APPA e AOCEP não informam sobre “explosão” no Silão que deixou funcionário gravemente ferido


Por Redação JB Litoral Publicado 06/05/2016 às 03h00 Atualizado 14/02/2024 às 13h17

No mesmo dia (12) em que o Governador Beto Richa (PSDB), juntamente com Ministro da Secretaria de Portos da Presidência da República, Helder Barbalho, entregavam as obras de reforma do cais e o novo prédio administrativo do Porto de Paranaguá, uma misteriosa “explosão” quase tirou a vida de dois funcionários da Associação dos Operadores Portuários do Corredor de Exportação do Porto de Paranaguá (AOCEP), no Silo Vertical de 100 mil toneladas, na área portuária do município. 

Apesar de o incidente ter ocorrido há 20 dias, pouco se sabe o que verdadeiramente ocorreu. Porém, informações extraoficiais dão conta de que nesta “explosão”, supostamente provocada por aterramento e curto elétrico, dois trabalhadores da AOCEP foram queimados e um deles se encontra em estado muito grave.

A reportagem do JB fez contato com o Gerente de Manutenção da AOCEP, Andrey José Dahle Bonaldi, para obter informações sobre o ocorrido e o estado de saúde dos trabalhadores, mas ele disse que não lhe caberia se manifestar e sim ao Supervisor Administrativo, Gláucio Pereira Ferreira. Por duas vezes o JB tentou contato com o Supervisor que não retornou as ligações da reportagem até o fechamento desta edição.

O jornal enviou ainda quatro questionamentos para a Assessoria de Comunicação da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa). Foram eles; qual a versão que a APPA possui do ocorrido no Silão? Desde quando a AOCEP responde pelo Silão e porque foi feito TAC e não concorrência pública? Qual foi a última vez que foi feito um trabalho de manutenção no Silão e com qual periodicidade vem sendo feito durante a gestão Richa? Quais as providências que a APPA tomou em relação ao ocorrido? Mas até o fechamento desta edição não houve retorno pela APPA.

Sintraport confirma incidente e omissão de informações

Sem nenhuma informação tanto da APPA bem com da AOCEP, a reportagem do JB procurou o Presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Administração dos Portos do Paraná (Sintraport), Gerson do Rosário Antunes, o Gerson Bagé, que confirmou o incidente ocorrido dia 12 deste mês, mas teve cautela ao usar a palavra “explosão”. Isto se deve, ao fato de que quando o assunto foi pauta numa das reuniões do Conselho de Autoridade Portuária (CAP) da APPA, o Presidente Luiz Fernando Garcia da Silva considerou temerário afirmar que houve, de fato, uma explosão.

“Quando a gente fala em explosão, eu não tenho conhecimento técnico em engenharia para discernir o que é uma explosão. Todavia, por ser conselheiro do CAP, chamei a atenção sobre a situação que havia acontecido no silo no dia 12 de abril. Uma explosão que levou duas vítimas, uma em estado normal até com poucos ferimentos e outra em estado gravíssimo. Isso me chamou a atenção porque uma explosão pode ter uma consequência maior e inviabilizar o Corredor de Exportação em plena safra que estamos”, alertou Bagé.

O presidente ressaltou, porém, que nesta reunião estava presente o membro do CAP, Ogarito Linhares, que é engenheiro de carreira do porto há mais de 35 anos e se manifestou sobre o assunto. “Já ocorreram duas explosões de grande monta no silo de 100 mil toneladas, inclusive com mortes. Porém, as de pequena monta, ocorrem em maior número. Elas são consequência do cruzamento de três condições, umidade, energia de ignição (faísca) e concentração de pó no ar. Destes três fatores é controlável o pó com aspiração ou óleos especiais aplicados sobre o produto”, esclareceu o engenheiro.

O dirigente explicou que tomou conhecimento que a explosão ocorreu na fase de aterramento da rede elétrica de um elevador de fluxo, que não é usado por pessoas. “Não sei o andar porque ficou muito escondido, e isso não pode acontecer em uma empresa pública séria. Ela que mostre para todo mundo o que está acontecendo e traga a verdade. Errar sim é possível, mas tem que saber errar e assumir o erro para que não exista mais isso e que não aconteça vítimas fatais”, destacou o presidente.

TAC e não licitação

O presidente disse que este incidente traz à tona uma preocupação, que foi a privatização dos serviços de mão de obra dentro do Silo do Corredor de Exportação sem qualquer processo licitatório nos anos de 2013 e 2014.

De acordo com o dirigente sindical, a entrega do Silo do Corredor de Exportação para a AOCEP, aconteceu por meio de dois Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), 449 e 550 de 2013, o que ele considera um erro da APPA, entregar totalmente o serviço sem licitação. “Se é legal quem pode afirmar é a justiça”, disse Bagé afirmando que foi uma irresponsabilidade entregar o Silo para a movimentação dos produtos de pequenos e médios agricultores, por meio de “pool”.

O portuário ressaltou a importância da manutenção de pessoas experientes na manutenção do Silo. “Esses serviços eram feitos por pessoas com mais de 30 anos de carreira, capacitadas, competentes e foi entregue diretamente a AOCEP, através de um Termo de Ajustamento de Conduta entre o Ministério do Trabalho e a APPA. Sou totalmente contrário a isso. Eu não sou técnico, mas entendo que sem essa mão de obra especializada, com conhecimento técnico que tinha os eletricistas e os mecânicos do porto, isso pode trazer uma consequência maior e perigosa para Paranaguá e, principalmente, para o porto público”, advertiu Bagé.

Questionado se a APPA tomou alguma providencia em razão do problema, o presidente do Sintraport disse acreditar que sim, até mesmo para descobrir quem e onde errou e o que de fato aconteceu para trazer para a sociedade. “Certamente a APPA vai abrir uma sindicância e apurar o que aconteceu e sugiro a imprensa que busque junto a APPA o laudo técnico desse acidente”, disse o dirigente sindical destacando que até o momento a cidade, ele e nem o sindicato, ninguém sabe o que aconteceu. “Isto ocorreu justamente na visita do ex-Ministro dos Portos, mas era uma coisa que não podia vazar e não podia vazar por quê? Porque nós estamos só preocupados com a economia, com o crescimento do porto, ou nós estamos preocupados com os filhos de Paranaguá e com a responsabilidade com os filhos de Paranaguá? Estou aqui preocupado com o trabalho, com o emprego e com o crescimento econômico da cidade, mas principalmente preocupado com o filho de Paranaguá”, argumentou o presidente.