Série “O Caso Evandro” expõe problema crônico penal e possíveis manipulações de políticos dentro da justiça estadual e local


Por Maximilian Santos Publicado 09/06/2021 às 17h31 Atualizado 19/02/2024 às 15h14

Neste último fim de semana, o litoral paranaense se destacou na imprensa como também foi um dos assuntos mais comentados no Twitter, com a enorme audiência da série documental “O Caso Evandro”, que foi publicada semanalmente na Globo Play. Se você, morador do litoral paranaense, ainda não assistiu, aconselho não deixar de maratonar a importante produção. Como uma ferida exposta, desde 1992, na história e na vida de Guaratuba, a segunda maior população da região, a série conta a história de Evandro Caetano, um guaratubaninho de 7 anos que “então” foi encontrado morto em um matagal da cidade, com o corpo desfigurado. Em uma investigação real cheia de contradições, que, para quem gosta de séries, mais parece uma perfeita história para o “American Horror Story”, ou ainda “How to get away with murder”, na época, o processo chegou a um grupo de sete pessoas, que confessaram o assassinato durante “ritual satânico” para “abrir caminhos” eleitorais ao ex-prefeito Aldo Abagge, por intermédio de sua esposa Celina e de sua filha Beatriz Abbage. O caso ecoou e ficou midiaticamente tratado pela imprensa como “As Bruxas de Guaratuba” (volto a expressar essa nomeação preconceituosa aqui, apenas para ajudar na memória do leitor e também reforçar a relevância da imprensa e seu importante compromisso social). Em um trabalho jornalístico fabuloso do paranaense Ivan Mizanzuk, a série documental mostra todas as fases do processo, a interferência de parente próximo do garoto na investigação, a condução contraditória da Polícia Militar, Polícia Civil e investigativa da época, o descaso da justiça com alguns dos fatos apresentados e a possibilidade de inclinação do sistema judiciário em atender os interesses de políticos poderosos. De forma forte, verídica e até mesmo chocante, como um “chá de realidade”, a série também mostra que a argumentação e a defesa de Celina, Beatriz e dos outros acusados, na época, de que apenas assumiram o crime por conta de possível tortura, tem claras e grandes evidências de serem legítimas. Não quero mais dar “spoilers” aqui, caro leitor, mas “O Caso Evandro” nos faz refletir do quanto nossa justiça nacional e local, nosso sistema penal, podem atuar para favorecer certos grupos políticos e poderosos, colocando nossas vidas à mercê da sorte.

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No mesmo dia em a Globo Play fez upload do capítulo extra da série, que fala sobre outro garoto desaparecido na época, o caso de Leandro Bossi, expondo essa reflexão que aqui apresento sobre a justiça e o jogo político, vem à tona toda a divergência entre a Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República sobre as investigações dos atos antidemocráticos. A PGR pediu arquivamento, alegando falta de provas da participação de parlamentares nos crimes, e a PF diz que indicou linhas de investigação – mas a PGR não fez nada – que seguem evidências da participação de políticos e, até mesmo, com financiamento de muitos. Mas Max, o que uma coisa tem a ver com a outra? Muita! As duas questões acendem uma preocupação muito relevante no nosso “Estado Democrático de Direito”: até onde a Justiça atua de forma ética, razoável e isenta? Quantas vezes e em que casos existiu possibilidade da justiça de atuação em favorecimento de políticos? Em quantos casos a justiça destruiu a vida de pessoas de forma politiqueira? Pagando tantos impostos, tem como viver sem se revoltar com possíveis situações como essas? Em tempos de “Vaza Jato”, de “Engavetamento Geral da União”, de “STF amedrontado”, de “O Caso Evandro”, até de “tiro contra um jornal”, uma dor que está latente em todos nós é a de não confiar mais na justiça! Sempre soubemos que a balança pende mais para um lado, mas, nos últimos tempos, em época de “streaming”, internet e redes sociais, essa ferida exposta e inflamada da democracia, que vem da esfera nacional passando pela local, expõe ainda mais um velho e atual problema crônico: a manipulação de políticos poderosos dentro da justiça!

Pergunta que fica pra turma da esquerda, depois de assistir a série…

Para a turma da esquerda, que já assistiu “O Caso Evandro”, fica também uma grande reflexão! Já que a esquerda é contra a apologia à tortura de Jair Bolsonaro, acredito que defender certa figura política da esquerda paranaense da turma do “velho de guerra”, não tem mais como, né? Com as evidências apresentadas pela série, o discurso contra tortura parecerá pura hipocrisia. Que da mesma forma que a Comissão Nacional da Verdade buscou a verdade, que nessa situação do passado, no litoral paranaense, também se busque a verdade.

Polícia Federal aponta possível corrupção da deputada Aline Sleutjes

Durante a investigação da Polícia Federal, apresentada para a PGR (que citamos no editorial desta coluna), sobre os atos antidemocráticos, uma possível prática de “rachadinha” no gabinete da deputada federal bolsonarista Aline Sleutjes (PSL-PR) foi apontada. Depois de quebra do sigilo bancário no levantamento, a PF constatou que Aline recebeu diversos depósitos de funcionários do gabinete em suas contas bancárias. Os investigadores pediram para apurar os casos de repasses.

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Coincidentemente, a resposta de Aline Sleutjes foi a mesma do vereador de Matinhos, Gerson Junior (PL), que foi acusado, na semana passada, pela prática de rachadinha com vídeo apresentado pela TVCI, feito pela ex-assessora Thalia de Fatima Burdzinski, que, depois, negou o fato dizendo que foi pressionada por um grupo político opositor. A resposta? A de que foram apenas “empréstimos”.

Pra vacinação, não existe oposição!

Durante o Corujão da Vacinação, que ocorreu na última sexta-feira, em Paranaguá, que aplicou 4,5 mil doses da vacina contra a Covid-19, em 9 horas, um dos imunizados foi o ex-vereador e ex-candidato à prefeitura de Paranaguá, Adriano Ramos. Principal imagem política da oposição à atual gestão, Adriano fez uma live em sua rede social, incentivando seus eleitores a tomarem a vacina e elogiando todo o trabalho da equipe da prefeitura de Paranaguá na ação, desde profissionais da saúde, agentes administrativos, servidores, comissionados e voluntários, mostrando toda a sua democracia e respeito, como uma oposição consciente.

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Quem também se vacinou e, ainda, cumprimentou o prefeito Marcelo Roque na ação, foi o vereador Adalberto Araújo, que, no atual poder legislativo municipal, se mostra independente da base, mas, que na casa, é um dos poucos com tom de oposição. O diálogo e a cordialidade entre Adalberto Araújo e Marcelo Roque na foto, durante o Corujão da Vacinação, mostram e comprovam que, para o bem da população e pela vacinação, não existe qualquer oposição!