Os 200 anos da Independência do Brasil e o centenário da homenagem parnanguara


Por Flávia Barros Publicado 07/09/2022 às 11h49 Atualizado 17/02/2024 às 16h48

Uma data redonda, de um país ainda ‘jovem’, se comparado às nações milenares do mundo. O Brasil chega aos 200 anos como nação independente, neste sete de setembro de 2022. Mas as lembranças de 100 anos atrás, quando o centenário da independência foi comemorado nos principais pontos do território nacional, ainda estão vivas nas memórias que vão passando de geração em geração.

Quem anda pela rua Joaquim Tigre, no Bockmann, provavelmente nem tenha ideia de quem foi esse parnanguara que dá nome à via e escreveu páginas marcantes da história da cidade. O grande Joaquim Mariano Fernandes, do alto dos seus 2,13 metros de altura, ficou conhecido como Joaquim Tigre e ainda vive na memória dos mais antigos, além dos seus muitos descendentes. Nascido em 21 de outubro de 1869, esse descendente de espanhóis casou-se duas vezes. Ficou viúvo quando tinha 18 filhos, casou novamente e teve mais seis herdeiros, totalizando 24 filhos biológicos e mais oito adotivos, somando 32 filhos.

Há exatos 100 anos, em sete de setembro de 1922, para marcar as comemorações do centenário da Independência do Brasil, Joaquim Tigre e outros 11 companheiros empreenderam uma viagem a bordo de duas canoas a remo de Paranaguá até o Rio de Janeiro. As duas embarcações, a Paraná, comandada por Joaquim Tigre, e a Paranaguá, conduzida por Antônio Serafim Lopes, o Barra Velha, auxiliados por Domingos José Trizani, Virgílio Farias, Manuel Praxedes de Oliveira, José Antônio Ribeiro, Valentim Tomáz, Manuel Carlos Serafim, Olívio Elias e Antônio Gonçalves Rodrigues, partiram do Rio Itiberê, às 15h30 para percorrer as 450 milhas (724 km). O trajeto, apesar de todas as dificuldades, foi percorrido em 16 dias.

Joaquim Tigre e companheiros empreenderam uma viagem a bordo de duas canoas a remo de Paranaguá até o Rio de Janeiro. Foto: Vera Telles/Acervo Pessoal

PREMIAÇÃO E HEROÍSMO

Na chegada ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil, Joaquim Tigre e seus parceiros foram recebidos por Rui Barbosa, pelo Presidente Epitácio Pessoa, além do Presidente do Estado do Paraná, Caetano Munhoz da Rocha e outras autoridades. O Congresso Nacional concedeu a todos a premiação de 200 contos de réis (no retorno ao Paraná receberam mais seis contos de réis). Tigre ocupou funções de Mestre de rebocador de portos, rios e canais, Mestre de chatas; e Mestre de draga e, a partir de 1917, a função de Prático da Barra, também considerado Patrono da Praticagem.

Joaquim Mariano Fernandes ficou conhecido como Joaquim Tigre; considerado patrono da canoagem e da praticagem em Paranaguá, é o bisavô do fundador do JB Litoral, Gilberto Fernandes. Foto: Vera Telles/Acervo Pessoal

Dez anos depois do feito histórico em homenagem ao centenário da independência, em 1932, outro acontecimento entrou para a história. Em um ato heroico, Joaquim Tigre salvou a vida de 155 pessoas, passageiras do navio Maria Matarazzo. A embarcação passou por uma tempestade e, segundo registros da época, praticamente partiu ao meio e encalhou em um banco de areia, nos arredores da Ilha do Mel.

Ele era o meu avô, pai do meu pai. Meu pai também era prático, no dia desse acidente com o navio Maria Madalena meu pai estava atracando um navio em Antonina, junto com outros parentes, todos práticos, quando correram para ajudar na operação do resgate. Meu avô construiu uma jangada de bambu e foi socorrer os passageiros, junto com outros bravos. Estava frio e chovia muito, meu avô adoeceu e morreu de pneumonia três meses depois, aos 56 anos”, contou ao JB Litoral a neta de Joaquim Tigre, Vera Telles.

Guardo com muito carinho os jornais antigos, cresci com meu pai contando as histórias dele, que era um homem de muita coragem e tão importante para a praticagem e a canoagem. Ele originou uma família enorme, temos parentes no Brasil inteiro, principalmente aqui na região, Curitiba, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, contou a neta orgulhosa, que tem cinco filhos e está prestes a ganhar o nono neto.