OCUPAÇÕES NO LITORAL – Estudantes ocupam cinco dos seis colégios em Antonina e dão exemplo de cidadania


Por Redação JB Litoral Publicado 23/10/2016 às 08h42 Atualizado 14/02/2024 às 16h43

Da mesma forma que ocorre em diversas cidades do Paraná, onde estudantes surpreendem o Governo do Estado, além de professores, comunidade e até mesmo pais, os alunos aderiram ao movimento estadual e mantêm ocupadas cinco das seis escolas da rede estadual de ensino na cidade de Antonina. Nesta segunda etapa da reportagem especial a respeito das Ocupações no Litoral, o JB teve acesso aos dois maiores colégios do município, Moyses Lupion na Avenida Conde Matarazzo e Brasílio Machado na área central.

Mesmo distante pouco mais de 50 quilômetros de Paranaguá, o sistema de ocupação dos colégios é praticamente igual, mesmo não havendo interação entre os estudantes. Nos dois colégios o JB constatou idêntico grau de conscientização dos estudantes, diante da política pública na educação, com os antoninenses manifestando igual exemplo de cidadania, seguindo a atitude que ganhou as páginas da história da educação no Paraná.

Até mesmo nas críticas daqueles que são contrários ao movimento, independentemente da idade e segmento, os movimentos nas duas cidades são semelhantes. Alguns estudantes, formadores de opinião e profissionais liberais de todas as áreas foram para as redes sociais e, até mesmo na rádio local, criticaram e descredibilizaram o movimento com argumentos vulgares. O comentário vai desde a bagunça, como motivação do movimento, até o uso do colégio para festas, utilização de drogas e sexo, sem que nenhum deles sequer tenha ido a uma ocupação para ver o que realmente acontece.

A reportagem do JB teve acesso às ocupações e constatou que em Antonina ocorre como em Paranaguá, ou seja, a mesma seriedade, sistematização e determinação dos estudantes que investem em medidas idênticas de segurança.

A única diferença entre as duas cidades é que, nas ocupações dos dois colégios, as comissões são formadas por todos os estudantes os quais dividem as tarefas e a organização nas atividades, inclusive pedagógicas, como palestras, algumas sobre a reforma do ensino médio, PEC 241, aulões para o ENEM, oficinas, atividades esportivas, culturais e até mesmo serviços de reparos do mobiliário, pintura e limpeza. Veja como foi a visita nas duas ocupações.
 

Colégio Moyses Lupion
 

A reportagem foi recebida pelos estudantes Isabele Martins, Aline Bandeira, Carlos Eduardo e Ângela Cruz, uma vez que os demais alunos seguiram com a tarefa de pintura e jardinagem no acesso interior do colégio.

De acordo com Isabele, a ocupação começou por ela, Ângela e Aline, e hoje conta com cerca de 10 a 20 alunos, que ficam internos, inclusive no final de semana e até no feriado, onde dividem todas as tarefas. Existe uma agenda de atividades diárias as quais incluem esportes, como vôlei e futsal, e pedagógicas, inclusive com o aulão do ENEM aos sábados e o cultivo da horta, e no domingo oficina de hip hop.

Os estudantes contaram que, apesar de estarem cientes do grave problema na educação, no primeiro dia não conseguiram explicar aos demais alunos o que estava ocorrendo e, por esta razão, amanheceram estudando a MP e a PEC 241. Eles procuraram saber mais sobre o assunto para então explicar melhor aos colegas. Agora todos defendem que os estudantes que não estão na ocupação são desinformados e não sabem o que está acontecendo, e por isto adotam o discurso, que os ocupantes do colégio consideram mentiroso e caluniador de “festas e drogas”.

                              “Eles falam, mas não vêm aqui ver o que está acontecendo, nos criticam no facebook, mas em momento algum, vieram ao colégio saber o que está acontecendo e por que estamos fazendo isto”, explica Isabele.

 

Apoio total dos pais
 

Sobre a opinião dos pais, Isabele disse que sua mãe apoia bastante e que sua irmã está na ocupação do Brasílio Machado. “Ela diz que tenho que lutar pelo que acredito”, observa Isabele. Porém, seu pai, que não mora com ela, é contra seu envolvimento e chegou ao ponto de tentar tirá-la da ocupação. Ela conta que a situação deu até em polícia e que foi muito tenso no dia, porém, hoje a estudante lembra e acha engraçado o ocorrido.

O estudante Carlos também confirmou que tem o apoio dos pais, por eles entenderem que os alunos podem estar sendo prejudicados agora e as consequências virão no futuro e será muito pior.

                                    “A minha irmã está no oitavo ano e será a primeira turma a ser prejudicada,por isto temos que lutar por ela e por todos”, disse Carlos.

Aline comenta que sua mãe ficou preocupada no começo, em razão do que tem visto na TV, por causa da ação da polícia. “Expliquei para ela que não haveria nada disto e agora ela me apoia”, disse Aline. Por sua vez, Ângela disse que seu pai, no início, não gostou da ideia, porque acreditava no que via na televisão. “Agora ele está mais de boa”, disse Aline.
 

Sobre a alimentação, os estudantes disseram que têm recebido muita doação de alimentos de professores, pais e da população, porém, no início foi difícil, mas depois a vice-diretora abriu a cozinha. Eles disseram ainda que há uns professores que são contra a ocupação e apareceram no colégio, mas que foram impedidos de entrar.
 

Colégio Brasílio Machado
 

Na segunda ocupação, a situação é semelhante à primeira visita, assim como em todas as que foram percorridas pelo JB em Paranaguá. A reportagem falou com a estudante do 3º ano, Laisa Carolina, “a Coringa” das ocupações, por ter acesso a todas elas e um trânsito com professores e autoridades.  

Da mesma forma que no Moyses, a comissão é formada por todos os estudantes e que também dividem as tarefas diárias. Pioneira do movimento, Laisa está na sua segunda ocupação, pois começou no Moyses Lupion. A ocupação no Brasílio, explica a estudante, começou na quinta-feira (13) e de forma confusa. No dia, o diretor chegou às 06h e trancou o portão aos estudantes e só abriu às 11h. Logo após foi realizada uma assembleia dos alunos para decidir se ocupavam ou não o colégio, e que contou com a presença do diretor falando sobre o assunto, porém, ele não se colocou nem contra e nem a favor. Aprovada pelos alunos a ocupação aconteceu de forma pacífica e organizada.

Atualmente cerca de 30 de alunos revezam entre quem dorme no colégio e outros que ficam em casa e vêm pela manhã. Há atividades tanto no período da manhã, como no da tarde e também à noite. Pela manhã ocorrem palestras com professores, amigos de pais de alunos, oficinas, aulões, à tarde são realizadas atividades físicas como, pingue-pongue, badminton, filmes, além de oficina de música.

Os alimentos são todos de doações de professores, pais e até mesmo do comércio. No dia da reportagem um feirante levou uma caixa de verduras aos alunos. “Às vezes tem demais e até mandamos para outras ocupações”, disse Laisa.

Os estudantes garantiram que todos os que ocupam os colégios sabem o porquê do movimento e reforçam que não sofreram nenhuma influência de professor e de ninguém, pois ressaltam que o interesse partiu dos próprios alunos. Laisa conta que ouviu uma entrevista na rádio, dos alunos que são contra o movimento, e ficou perplexa com o que disseram.

                       “Eles não sabiam o que é democracia, não tinham conhecimento da PEC, de nada, não tinham argumentos e comentavam apenas que queriam estudar. Teve um que disse que a PEC era boa e aí pensei: misericórdia será que ele leu e PEC inteira? Certamente alguém pode tê-lo influenciado”, disse a estudante, afirmando que eles não querem saber o que está acontecendo.

 

Apoio dos pais

Sobre o apoio dos pais, Laisa comenta que, o que ela faz, é motivo de orgulho para eles. “Eles trabalham na área pública, minha mãe é diretora e meu pai agente 01 e, desde pequena, já tenho este convívio”, conta a estudante.

O estudante Igor disse que sua mãe ficou com um pouco de medo no início, mas depois o apoiou. Por sua vez, Mateus comenta que seus pais ficaram receosos por ser seu primeiro ano no colégio e temiam que isto pudesse afetá-lo no futuro. De acordo com a estudante Carol Martins, que também falou que conta com o apoio dos pais, a ocupação vai ficar firme até que os objetivos em pauta sejam alcançados. 

Além do Moyses Lupion e Brasílio Machado, também estão ocupados o Colégio Estadual Hiram Rolim Lamas no Bairro Alto, a Escola Estadual Professora Maria Arminda e o Colégio Estadual Rocha Pombo, o último a ser ocupado, ambos na área central. Apenas a Escola Altahir Gonçalves, que é municipal e estadual, não foi ocupada.