios comemorativos. Depois, somente em 2018 é que ela foi toda desmontada para ser restaurada para o projeto do Trem Caiçara, que liga as cidades de Antonina a Morretes”, explica Alcimar.

Mantendo a história viva

A Maria Fumaça consegue transportar até 150 pessoas nos 3 vagões da composição, que são de fabricação belga dos anos 20, portanto, não espere conforto – é uma viagem ao passado, embalada ao ritmo lento do trem. Os carros de passageiros têm bancos de madeira e são a oportunidade perfeita para conhecer como as pessoas viajavam de trem muitas décadas atrás.

Dailton Roberto Lopes Polidoro é o maquinista do Trem Caiçara. Ele conta que o sentimento de fazer o trabalho – dirigir um trem – é inexplicável. “Olhar para uma Maria Fumaça de 1884 e ver que ainda está em atividade, a todo vapor, literalmente, é muito emocionante. Às vezes paro e fico olhando para ela, imaginando quantos e quantos já passaram por ali, quantas viagens ela já fez”, confessa.

Dailton é o maquinista da Maria Fumaça. Seu trabalho é operar a locomotiva que só funciona à base de lenha.

Hoje, operando a locomotiva, ele revela que a cada viagem se surpreende com algumas histórias de passageiros que, ao final do passeio, correm na cabine tirar fotos e falar de algum parente que viaja de Maria Fumaça nas épocas de outrora.

Inclusive, já me emocionei com um senhor de idade, na casa de seus 80 e poucos anos que, quando soube que tinha uma Maria Fumaça em funcionamento, fez questão de pedir para a família levar ele para o passeio. Como a maioria dos passageiros, ao fim da viagem ele foi até a locomotiva me contar sobre o passado com seus pais e avós com lágrimas nos olhos. São cenas como essa quem me incentivam a fazer de tudo para manter a história viva”, comenta.

Ele explica sobre o funcionamento do trem: primeiro, tem que haver a queima da lenha para ferver a água que irá gerar o vapor, que é o combustível da Maria Fumaça. “Não tem mais nada que faça ela andar a não ser a queima da lenha, nem motor, nem diesel, nem gasolina, nada, apenas a lenha”, conclui.