Everton Vargas é condenado a 14 anos de prisão pela morte da youtuber Isabelly Cristine Santos; defesa diz que vai pedir a anulação do júri


Por Flávia Barros Publicado 07/09/2024 às 08h06

O julgamento iniciado na manhã da última terça-feira (3) só terminou na madrugada de sábado (7), no Fórum de Ipanema, em Pontal do Paraná. O Conselho de Sentença, composto por sete homens, decidiu condenar Everton Vargas a 14 anos de prisão, e determinou o pagamento de R$ 30 mil para cada um dos pais da vítima. A youtuber Isabelly Cristine Santos, de 14 anos, foi baleada na cabeça em 14 de fevereiro de 2018, quando voltava de um evento em Pontal do Paraná para Paranaguá, onde morava com a família. Everton, que ficou três anos preso em regime fechado e um ano com tornozeleira eletrônica, pode recorrer à decisão em liberdade.

A jovem foi morta após um um desentendimento no trânsito, quando voltava com a família de um show em Shangri-lá. Foto: Arquivo Pessoal

JÚRI TENSO

Foi um julgamento longo, com o depoimento de 10 testemunhas arroladas pela defesa e pela assistência de acusação, além do interrogatório do réu e todo o rito de perguntas e manifestações pelas duas partes. O júri de Everton Vargas, que atirou contra o carro em que Isabelly estava com a mãe, Rosania Santos, um amigo e o pai desse amigo, após uma discussão de trânsito, na PR-412, aconteceu após dois adiamentos e foi marcado por momentos de tensão entre as equipes de defesa e acusação.

O advogado de defesa, Claudio Dalledone Jr., e o promotor do Ministério Público, Rodrigo Sanches Martins, protagonizaram passagens que levaram a suspensões temporárias do júri, como quando o advogado repreendeu o promotor por ele retirar a beca (vestimenta utilizada por cima da roupa em julgamentos) e atuar apenas de camisa e gravata. Depois, uma das passagens mais acaloradas aconteceu na quinta-feira (5), quando Dalledone questionou Sanches de tê-lo chamado de mentiroso, situação em que a juíza Carolina Valiati da Rosa precisou intervir e pedir para que as partes se acalmassem.    

CONSIDERAÇÕES

Para a advogada Thaise Mattar Assad, assistente de acusação no caso, o julgamento trouxe um desfecho que, embora mínimo, pode ser considerado digno, representando a realização da justiça. “Foi satisfatório. A decisão foi exatamente nos termos que nós estávamos esperando, então, de fato, hoje nós conseguimos encerrar esse ciclo. Espero que isso traga um conforto para a família da vítima, porque a condenação criminal nesse caso é muito necessária, uma vez que o que aconteceu aqui em Pontal do Paraná deixou a cidade inteira extremamente mobilizada em prol dessa condenação”, disse a advogada.

Muito emocionada e presente durante todo o julgamento, a mãe de Isabelly, Rosania dos Santos, ressaltou que nunca desistiu de buscar justiça. “Conseguimos a justiça justa. Eu nunca desisti e tenho certeza que vou dormir tranquila, a minha filha vai descansar no cemitério e ele vai ficar com o sangue dela sempre ardendo na mão dele, porque foi a mão dele que assassinou a minha filha. Eu saio daqui com a minha família vitoriosa. Eu quero que ele carregue essa culpa e essa dor sempre e eu vou estar com a minha alma tranquila, dormir o meu sono, porque não sou assassina. Eu sou uma mãe”, declarou Rosania à imprensa, após o fim do júri.

PEDIDO DE ANULAÇÃO

Já o advogado de defesa de Everton Vargas afirmou que irá pedir a anulação do júri. Segundo Claudio Dalledone Junior, há três irregularidades que podem levar a um novo julgamento. “A acusação foi conduzida de forma privada, sem a atuação direta do promotor de justiça, que deixou a responsabilidade para os advogados privados. No entanto, a lei não permite que isso aconteça dessa forma. Além disso, houve comportamento inadequado por parte do promotor, como insultos dirigidos ao advogado. Também foi identificada uma irregularidade no Conselho de Sentença, pois recebemos a informação de que um dos jurados havia sido condenado por direção perigosa — um ponto controvertido, já que Herbert, que dirigia o carro em que Isabelly estava, teria feito uma manobra brusca (um cavalo de pau) antes do disparo do réu, que afirma ter atirado em resposta a essa manobra”, defendeu.

RELEMBRE O CASO

O crime aconteceu na madrugada de 14 de fevereiro de 2018, na PR-412, entre os balneários Ipanema e Praia de Leste, em Pontal do Paraná. Isabelly retornava para casa, em Paranaguá, após uma gravação para o seu canal no YouTube.

De acordo com o inquérito da Polícia Civil, a adolescente foi atingida por um tiro acima do olho esquerdo. Ela estava no banco de trás do carro, ao lado da mãe. Nos bancos da frente do veículo, estavam um amigo e o pai do amigo, que era o motorista, e afirmou, em depoimento, que foi fechado por um carro pouco antes do crime. Ele também relatou que, logo após a fechada, o outro carro parou a cerca de 60 metros. Nesse veículo estavam os irmãos Everton e Cleverson Vargas, que dirigia o carro.

Ainda segundo o motorista do automóvel em que estava Isabelly, um dos ocupantes do outro veículo (Everton Vargas) atirou três vezes contra o carro em que eles se encontravam. A youtuber chegou a ser socorrida, mas morreu horas depois.

Os irmãos Everton e Cleverson Vargas disseram, à época, que foram ameaçados e agiram por “instinto de defesa”. Os dois viraram réus no processo em 2018.

Everton foi denunciado e foi a júri popular. Já Cleverson Vargas, que dirigia o veículo, também havia sido denunciado por homicídio qualificado, mas como coautor, e por embriaguez ao volante. Um ano depois do crime, em 2019, a Justiça decidiu que ele não deveria mais responder por homicídio.

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