Nos 100 anos da Estação Ferroviária de Paranaguá, conheça seu Joaquim, que trabalhou e morou no local


Por Luiza Rampelotti Publicado 07/05/2022 às 17h39 Atualizado 17/02/2024 às 07h54

Neste sábado (07), a Estação Ferroviária de Paranaguá, assim como a conhecemos hoje, completa 100 anos. O prédio histórico relembra os tempos antigos, quando passageiros desciam de Curitiba para o Litoral de trem, contemplando as paisagens da Serra do Mar.

Apesar da comemoração do centenário da Estação, na verdade, ela foi inaugurada em 1883, porém, passou por obras de reforma e ampliação até ganhar as feições atuais. A conclusão da reestruturação aconteceu em 7 de maio de 1922 e a antiga Estação foi incorporada às novas dependências.

Até 2011, a Estação Ferroviária de Paranaguá recebia trens de passageiros que vinham de Curitiba para apreciar as paisagens da descida da Serra do Mar. Depois, devido à falta de interesse do Município, os trens passaram a seguir somente até Morretes.

Em 2004, a Estação passou por uma reforma que teve sua obra concluída em 2006. Porém, em 2015, estava em completo estado de abandono, com o telhado caído, vigas se rompendo, fachada suja, sem portas e janelas, correndo o risco de desabamento, e recebeu ordem judicial para que a prefeitura a reestruturasse.

A reforma foi finalizada em junho de 2020 e o local foi reinaugurado, tendo seus traços originais restaurados, com reconstrução completa do telhado, reabertura de um dos arcos fechados, adaptações de acessibilidade, restauração completa da bilheteria central, biombo de anteparo, entrada dos banheiros, entre outras benfeitorias.

Importância histórica

Alessandro Pires Staníscia é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP) e destaca a importância da Estação Ferroviária para Paranaguá. “Ela comprova a força do desenvolvimento e da importância de Paranaguá no cenário político e econômico. Em 1880, tivemos Dom Pedro II reconhecendo a importância do município e mandando construir a ferrovia Paranaguá – Curitiba. Ele esteve aqui, lançando a pedra fundamental, em 5 de junho de 1880 e, em 1885 a ferrovia estava concluída. Em 1884, tivemos na cidade a princesa Izabel, lançando o penúltimo trecho da ferrovia, que ia até São José dos Pinhais. Ou seja, a Estação simboliza a importância econômica, administrativa, a identidade do povo. Ela se trata de um equipamento público que serve por séculos”, comenta.

Em sua opinião, o maior desafio, agora, é que a população parnanguara resgate e preserve o prédio, ressignificando seu uso. “Tivemos a questão da vacina na Estação, mas por que não trazer nossas crianças e estudantes para conhecer nossa história e saber o que isso representa não só na questão material, mas na história da vida das pessoas? Desta forma, teremos um povo que irá conhecer um pouco mais de Paranaguá e poderá amar e cuidar cada vez mais da nossa cidade”, diz.

Estação Ferroviária será aberta ao público

Para a secretária municipal de Cultura e Turismo, Maria Platin, a comemoração dos 100 anos da Estação Ferroviária marca a relevância histórica do prédio para a cidade. “Não só para a cidade, mas para o Estado e para o País. A Estação trouxe muitos passageiros, cargas, e hoje traz muita história, uma memória afetiva grande através da vacinação. É um marco podermos entregar o prédio totalmente restaurado, útil para a população”, afirma.

De acordo com ela, a Estação funcionará como um espaço de memória e manifestação cultural, recebendo exposições, música e etc. “Teremos o acervo da ferrovia à disposição da população, para entendimento, conhecimento, contemplação e amor. Precisamos ter relação com o nosso patrimônio, que as pessoas amem esses espaços para que elas cuidem. Em breve a Estação estará aberta para abrigar essas manifestações culturais”, destaca.

Estação: trabalho e moradia

Seu Joaquim tem 81 anos e morou e trabalhou na Estação de 1983 a 1992

Seu Joaquim Dias Batista, de 81 anos, é alguém que teve um longo relacionamento com a Estação Ferroviária de Paranaguá. Com isso, construir uma história de amor com o local do qual retirava seu sustento. Ele foi Chefe de Estação e morou no local de 1983 a 1992.

Minha chefia, em Curitiba, me ofereceu para tomar conta da Estação. Eu administrava a Estação, vendia passagem, fazia despacho, atendia o turismo. Tinha muita gente todos os dias nessa época, principalmente argentinos”, relembra.

Ele conta que, naquele período, o trem era o principal meio de locomoção de pessoas carentes, e havia a litorina, que era muito utilizada pelos turistas. “Tinha um trem que chegava de manhã, depois vinha logo a litorina que era para turismo, a tarde tinha a saída da litorina e do trem, subindo de volta para Curitiba. A fila de venda de passagem saía até para fora da Estação. Havia muita procura, porque a passagem era barata e o pessoal mais carente viajava de trem, e tinha o turista que viajava de litorina”, recorda.

Seu Joaquim trabalhou na Estação até se aposentar e lembra que o local sempre foi muito movimentado enquanto ele estava na ativa. Porém, com o passar do tempo, a procura foi caindo. “Cabia muita gente na plataforma e na hora do embarque enchia o salão de espera da Estação. Naquela época, tinha gente todo dia; depois, com o tempo, eles tiraram o trem durante a semana e passou a correr final de semana, até que chegou ao ponto de privatizarem a Estação e deu no que deu”, lamenta.