Mestre Aorelio diz que fandango não recebe nenhum apoio da prefeitura


Por Redação JB Litoral Publicado 01/07/2017 às 20h37 Atualizado 14/02/2024 às 19h08

Considerado um dos patrimônios imateriais brasileiros, o fandango, maior manifestação artística-cultural de Paranaguá virou alvo de polêmica na última semana.

Minutos antes da exibição do cantor Luan Santana, na Praça de Eventos Mário Roque, na última quarta-feira, 21, durante a abertura da sétima edição da Festa Nacional da Tainha, o Prefeito Marcelo Roque (PV) presenteou o artista sertanejo com uma viola artesanal de fandango.

Apesar do gesto evidenciar um elemento típico do ritmo parnanguara, a atitude não foi bem recebida por integrantes da classe musical. Em depoimento publicado em uma rede social, o Mestre Aorélio Domingues, que faz parte do Grupo Mandicuera, rebateu a atitude do prefeito.
 

“Olha, eu já peço desculpas antes de começar a falar. Estou aqui, no meu galpão, produzindo rabecas, violas e outros instrumentos do fandango e não poderia deixar de falar da atitude do prefeito. Nada contra o fato de o cantor ter recebido a viola.

Acho até bacana. Acontece que não é desta forma que se valoriza um dos elementos culturais mais importantes do Brasil. O que está acontecendo é que se lembram do fandango apenas para falar por aí aos quatro cantos, mas apoiar que é bom ninguém quer”, disparou. Ainda segundo Domingues, que também é professor da oficina “Artesanais” a qual desenvolve projeto para jovens aprendizes confeccionar instrumentos do fandango, o Prefeito Marcelo Roque não sabe valorizar a cultura local.

“Não queremos ser inimigos do prefeito, mas precisamos, sim, travar uma guerra. Ele não está sabendo valorizar este patrimônio que Paranaguá possui. Além disto, ele se utiliza da inocência dos mestres para usar o fandango e promove um desserviço a nós, pois acaba criando atritos entre os grupos e nos enfraquecendo. Não podemos permitir que isto aconteça, devemos resistir bravamente e lutar por esta cultura”, enfatizou.
 

Mestre Fandangueiro critica administração da cultura na cidade. Foto/Gazeta do Povo

“Nunca pisaram aqui”

Para o mestre, o ambiente cultural da cidade está estagnado. “Enquanto um artista recebe um alto valor para cantar em Paranaguá, a nossa está largada. O único contato que temos com a prefeitura é quando somos contratados para a realização dos bailes e pronto, o negócio acaba ali. E não falo só do fandango, é só dar uma volta e perceber que as casas de cultura estão todas paradas, não há o desenvolvimento de atividades, os músicos locais não são valorizados, não recebem”, pontuou.

O artista ainda aproveitou o vídeo para desabafar que as autoridades envolvidas não estão dando conta das demandas necessárias.

“O que revolta é saber que estamos aqui, lutando muito para manter este patrimônio salvaguardado, sem receber nenhum apoio da prefeitura. Para piorar, o prefeito tenta criar rixas entre nós mesmos, o que é lamentável. Sem contar que os gestores não estão sabendo dar conta das nossas cidades, pois estão minguando o debate, não estão seguindo os parâmetros culturais nacionais, fundiram as secretarias. Sem contar que o Marcelo Roque e o Canela, que são os responsáveis em Paranaguá, nunca pisaram aqui, não sabem o que a gente passa para manter a tradição viva”, finalizou.

 

Prefeitura diz que apoia

Em nota publicada em seu site oficial, a Prefeitura de Paranaguá falou que segue apoiando todas as instâncias culturais, inclusive o fandango. “Com a mudança de gestão na área cultural de Paranaguá focando a transparência, estamos realizando adaptações nos projetos, sendo que continuamos apoiando o fandango. Em maio já divulgamos chamamento público para contratação dos quatro grupos de fandangueiros em valor superior a R$ 117 mil. Queremos ampliar esta parceria durante a nossa administração”, afirmou o Diretor Cultural, Harrison Camargo, o popular Canela. Ainda de acordo com ele, houve também credenciamento de outros segmentos como os da área musical, de narração e para oficineiros. “Estamos apoiando a nossa cultura respeitando todos os preceitos legais”, finalizou.