Pesquisadora de mestrado europeu faz “raio-x” de árvores nativas da Ilha do Mel; levantamento vai ajudar a combater corte ilegal


Por Flávia Barros Publicado 15/08/2023 às 00h50 Atualizado 18/02/2024 às 20h11

Um cenário perfeito para avaliar de que forma a comunidade se relaciona com a floresta nativa. Assim a pesquisadora Silvia Ureta, de 27 anos, engenheira ambiental da Guatemala, avaliou a Ilha do Mel e analisou 41 dos 97 lotes da Vila Brasília. Silvia foi uma das selecionadas no mundo para fazer o Mestrado em Ciências Florestais Europeias, em renomada universidade finlandesa (University of Eastern Finland – UEF), que possui convênio com a Universidade Federal do Paraná (UFPR).  

O estudo

A mestranda esteve na Ilha do Mel nos meses de junho e julho, quando catalogou quase 300 árvores nativas da comunidade Vila Brasília, na Unidade de Conservação (UC) da Ilha do Mel. O programa de mestrado do qual a estudante participa é realizado de forma integrada por universidades da Alemanha, Áustria, Romênia, França, Espanha e Finlândia, além de programas associados de instituições do Brasil, Canadá e China.

Como parte da grade curricular do programa, os estudantes devem passar por um período de estágio prático de dois meses, podendo escolher entre múltiplos locais de atuação conectados com as entidades parceiras da iniciativa. Silvia foi a primeira mestranda que decidiu fazer o estágio na Ilha do Mel, uma experiência que se tornou viável também pela parceria entre Instituto Água e Terra (IAT) e UFPR.

Eu escolhi a Ilha do Mel porque queria trabalhar a floresta com um enfoque social, já que é importante entender como a dinâmica de humanos pode promover ou interferir na conservação ambiental. E o Brasil foi um dos únicos locais que oferecia a oportunidade de trabalhar o estágio com essa temática”, afirma a mestranda.

A ideia é que a pesquisa de Silvia seja o primeiro passo para a sequência da digitalização das árvores das outras comunidades da ilha. “Nós queremos continuar a parceria com a UEF para trazer mais estudantes nos próximos anos para contribuir com a catalogação digital. A colaboração entre as instituições é algo que fortalecerá ações ambientais executadas pela universidade no futuro”, explica o professor de Engenharia Florestal da UFPR, Renato Robert, um dos responsáveis pelo intercâmbio com a UEF.

Dados do levantamento

A estudante se baseou em um inventário das espécies de árvores existentes na ilha e também em informações das comunidades de moradores da Unidade de Conservação, levantamento organizado pelo IAT. Os 41 lotes analisados foram selecionados por amostragem, com a anuência dos moradores locais.

No levantamento foram registradas as características físicas de cada árvore, como espécie, localização, altura e diâmetro. Depois, nós instalamos em cada árvore uma placa com um número de registro individual, para que seja possível consultar as informações de cada planta de forma digital”, explica Silvia.

Ao final do período de estágio, as informações coletadas pela estudante foram transformadas em uma base de dados que será utilizada pelo IAT para guiar futuras ações de conservação na região. No total, foram catalogadas 299 plantas, o que corresponde a 42% das árvores da comunidade.

Resultados práticos

O engenheiro florestal do escritório regional do IAT do Litoral, Leandro Duarte, também auxiliou na pesquisa. Ele ressalta a importância do estudo para o monitoramento da área.

Por meio desse levantamento, nós vamos poder monitorar a quantidade de árvores na ilha com mais facilidade. Saberemos se elas estão sendo cortadas de forma irregular nas comunidades e a quantidade de espécies que devemos plantar para manter a região sempre arborizada. O futuro da conservação nessas comunidades depende de pesquisas como essa”, defende.

Outro aspecto importante constatado pela mestranda foi a qualidade da conservação da Ilha do Mel. “Ao observar a frequência da vegetação da Vila Brasília, nós avaliamos que a quantidade de árvores na região é similar à da floresta natural, o que mostra que as pessoas estão colaborando para preservar a fauna e a flora locais”, diz.

Além das árvores, Silvia aproveitou o período de estágio para fazer um levantamento sobre a quantidade de animais de estimação presentes na comunidade, já que a proliferação desenfreada deles também pode impactar no meio ambiente.

Nós descobrimos que dos 41 lotes, 16 possuem cachorros ou gatos, e apenas três possuem animais castrados. Os moradores no geral se mostraram interessados em castrar os bichos de estimação, mas acham o processo muito difícil por terem que viajar para outras cidades para encontrar um veterinário. Isso é algo delicado em uma reserva ecológica, porque se não houver um controle teremos muitos animais abandonados, e eles podem impactar o meio ambiente negativamente ao transmitir zoonoses”, alerta Silvia.

Em breve

De acordo com o governo do estado, para colaborar e diminuir o impacto na localidade, o Programa Permanente de Esterilização de Cães e Gatos, mais conhecido como CastraPet Paraná, prevê ações para a Ilha do Mel durante o quarto ciclo do projeto, previsto para começar nos próximos meses. Em três estágios diferentes, o CastraPet já beneficiou 75 mil animais em todo o Estado desde 2019.