Parnanguara viaja pela América do Sul em fusca azul herdado do pai


Por Redação Publicado 28/02/2023 às 15h35 Atualizado 18/02/2024 às 05h42

Em 2016, ao ver seu pai, Nortene, enfermo e lamentando por não ter viajado pelo mundo com a esposa e os filhos, Samuel Elias, de 51 anos, tomou uma decisão: viajaria com sua família no Fusca 74 e realizaria em si o sonho do pai.

“Meu pai sempre falava ‘tenho vontade de sair daqui, pegar meu fusca e viajar por aí’. Quando ficou doente, ele conversava comigo e dizia que o maior arrependimento foi não ter cumprido esse desejo, não ter conseguido visitar seus parentes distantes e nem ver a neve”, lembra Samuel.

O Fusca azul 74 foi presente dos filhos em homenagem ao fusca que Seu Nortene possuía quando eles ainda eram crianças. Na infância, Samuel diz que não gostava do carro por ter que limpá-lo todo dia, pois era o mais velho dos três irmãos. Porém, a história mudou de figura e o motorista se apegou profundamente ao carro quando seu pai faleceu em 2016.

“Na última conversa que tivemos, ele me deu uns conselhos bacanas, falou sobre seus arrependimentos. Foi ali que decidi que realizaria o sonho do meu pai”, conta.

Dois anos depois, com a companheira, a filha e o genro, o grupo partiu para a primeira viagem, em direção ao Uruguai, em 2018.

“Planejamos tudo: a rota principal, a secundária, o hotel e as paradas. Tínhamos a meta de rodar 500 km por dia e não viajar à noite. Sair do Rio Grande do Sul para entrar no Uruguai não tem parada, é uma via expressa, então a gente conseguia fazer 700 km num dia. A ideia era sempre ficar três dias em cada capital, daí passamos por Montevidéu, Buenos Aires, Santiago e pelas cidades do interior da Bolívia e Paraguai. Terminamos a rota em Foz do Iguaçu”, explica.

Para fazer o trajeto, a família organizou as funções de acordo com as habilidades de cada um, o que facilitou na hora de pôr o planejamento em prática. A filha ficou com as reservas do hotel, a esposa com as finanças, o genro, que na época já era fluente em inglês e espanhol, desenrolava a comunicação e Samuel era responsável pela parte mecânica e pela direção.

“Eu sempre viajei, fui representante comercial por um bom tempo, tive caminhão e aprendi muita coisa da estrada. Tudo isso ajudou bastante na hora de começar a aventura”, afirma.

De 2018 para cá, a família já conheceu diversos países da América do Sul, visitou cidades das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e planeja conhecer a Patagônia, no extremo sul do Chile, em 2024.

Ao contrário dos mochileiros, Samuel e sua família não venderam tudo e partiram rumo ao desconhecido. O aventureiro é funcionário da TCP e costuma viajar nas férias. “Nossa rota varia de acordo com minhas férias, com o clima, com diversos fatores externos. Em 2020, por exemplo, planejamos ir para o Peru, mas não deu por conta da pandemia, além dos conflitos políticos na Venezuela e no Chile, então decidimos conhecer o Pantanal do Brasil”, relembra.

Durante os anos de pandemia, a família buscava cidades brasileiras com poucos casos de Covid-19 para visitar. Já em 2022, com a diminuição brusca de casos, conseguiram visitar as cidades de Mendonça e Rosário, na Argentina. Na época, pretendiam conhecer melhor o Chile, mas foram impedidos pelo frio rigoroso do país.

“Vamos para a Patagônia no verão de 2024. Lá faz muito frio, mas nessa estação, a neve está fina e a temperatura mais amena”, afirma o parnanguara.

Perrengue na estrada e as lições pelo caminho

Como em toda viagem, a família enfrentou uma série de desafios no percurso. Porém, o terremoto, o alerta de Tsunami, a tempestade e o problema no fusquinha 74, enquanto estavam na Argentina, não foi motivo para barrar o gosto pela estrada.

“Eu tenho amigos que já foram para o Chile, Buenos Aires, tudo de avião. Aí eu pergunto ‘quem saiu mais satisfeito?’. No final, fui eu. Com agências de turismo, locais programados, você não conhece a fundo a região. Mas, eu, posso dizer que toquei, experimentei, que vivi as experiências que esses locais podem proporcionar, sem pressa e sem me prender apenas aos pontos turísticos”, constata Samuel.

“Sem planejamento a gente não faz nada”, foi a primeira lição aprendida ao longo dos anos de viagem. O planejamento, segundo ele, foi a razão pela qual a família conseguiu aproveitar os diversos percursos com segurança e tranquilidade.

“Você não pode seguir a rota que o google te manda, tem estradas seguras, tem estradas melhores, tem paradas onde você pode descansar. Nós imprimimos todo o mapa do percurso e estudamos ele, compramos um chip internacional, instalamos câmera no Fusca, tudo isso é necessário quando se quer viajar”, adverte.

Apaixonado pela vida, ele acredita que todos podem se aventurar na estrada, basta querer e planejar. “Eu tenho um fusca que amo, é de família, e desfruto da vida com ele, esse é o lance. Todo mundo tem férias. Não pode Bolívia? Vai conhecer o pantanal, a Serra Gaúcha, vai na serra de Curitiba, o que precisamos é viver”, diz entusiasmado.

Outras lições que aprendeu pelo caminho é a de que não importa o quão único você seja, sempre haverá alguém semelhante. “Às vezes a gente acha que é exclusivo, mas por aí há muitos outros com os mesmos sonhos, rotinas e objetivos. Quando se percebe essas coisas, você passa a tratar melhor as pessoas e a lidar com as diferenças de uma forma mais positiva”.

Expectativas para o futuro

“O coração alegre serve de bom remédio, mas a alma abatida vai secar até os ossos”, Provérbios 17:22. A frase, que guiou Samuel em todas as suas decisões, se tornou um lema de vida.

“Temos que estar de bem com a vida, manter a saúde e o coração leve. Por mais que passemos por dificuldades, é importante não deixar que os desafios atinjam nossa alma e mudem quem somos”, declara.

Para fazer valer seus princípios, o parnanguara conta que após a aposentadoria, prevista para 2025, planeja atravessar a Rota 66, que liga Chicago, Illinois, a Los Angeles, Califórnia.

O percurso de 3.940 km oferece aos viajantes a oportunidade de conhecer diversos pontos famosos e museus turísticos dos Estados Unidos que contam sobre a história do País. “O sonho de todo aventureiro é cruzar essa rota. Além disso, lá existem muitos apreciadores de carros, assim como eu, então meu Fusca 74 vai ser uma grande atração”, conclui Samuel.

Confira algumas fotos: