Oitenta e um alunos da rede pública de Paranaguá participam da pré-seleção do Ballet Bolshoi


Por Luiza Rampelotti Publicado 27/09/2022 às 12h52 Atualizado 17/02/2024 às 18h09

Oitenta e um alunos da rede pública de ensino de Paranaguá participaram da primeira etapa da seleção para futuros bailarinos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, uma das mais importantes instituições de ensino de ballet no mundo. A pré-seleção aconteceu nesta segunda-feira (26), no Teatro Rachel Costa, e o resultado sai nesta quinta (29).

Os estudantes inscritos têm idade entre 9 a 11 anos – 6 meninos e 75 meninas – e buscam conseguir uma das 40 vagas disponíveis para bolsas de estudo na instituição, com início em 2023. Em 22 anos de história no Brasil, esta é a primeira vez que a Escola Bolshoi faz sua pré-seleção no município do Litoral.

O evento é patrocinado pela Cattalini Terminais Marítimos e tem o apoio da Prefeitura de Paranaguá. A empresa firmou a parceria com a instituição em 2021.

Nossa intenção é prestigiar essa importante instituição e, ao mesmo tempo, oferecer aos estudantes a oportunidade de serem incluídos em um processo nacional, valorizando os talentos locais. Nosso compromisso é com o crescimento das nossas atividades com o olhar voltado para a comunidade”, diz Fábio Martins Jorge, controller da Cattalini.

Etapas do processo seletivo

Sylvana é a coordenadora de Produção, Eventos e Audições na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Foto: JB Litoral

Sylvana Albuquerque, coordenadora de Produção, Eventos e Audições na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, explica sobre a seleção. Segundo ela, na primeira etapa, os candidatos não precisavam ter conhecimento em dança, pois foram avaliados pelo potencial para se desenvolverem dentro do método proposto pela escola – o Veganova.

Tivemos exercícios onde avaliamos o conjunto de dados profissionais desse candidato. A somatória desses exercícios irá dizer se ele irá para a próxima etapa ou não, a médico-fisioterápica, que acontece em Joinville, nos dias 7 e 8 de outubro, e avaliará as condições postural, clínica específica e somatotipo. Depois, a última etapa é a artística musical, onde são vistos movimentos específicos da dança clássica, a musicalidade dos candidatos e, ainda, a parte cognitiva através de uma prova de português, matemática e desenho. Todos os estágios da seleção são eliminatórios e, a somatória deles dirá quem serão os próximos alunos da Escola Bolshoi, em 2023”, explica.

Ela informa que os estudantes de Paranaguá estão competindo com candidatos do Brasil inteiro e de países vizinhos – Paraguai, Argentina e Chile – por uma das 40 vagas (20 femininas e 20 masculinas) para bolsas de estudo na instituição. Os escolhidos receberão a bolsa pelos próximos oito anos – período necessário para se tornar um bailarino profissional na Escola Bolshoi.

Sylvana comenta que, antes da pandemia, a média de inscritos era de 110 candidatos por vaga. Entretanto, depois do período, o número caiu e agora a instituição está retomando as seletivas.

Para Angela Bahry, coordenadora de Sustentabilidade da Cattalini, a parceria com a instituição é uma grande oportunidade para que crianças das escolas públicas de Paranaguá possam participar do projeto. “A parceria com o Ballet Bolshoi é muito importante, visto que se trata de uma das melhores escolas de ballet do Brasil e possui foco no atendimento de jovens e crianças de áreas carentes do país, o que vem ao encontro da Política de Sustentabilidade da Cattalini”, comenta.

Sonho de ser dançarino

Uma das crianças que estão sonhando com a oportunidade é o menino Pedro Henrique Silva de Oliveira, de 10 anos, aluno da Escola Municipal Edinéia Marize Marques Garcia. Ansioso com a audição, ele nem dormiu no dia anterior esperando a hora chegar.

A mãe de Pedro, Rafaela Morena França da Silva e Silva, conta que o nervosismo também tomou conta dela nos momentos anteriores à pré-seleção. “Eu não estava nervosa, mas conforme a hora foi se aproximando, comecei a ficar. É que fico preocupada com ele achar que não passou, e tenho que ser o suporte nesse momento, apoiar”, diz.

Ela comenta que o filho adora dançar, passa o dia inteiro gravando vídeos de dança para postar no aplicativo de compartilhamento de vídeos curtos, Tik Tok. O sonho de Pedro, desde mais novo, é ser bailarino.

Pedro Henrique tem 10 anos e está em busca de uma bolsa de estudos na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Foto: JB Litoral

A gente só não teve ainda a oportunidade de colocar ele numa escola de ballet, até fomos atrás, mas disseram que não tinha professor adequado para treinar meninos. Agora que apareceu essa oportunidade do Bolshoi, incentivamos muito e a família toda apoia”, afirma.

Sobre o preconceito enfrentado pelo filho por gostar de dança, “coisa de mulher” no senso comum, Rafaela lamenta que a discriminação ainda exista. “O preconceito está aí, estampado e nítido. Na verdade, ele nunca diminui, parece que só aumenta”, diz.

Apesar disso, a mãe revela que continua incentivando e apoiando o menino a ir em busca de seus sonhos. “Algumas mães já me falaram que balé é coisa de menina, mas eu respondo que é coisa do ser humano, porque quem nasce para o balé, pode ser homem ou mulher. Desde pequeno o Pedro assistia na televisão e dizia que queria ser dançarino, então ele tem dentro dele esse desejo e sempre irei apoiar”, finaliza.