“Nas Linhas com a Família”: mães atípicas de Paranaguá encontram apoio e renda em projeto ofertado pela Escola Eva Cavani


Por Cleverson Teixeira Publicado 27/03/2024 às 07h45
Um dos objetivos do projeto é criar uma rede de apoio entre as mães
Um dos objetivos do projeto é criar uma rede de apoio entre as mães. Foto: Juliana Leandro/Semedi

O projeto “Nas Linhas com a Família” surgiu da necessidade de gerar renda e uma rede de apoio às mães dos alunos matriculados na Escola Professora Eva Tereza Amarante Cavani, em Paranaguá. Com a ajuda da Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF) e patrocínio da Fospar S.A – empresa de fertilizantes do município parnanguara – são realizadas aulas de artesanato, tanto nas terças quanto nas quintas-feiras, das 14h às 16h. A instituição de ensino fica localizada na Rua João Estevão, S/N, no Centro Histórico.

Especializada em deficiência intelectual, a Escola Eva Cavani atende 275 estudantes, com idades entre 9 e 71 anos. Atuando na Cidade Mãe do Paraná há 55 anos, ela oferece dois níveis de ensino, o Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Porém, desde o dia 15 de março de 2024, início do projeto, começou a ofertar, também, encontros que levam renda, esperança e alento aos familiares desses alunos.

A diretora da instituição, Patrícia Martins da Graça, conversou com o JB Litoral. Ela descreveu a importância dessa ação para a comunidade escolar, a qual contará com atendimentos psicológicos durante as reuniões.

“São duas mães que estão se voluntariando para ensinar as atividades de artesanato. Além disso, teremos encontros com psicólogos, para fazer essas rodas de conversa. Será um período em que essas mães vão conseguir falar de si, fazer trocas entre elas. É um momento que se faz necessário. Elas precisam disso para olharem para si”, afirmou Patrícia.

De acordo com a organização, somente as mães integrantes do projeto “Nas Linhas com a Família”, um total de 25, serão atendidas pelos psicólogos. Não há limite de vagas para participar dos encontros, destacou a diretora Patrícia Martins. “A psicóloga vai passar as terças e quintas, no mesmo horário, das 14h às 16h. Ela vai atender as mães que estão participando do projeto. A quantidade de vagas é livre. Uma metade dos atendimentos ficará para terça e a outra para a quinta-feira”, pontuou.

Verônica ensina a confeccionar os artesanatos
Verônica ensina a confeccionar os artesanatos.Foto: Juliana Leandro/Semedi

Bem-estar da família


A ação social, promovida pela escola e grupo de pais, leva em consideração não somente as necessidades dos alunos, mas também as dificuldades enfrentadas pelos responsáveis por esses estudantes. “Desde que entrei na escola, percebi que precisamos olhar o aluno, mas, para olharmos o aluno, precisamos tratar a família,pois ela também tem que estar bem para conseguir levar os estudantes. Eles são especiais e necessitam de um tempo de dedicação, principalmente da mãe, que, além de tudo, tem que cuidar da casa e fica sobrecarregada”, ponderou a diretora.

Devido a esse tempo dedicado aos cuidados dos filhos, muitas mães atípicas (termo que remete à mulher que cuida de pessoas com deficiência) não conseguem trabalhar. Esse é o caso da artesã Rosalba Maria da Silva Rodrigues, a qual tem uma filha com Síndrome de Down, de 18 anos, matriculada na Escola Eva Cavani.

“Há muitas mães que nem saem de casa, porque não têm com quem deixar o filho, não têm como trabalhar. Então, em uma tarde, aqui, com outras pessoas, elas vão trocar ideias e passar as experiências delas na conversa. Além de tudo, terão uma renda. Isso aqui é muito importante”, ressaltou.

Rosalba tem uma filha de 18 anos com Síndrome de Down
Rosalba tem uma filha de 18 anos com Síndrome de Down. Foto: Juliana Leandro/Semedi

Caminho aberto pelo crochê


Por meio das mãos atentas, as linhas e pontos dão forma a um novo meio de se entrosar e a um lugar para entender que a força está, justamente, nas experiências semelhantes de cada uma dessas mães.

Jucimara Aparecida Mendes, mãe de duas crianças com autismo, viu no crochê a oportunidade de aprender algo novo. Iniciante nessa modalidade de costura, ela evidenciou a importância do projeto. “Eu achei bem interessante, é muita criatividade. É a primeira vez que estou fazendo crochê. Consegui com a ajuda delas. Isso é muito bom, porque qualquer mãe que está aqui aprende com a outra, seja no desenvolvimento ou na conversa”, afirmou.

Ela também comentou sobre o fato de não conseguir um emprego por conta da rotina que leva com os seus filhos. “Não consigo trabalhar devido aos dois. Eles são totalmente dependentes. Com esse projeto, dá para trabalhar de casa”, concluiu Jucimara Aparecida.

Já outra mãe, que também conversou com o JB Litoral, é uma das responsáveis por ajudar as demais mulheres a aprender a confeccionar bordados, bolsas e outros revestimentos. Nesse primeiro momento, além de ter compartilhado a sua história de vida, Verônica Moreira Ramos explicou o porquê da utilização do crochê para dar forma aos objetos.

“Como o crochê está na moda, resolvemos começar o projeto com ele. Sempre procurei fazer cursos, para poder ensinar e ajudar, pois sempre gostei do mundo das crianças especiais. É uma coisa que me faz feliz porque eu sofri muito. No começo, tive muita depressão. Eu não aceitava a deficiência do meu filho”, relatou a mãe de um jovem de 21 anos, com autismo severo.

É a primeira vez que Jucimara tem contato com o crochê
É a primeira vez que Jucimara tem contato com o crochê. Foto: Juliana Leandro/Semedi

Fospar e feiras


Vale destacar que todos os materiais para a confecção dos artesanatos serão doados pela Fospar, bem como o serviço da psicóloga também será patrocinado pela empresa. Além disso, as produções serão expostas e comercializadas em feiras da cidade de Paranaguá. “Elas vão poder explorar as próprias confecções por meio da exposição de feiras. Estaremos, a partir do mês que vem, na Feira de Inclusão, e tentaremos participar da Feira da Lua, onde montaremos a barraca, uma vez por mês”, concluiu a diretora da Escola Professora Eva Tereza Amarante Cavani.

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