Em dois meses, 200 animais mortos são retirados das praias do Paraná


Por Redação JB Litoral Publicado 18/10/2015 às 14h00 Atualizado 14/02/2024 às 10h26

Em quase dois meses, foram retirados 200 animais mortos da orla das praias paranaenses. São tartarugas marinhas, golfinhos e aves que, em muitos casos, estão na lista das espécies em risco de extinção. De acordo com o Centro de Estudos do Mar (CEM), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), de 2007 a meados de 2015, a média anual era de 200 corpos.

“É assustador… É uma população ameaçada, e quando você começa a ter alta taxa destes animais mortos nas praias é um indicativo de que a situação está cada vez mais grave para estes animais e para o próprio ambiente”, afirmou a bióloga Camila Domit, que integra o CEM.

O CEM é responsável pela coordenação do “Projeto Monitoramento de Praia”, no Paraná, que é uma condicionante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBMA) à Petrobras para a exploração das áreas de pré-sal.É um indicativo que a situação está cada vez mais grave para estes animais e para o próprio ambiente” Camila Domit, bióloga

A comerciante Cibele Costa Policarpo, de 25 anos, sabe como é se deparar um com destes animais em risco de extinção. Ela viu uma Caretta Caretta, popularmente chamada de tartaruga- cabeçuda, no Balneário de Prainha, em Guaratuba, na manhã de sábado (17).

“Eu fiquei triste porque é um animal tão bonito e tão indefeso. Acho que pode ter sido alguma embarcação ou ela ter se enrolado em rede de pesca”, especulou Cibele. Ela disse que não é raro encontrar animais mortos na orla.[tabelas]

Desta vez, entretanto, Cibele ficou surpresa com o tamanho da tartaruga. Ela acredita que a tartaruga tinha mais de um metro de comprimento e mais de 50 quilos. “Nunca tinha visto deste tamanho”, disse. A carapaça ou casco das tartarugas-cabeçudas por passar de um metro, de acordo com biólogos.

As causas

A bióloga Camila Domit afirma que existe uma série de fatores que podem ter provocado a alta neste número de animais mortos na orla do Paraná. “Pode ser um efeito do nosso esforço [em virtude do monitoramento], pode ser o El Niño, então, a gente tem mais chegadas de frentes frias. Mas também é um reflexo da intensificação dos impactos no nosso litoral”, disse.

A bióloga contou que recentemente foi retirado o corpo de uma tartaruga de couro – uma das mais ameaçadas de extinção entre a fauna marinha – que tinha no estômago duas sacolas plásticas inteiras.

Após a retirada dos corpos, a equipe tipifica os animais, com a coleta de dados físicos.

Em seguida, é feita uma avaliação macroscópica, que é externa, com a identificação de sinais, e uma necropsia. O material coletado é enviado para laboratórios especializados para a definição da causa da morte.

“Nós já encontramos doenças como pneumonia e doenças renais, que são características de animais imunossuprimido”, explicou Camila Domit. Como o trabalho de monitoramento diário das praias é recente, segundo a bióloga, ainda é cedo para se afirmar exatamente o que tem ocorrido.

Quando se fala em fatores ambientais, a possível origem dos problemas é variada. É possível citar, contaminação por lixo ou produtos químico, degradação dos ambientes costeiros e desmatamento de área de manguezal, por exemplo.

Também pode-se considerar, de acordo com a bióloga, a poluição sonora, devido o excesso de embarcações, os reflexos da área portuária, a dragagem e ainda a pesca industrial, que retira muitos peixes do ambientes, reduzindo a quantidade de alimentos.

“Tudo isso provoca uma queda no sistema imunológico dos animais. Eles são parecidos com a gente. Suportamos o stress no trabalho. Agora, o stress no trabalho, mais uma doença na família e mais noites sem dormir faz com que a gente comece a ficar doente. É a mesma coisa para esses animais. Eles estão em um ambiente com tanta coisa ruim acontecendo que começam a ficar mais debilitados e não conseguem suportar os níveis mínimos de impacto”.

Monitoramento

O “Projeto Monitoramento de Praia” começou no Paraná fim de agosto. Estão com monitoramento diário todas as praias de Guaratuba, Matinhos e Ponta do Paraná, com o apoio das prefeituras e das Secretarias de Meio Ambiente.
Na Ilha do Mel, devido à dificuldade de acesso, parte das praias tem acompanhamento diário e parte funciona a partir de acionamento. Isso significa que a equipe de pesquisa vai ao local quando é chamada.
A partir de novembro deste ano, devem ser monitoradas também a Ilha das Peças e as praias costeiras da Ilha de Superagui.

Pré-sal

O trabalho tem como pano de fundo a exploração do pré-sal da Bacia de Santos, que engloba parte da área marítima do Paraná e de Santa Catarina.

“Pela primeira vez nós estamos com os três estados realizando diariamente um monitoramento das praias com o objetivo de identificar os encalhes destes animais e avaliar as saúde dos animais e do ambiente”, disse Camila Domit.

Ela explica que, em caso de acidente, durante a exploração do petróleo, o óleo não chega à costa, mas atinge essas espécies que são migratórias. “Por isso, São Paulo, Paraná e Santa Catarina estão em alerta”.

Quem encontrar um animal morto nas praias paranaenses pode entrar em contato com a equipe do Projeto de Monitoramento de Praias pelo (41) 9854 – 3710 ou pelo 0800-642-3341.