Chefe do Núcleo Regional fala sobre os desafios da educação no litoral


Por Luiza Rampelotti Publicado 27/02/2020 às 15h37 Atualizado 15/02/2024 às 08h13

Desde julho de 2019, o Núcleo Regional de Educação (NRE) de Paranaguá, que coordena a educação estadual do litoral, com sede no município, conta com uma nova chefe, a missalense Clarisse Ubessi, que já estava trabalhando na região há cinco anos.

O JB Litoral entrevistou a gestora a respeito do trabalho feito em seu primeiro semestre, e qual a situação da educação nas sete cidades litorâneas.

De acordo com ela, o principal problema na localidade é a evasão escolar. “Hoje, nosso maior desafio é diminuir a evasão escolar nos sete municípios. Pedimos aos pais que entendam a importância do ambiente escolar e mandem seus filhos para a escola, porque a criança só aprende se estiver lá dentro. Além disso, a alta taxa de evasão acarreta um alto índice de reprovação”, diz.

Para melhorar a situação, ela explica que o NRE está trabalhando para que as aulas sejam mais atrativas e prazerosas, para que os alunos queiram estar na escola. O projeto está sendo desenvolvido pelo núcleo, e tem o objetivo de melhorar a frequência escolar.

Problemas estruturais

Em Paranaguá, no ano de 2018, o Colégio Estadual Estados Unidos da América foi fechado após 73 anos de história. O encerramento das atividades foi justificado pela queda gradual no número de alunos matriculados, especialmente devido ao êxodo de moradores da região considerada insalubre em razão das empresas portuárias instaladas ao redor. A chefe do Núcleo explica que quando o estabelecimento fechou, havia somente sete alunos, que foram comportados em outras escolas próximas.

O terreno do colégio Estados Unidos, que é uma quadra inteira na Avenida Governador Manoel Ribas, está sendo vendido pelo Governo do Estado. Em contrapartida, com a efetivação da venda, a promessa é que a cidade ganhe três unidades novas de ensino”, adianta.  Além disto, outro assunto que tem gerado polêmica é o fechamento da turma do sexto ano no Colégio Estadual Helena Viana Sundin e o seu funcionamento apenas no período da manhã. Atualmente, existem 260 alunos matriculados. “O problema que acontece no Helena é semelhante ao dos Estados Unidos, o entorno dele já não tem mais tantas crianças. Os pais venderam suas posses, uma vez que a expansão portuária tem aumentado naquela região”, explica a chefe do Núcleo.

Segundo ela, não há pretensão de encerrar as atividades no colégio, mas os alunos não têm procurado a escola para realizar matrícula. “Este ano, não abriu turma do 6º ano porque havia uma quantidade muito baixa de alunos em idade da série adequada, que pretendiam se matricular. Como não tinha o mínimo de 25 alunos na data limite, a turma não foi aberta”, conta.

Ela explica que, agora que as turmas foram concentradas somente no período da manhã, existe uma estratégia para que seja realizado um trabalho diferenciado na unidade escolar. “Já foi conversado com a diretora da escola para que seja feito um trabalho diferente e ela já apontou que está com algumas ideias legais e boas parcerias, incentivando e mostrando a importância do colégio. Enquanto houver alunos, a escola vai continuar”, afirma.

Escolas superlotadas

Clarisse revela, também, que existem três colégios que estão com bastante dificuldade com relação à quantidade de alunos e espaço físico: a Escola Estadual Cidália Rebello Gomes, na Ilha dos Valadares; Colégio Estadual Porto Seguro, no bairro Porto Seguro e no Colégio Estadual São Francisco, no Emboguaçu. “Como essas regiões estão crescendo bastante, os colégios não estão comportando mais a quantidade de alunos que residem nas regiões. Mas, assim que for negociada a venda do colégio Estados Unidos, a pretensão é construir mais uma escola na Ilha dos Valadares, outra no Porto Seguro e uma nova unidade do colégio São Francisco”, diz.

As tratativas para a venda do terreno na Avenida Manoel Ribas devem começar a partir do ano que vem, visto que 2020 é um ano eleitoral, quando grande parte dos processos ficam travados. Porém, o colégio Cidália recebeu uma verba estadual de até R$ 100 mil para realizar melhorias e, ainda neste ano, passará por reformas.

De diretora escolar em Guaratuba, Clarisse passou a chefiar o NRE desde julho de 2019

Recursos para reformas

A chefe do NRE conta que durante os últimos meses, o NRE conseguiu retomar reforma e manutenção em 12 escolas da região, no valor de até R$ 100 mil, que faziam parte do Programa Escola Mil, mas não chegaram a ser contempladas. “Procurei, junto à Fundepar, para que recebêssemos o recurso do Escola Mil de volta, para que fossem realizadas as reformas, que são necessárias”, diz.

Já estão liberadas as obras nos colégios estaduais Alberto Gomes Veiga, Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos (CEEBJA), Cidália Rebello Gomes, José Bonifácio e Bento Munhoz da Rocha Neto, em Paranaguá. Além do Colégio Estadual Marcílio Dias, em Guaraqueçaba, Maria Arminda, em Antonina, Profª Abigail dos Santos Correa e Colégio Estadual Tereza da Silva Ramos, em Matinhos, Osny David Fraga e Colégio Estadual Rocha Pombo, em Morretes, e Aníbal Khury, em Guaratuba.  

Outras cinco escolas já estão sendo reformadas e, entre elas, duas já foram concluídas: Colégio Gratulino de Freitas, em Guaratuba, e uma escola na Ilha de Eufrasina. As obras estão em andamento na escola da Ilha Rasa, em Guaraqueçaba, na Osny David Fraga, em Morretes, e também na escola da Ilha do Teixeira, que está sendo reformada por meio de uma parceria com a empresa Cattalini Terminais Marítimos.

Ainda assim, o Núcleo conseguiu mais três verbas parlamentares que farão com que outras três escolas recebam melhorias. “Uma é o Instituto de Educação Dr. Caetano Munhoz da Rocha, que recebeu R$ 150 mil do deputado Fernando Francischini para reforma do telhado, outro é o colégio Aníbal Khury, em Guaratuba, que também recebeu uma emenda de R$ 150 mil do mesmo deputado. Já o deputado Nelson Justus destinou uma verba de R$ 200 mil para a escola Lea Germana, em Guaratuba também”, afirma. De acordo com ela, as obras começarão ainda neste ano.

Planos para o futuro

Ubessi informa ainda que, para este ano, a prioridade é dar continuidade aos projetos educacionais que o Estado já vem desenvolvendo, como o Presente na Escola e a Prova Paraná. O primeiro possibilita que o órgão receba, diariamente, um boletim do dia anterior, no qual constam as informações de todos os alunos. “Então conseguimos saber quem faltou, há quanto tempo tem faltado, o índice de faltas, entre outros. Isso é muito importante para realizar o trabalho pedagógico e um trabalho de resgate dos alunos faltantes”, afirma. Já a Prova Paraná faz um nivelamento do aluno, testando os conhecimentos adquiridos durante os trimestres.

Além disso, ela informa que, a partir de 2021, o Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano) passará por alterações. “O modelo de educação vem mudando. A cada dez anos a educação é reestruturada e, desde 2015 estamos trabalhando, dando ideias para isso. O ano de 2020 é fundamental para os professores darem suas contribuições, pois em 2021 o novo currículo de educação estará fechado e será implantado, ou seja, uma nova grade disciplinar e o que é trabalhado dentro das disciplinas”, explica.

O Ensino Médio também passará pelo mesmo processo, mas somente em 2022. “Para o ensino médio também estamos na construção. Em 2020 e 2021 as ideais estão sendo debatidas e, em 2022, a grade curricular do novo ensino médio será reformulada”, conclui.

Quem é a chefe do NRE

A professora Clarisse Ubessi é natural de Missal, no Paraná, uma cidade próxima de Foz do Iguaçu. Graduada em Biologia e Ciências e mestre em Biologia Comparada, ela começou a carreira em Santa Terezinha de Itaipu e em Missal.  Após oito anos na região, foi trabalhar em Maringá, onde ficou durante cinco anos lecionando. “Mas sempre quis vir para o litoral, e foi quando pedi remoção e vim trabalhar na escola do Cubatão, em Guaratuba. Fiquei um ano como professora e me elegi como diretora, função que exerci por mais quatro anos”, relembra.

Incentivada por suas colegas a participar do processo de seleção para ser chefe do Núcleo Regional de Educação, ela ficou entre as três finalistas e, por fim, foi indicada pelo Governador Ratinho Junior (PSD) ao cargo, assumindo em julho de 2019.  “O NRE coordena todas as escolas estaduais do litoral e há demandas junto às escolas municipais e particulares também, com relação à documentação escolar. Trabalho com uma equipe muito boa e quando estamos rodeados de pessoas boas, as coisas andam”, finaliza.