Prefeitura de Pontal do Paraná investe na compostagem como caminho para a sustentabilidade


Por Luiza Rampelotti Publicado 29/09/2022 às 18h17 Atualizado 17/02/2024 às 18h21

A sustentabilidade é uma das maiores preocupações da sociedade na atualidade. Ela se baseia em três pilares: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção do meio ambiente.

Além de ser excelente para o ecossistema, os investimentos em sustentabilidade oferecem benefícios para todos. Pensando nisso, a atual gestão de Pontal do Paraná, comandada pelo prefeito Rudisney Gimenes Filho (MDB), o Rudão Gimenes, tem dedicado esforços para executar projetos relacionados a esse assunto.

Uma das principais ações sustentáveis que passou a fazer parte da realidade do município é a rede de compostagem, que envolve toda a comunidade escolar e servidores municipais. Lá, os resíduos vegetais (cascas e sobras de frutas e hortaliças) gerados nas escolas são transformados em adubo orgânico para as hortas das próprias instituições de ensino, oferecendo aos alunos, professores e famílias mais frutas, hortaliças e verduras frescas e saudáveis.

O professor Amarildo Gonçalves é o coordenador do projeto de compostagem nas escolas. Ele conta que a ideia surgiu em 2011, na Escola Especial Municipal Ilha do Saber, onde há o Centro de Equoterapia e, consequentemente, dejetos de cavalos. Porém, apenas neste ano é que a ideia está se expandindo para as outras 21 unidades de ensino municipais.

Estamos implantando a compostagem nas 22 escolas da cidade. Nós passamos em todas as unidades, coletamos os resíduos vegetais e levamos para a usina que fica em Pontal do Sul, e para o Centro de Equoterapia, onde há as composteiras e é feito o processo de transformar o lixo orgânico em composto orgânico de húmus e fertilizante, que é o adubo. Esse adubo, de muito boa qualidade, retorna para as escolas nas hortas”, explica.

A horta da Escola Anita Miró alimenta os alunos e professores da instituição. Foto: Maria Eduarda Soriani

Sete toneladas de resíduos no primeiro semestre


A oficineira Janaína Benato, estudante de agroecologia e que dá oficinas de educação ambiental para os alunos da rede municipal, também comenta sobre o projeto. “Eu recolho os resíduos vegetais na escola e apresento o projeto da compostagem e horta para os outros oficineiros que trabalham com meio ambiente dentro das escolas; mostro como se monta a horta, e eles passam para as crianças. Depois montamos a horta na escola com eles, passo a passo, e acompanhamos durante o processo de crescimento das plantas”, diz.

Os alunos atendidos no município fazem parte da educação infantil e ensino fundamental, ou seja, têm entre 6 meses e, aproximadamente, 14 anos.  Janaína conta que eles adoram a experiência de colocar a mão na terra.

Janaína e Amarildo são os responsáveis pelo projeto da compostagem e horta nas escolas de Pontal. Foto: Maria Eduarda Soriani
Janaína e Amarildo são os responsáveis pelo projeto da compostagem e horta nas escolas de Pontal. Foto: Maria Eduarda Soriani/JB Litoral

Para eles, a horta é um laboratório vivo, fora da sala de aula, então tem todo um conhecimento ali. É o momento de eles desestressarem, trocar a energia densa da sala de aula, onde eles têm que ficar quietos. Eles adoram, é uma diversão e, ao mesmo tempo, estão aprendendo. Na verdade, nós também aprendemos muito com as crianças”, conta.

Apenas no primeiro semestre de 2022, sete toneladas de resíduos orgânicos das instituições educacionais foram levadas para a compostagem. Isso significa que todo esse volume não foi para o lixo, beneficiando, ainda, o meio ambiente.


Despertando consciência ambiental nas crianças


A oficineira destaca que o intuito de a maior parte do trabalho ser realizada nas escolas, junto com professores e estudantes, é despertar a consciência ambiental em cada um. “Eles nos auxiliam na separação dos resíduos, depois na montagem da horta e, então, no cultivo. Assim que tiver uma composteira dentro da escola, as crianças vão aprender como composta e levar isso para suas casas, para a comunidade. Quando isso acontecer, as sete toneladas de resíduos que levamos seis meses para compostar serão feitas em muito menos tempo, porque toneladas de resíduos vegetais não serão jogadas no lixo, pois as famílias também estarão separando”, reflete.

Para funcionar, o projeto precisa do apoio de todos os envolvidos no âmbito escolar, desde os diretores, professores, até os estudantes e cozinheiras. Rosângela da Silva Rosina Oliveira é cozinheira na Escola Municipal Ezequiel Pinto da Silva há 18 anos; ela auxilia na separação dos resíduos vegetais.

Aqui na escola a gente já vinha há um tempo trabalhando isso, porque temos a nossa própria horta. Então, quando esse projeto começou, passamos a dividir nosso material: damos a metade para a usina de compostagem e a outra fica conosco. A experiência tem sido ótima, porque vemos que o pouquinho que cada um faz, resulta em muita diferença lá na frente. Não é só para cultivar uma horta, mas é para o meio ambiente também, porque é menos lixo, menos coisas que serão descartadas”, conta.

Horta nas escolas


A Escola Municipal Professora Anita Miró Vernalha é uma das instituições que tem sido bastante beneficiada com o adubo produzido nas usinas de compostagem. A coordenadora da unidade, Sabrina da Silva Franca Wilke, fala sobre a horta escolar, que já tem gerado hortaliças e alimentado os alunos.

As crianças que vieram plantaram as mudas aos poucos e ajudaram no plantio. Nessa fase, trabalhamos com cerca de 80 alunos da educação infantil, do Pré-II, eles têm de 5 a 6 anos. Foram eles que fizeram o processo de plantio. Agora, a manutenção e os cuidados, que é a parte pedagógica da horta, serão feitos pelos alunos maiores, do Ensino Fundamental, primeiro ao quinto ano, que também vão explorar esse espaço como um recurso pedagógico”, explica.

A Escola Anita tem cerca de 480 crianças matriculadas e todas têm acesso à horta e, principalmente, aos alimentos produzidos por ela, como alface, salsinha, repolho etc.


Usina de compostagem do Centro de Equoterapia


Como já citado, hoje, Pontal do Paraná possui duas usinas de compostagem – uma na no Centro de Equoterapia e outra em Pontal do Sul, na antiga unidade da Techint, espaço doado ao Município. São esses dois locais que preparam todo o adubo utilizado nas hortas e, inclusive, o que é vendido para a manutenção da Associação de Pais e Funcionários (APF) Ilha do Saber.

Paulo Cesar Rodrigues de Jesus é auxiliar de serviços gerais no Centro de Equoterapia e foi através de uma ideia sua, em 2011, que nasceu a compostagem na instituição. “Eu e meu colega, Paulinho, começamos a ver que todo o material acumulado dos cavalos (serragem, fezes e urina) era jogado fora. Então a gente buscou um curso para aprendermos a reaproveitar esse material e encontramos o Horta na Escola, uma formação oferecida pela Universidade Federal do Paraná em parceria com a Prefeitura. A partir daí, começamos a fazer a compostagem e a horta na escola”, relembra.

A responsável pelo Centro, Lizmari Simioni Rusycki, fala sobre a importância do projeto para os alunos atendidos pela Equoterapia – apenas aqueles com diagnóstico de autismo e deficiências. Ela destaca que a atividade auxilia no desenvolvimento do currículo funcional dos jovens e adultos que fazem parte da escola especial Ilha do Saber.

Na Educação de Jovens e Adultos (EJA) especiais, todos os conteúdos trabalhados em sala de aula, desde português, matemática, ciências etc., são desenvolvidos de maneira funcional. No caso da compostagem, a disciplina trabalhada é a matemática, então, os alunos aprendem desde a contagem dos pacotes; as medidas para encher os pacotes; o peso etc. Dessa forma, eles associam os conteúdos acadêmicos com a funcionalidade, o que chamamos de currículo funcional”, explica.


Fonte de renda para a escola


Lizmari conta que quem está à frente do projeto da compostagem é a professora Luzia Azevedo. Três vezes por semana, os 12 alunos da turma vão até o Centro de Equoterapia para a atividade.

Todos os estudantes são da EJA e são aqueles que não têm potencial acadêmico para alfabetização devido ao comprometimento intelectual. Por aqui, tentamos alfabetizá-los através de conteúdos funcionais e diferenciados, pensados exclusivamente para eles. Então existe a captação de resíduos de escolas e Centros Municipais de Educação Infantil, como sobras da merenda escolar, cascas de verdura, lixo orgânico que vem para ser feito o processo com os excrementos animais. Aqui eles produzem o adubo que já está sendo usado em grande escala para a compostagem, que irá para todas as escolas do município”, comenta.

Ela também informa que o adubo, fruto da compostagem realizada no Centro de Equoterapia, é vendido pela APF Ilha do Saber. Todo o recurso adquirido com a venda é revertido para os próprios alunos em forma de passeios, atividades diferenciadas, entre outros. No final do ano, por exemplo, os estudantes irão escolher o próprio presente de Natal, que será comprado com o dinheiro do adubo.

Os alunos vão na loja escolher o presente e, com isso, já estarão aprendendo matemática de forma funcional, pois eles vão saber o valor, quanto é que eles têm, quanto é que eles podem pagar etc. Tudo isso com o recurso da compostagem. Cada pacotinho custa R$ 2 em grande quantidade e R$ 3 a unidade”, comenta Lizmari.

Compostagem em Pontal do Sul


Ela também destaca que a atividade promove educação ambiental para os alunos que, consequentemente, repassam para suas famílias. “Com tudo isso, eles já procuram fazer a compostagem deles em casa. Os alunos já sabem separar, e as cascas de verdura não vão para o lixo, porque eles não deixam a mãe jogar fora. Eles têm essa educação ambiental na prática”, finaliza.

A outra usina de compostagem é a de Pontal do Sul. Lá, o responsável é Darci Soares, chefe de setor na área de Meio Ambiente da Prefeitura. Ele cuida de todo o processo e, ainda, da horta que fica no espaço.

Darci fala que a ideia começou pequena, mas tomou grandes proporções e os resultados apareceram rapidamente. A horta do local já está abastecendo as 22 escolas municipais com verduras e hortaliças, como alface, rúcula, salsinha, hortelã, repolho e mais.

Além da horta, também fazemos a compostagem, que é a terra adubada que sai daqui e vai para as escolas. Fazemos com as verduras que iam para o lixo, no caso, a sobra, as cascas, sobra de frutas… tudo isso vem para cá e vamos fazendo a mistura”, conclui.

Darci é o responsável pela horta e compostagem em Pontal do Sul. Foto: Maria Eduarda Soriani/JB Litoral