Descaso continua; Visconde de Nácar foi arrombado, hoje, e quase nada é feito


Por Redação JB Litoral Publicado 01/02/2016 às 20h00 Atualizado 14/02/2024 às 12h05

Sede do poder legislativo municipal por várias gerações, o Palácio Visconde de Nácar viveu tempos de ostracismo, abandono e descaso por parte do poder público, culminando em um severo processo de deterioração. Contudo, no dia 29 de agosto de 2010, o então Ministro da Cultura, Juca Ferreira, garantiu ao então presidente da Fundação Municipal de Turismo, James Berlim, durante a gestão de José Baka Filho (PDT), apoio financeiro para criação do Museu Visconde de Nácar. 

A promessa foi feita pelo ministro na Sociedade Garibaldi, localizada no Largo da Ordem, em Curitiba. Além do Museu, foi prometido apoio do Ministério da Cultura para conclusão do Cine Teatro Rachel Costa e para o Natal de Luz. Ambos ocorreram, mas o Museu ficou apenas na promessa. À época, houve até reportagem veiculada no site da prefeitura dando conta que o Palácio Visconde de Nácar seria restaurado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O que não aconteceu até hoje.

Quatro anos após, em agosto de 2014, foi a vez de a prefeitura garantir que faria a restauração do prédio histórico e centenário, informando que a Secretaria do Planejamento estava preparando termo de referência que serviria para contratação do projeto de restauração. Após este processo, a prefeitura pretendia buscar junto aos governos federal e estadual a viabilização da verba necessária para a obra. Ou seja, o IPHAN que faria a obra de restauração, em 2010, sequer foi mencionado pela prefeitura.

Um ano depois desta informação, no início de agosto de 2015, durante a apresentação dos projetos de recuperação de prédios históricos pelo Conselho Municipal de Turismo, a ex-secretária de Planejamento, Rita Abe, depois de explanar sobre projetos de revitalização da Rua da Praia e Praça do Guincho, falou das dificuldades enfrentadas para recuperação do Palácio Visconde de Nácar. Disse ainda que para garantir a recuperação do Palácio Visconde de Nácar previu um investimento de R$ 5 milhões e que o projeto está em fase de orçamentos.

Enquanto a burocracia mantém o Palácio Visconde de Nácar da mesma forma que se encontra nos últimos 12, hoje (1º) pela manhã, o JB fez o registro de um novo arrombamento no prédio.

Apenas fecharam a porta

Uma ligação para o whatsapp do JB (8432-4626) feita as 7 horas desta segunda-feira (1º) informou que o prédio havia sido arrombado e, antes mesmo que órgãos de segurança, pode-se constatar que a porta que dá frente para rua Visconde de Nácar havia sido arrombada, assim como o portão de ferro ao lado o antigo Dantas Palace Hotel.

Na calçada havia um computador jogado e, no interior, diversos produtos amontoados, prontos para serem levados, entre móveis e eletrodomésticos.

Após fazer os registros fotográficos, a reportagem informou a Guarda Municipal Civil sobre a ocorrência e obteve como resposta que a situação seria levada para Central.

Por volta das 19 horas, ou seja, 12 horas após o arrombamento, o JB constatou que a única providência tomada foi fechar a porta que fora arrombada e encostar o portão de ferro ao lado do hotel, sem uma corrente e cadeado sequer.

No lado oposto, na Rua Faria Sobrinho, a reportagem constatou que qualquer pessoa pode ter acesso ao prédio, mesmo que fossem tomadas as providências necessárias, como colocar corrente com cadeado no porto ao lado do hotel.

Por este lado o acesso é facilitado porque parte da grade de uma das escadas está quebrada e jogada ao chão. Da mesma forma, um pedaço da grade que fica acima da parede diante do estacionamento foi quebrado e levado.

Patrimônio histórico

Construído por volta de 1840, segundo site da prefeitura de Paranaguá, a antiga residência do Visconde de Nácar que foi sede da Prefeitura e Câmara de Vereadores, hoje, é o retrato do descaso da administração municipal com o patrimônio histórico da cidade.

São 176 anos de história transformado num prédio com a fachada pixada, descuidado há anos, com tinta de portas, janelas e paredes descascadas e sujas, estrutura em madeira com diversos pontos quebrados e um jardim externo que mais lembra uma floresta inexplorada.

O descaso com o tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em dezembro de 1966 e que já teve suas paredes de telas pintadas a óleo de razoável valor histórico e artístico é tanto que o busto em bronze do Visconde de Nácar está tomado pela poeira e até seu nome, escrito em bronze, está faltando letras.

Os jardins lateral e frontal do prédio e observou que há anos o mato não é cortado, as árvores não são podadas e o petit-pave, além de não receber limpeza está soltos em diversos pontos.

O prédio marca o símbolo de uma época de aristocracia e nobreza local. Com características neoclássicas, foi a sede do Governo da Província do Paraná. O seu proprietário, Comendador Manoel Antônio Guimarães, mais tarde Barão e Visconde de Nácar, tinha a pretensão de tornar-se o primeiro governador da Província por ser Paranaguá, na época cidade mais importante que a escolhida Curitiba, mas acabou tendo sua expectativa frustrada.