Ex-assessora grava vídeo pedindo desculpas a vereador acusado de assédio e rachadinha


Por Redação Publicado 01/06/2021 às 20h07 Atualizado 16/02/2024 às 04h04

Por Brayan Valêncio

A ex-assessora Thalia de Fatima Burdzinski, que denunciou o vereador Gerson Junior (PL), de Matinhos, de assédio sexual e rachadinha, gravou um vídeo exclusivo para o JB Litoral se desculpando por ter feito o boletim de ocorrência na sexta-feira (28).

Na mensagem, gravada ao lado de sua mãe, Marilena Amarante, a jovem afirma que “tudo isso foi uma armação política de um grupo de Matinhos” e que foi proibida de contar qualquer coisa aos próprios pais. Sobre a denúncia das rachadinhas gravadas e divulgadas pela TVCI hoje (01), Thalia afirma que fazia empréstimos com o vereador, para pagar a faculdade e o aluguel de sua casa. Como o salário da câmara caía após o vencimento de suas despesas, o vereador adiantava o valor financeiro referente aos gastos e após o recebimento do pagamento, a assessora acertava com o político e ex-chefe.

Em outro trecho a assessora diz que se arrepende e se “revolta” por ter sido “tão ingênua e aceitar não falar nada a respeito [da pressão que sofria]” com os pais e diz que “a partir de agora vai ser esclarecido toda a verdade”. A mãe da Thalia aparece em outro trecho confirmando que as falas da filha no vídeo são verdadeiras e que “foi muita maldade o que fizeram com a nossa filha, mas a verdade vai ser esclarecido”. O pai da jovem não aparece nas filmagens porque, segundo Thalia, estaria passando mal devido aos últimos acontecimentos.

Confiram o vídeo na íntegra:

JB também tem acesso a vídeo gravado na casa do vereador

Mais cedo, a reportagem teve acesso a novos áudios e conversas em mais um capítulo do caso envolvendo as denúncias contra o vereador Gerson Junior (PL), de Matinhos. No conteúdo, obtido com exclusividade, os pais da ex-assessora teriam ido, durante o final de semana, até a casa do vereador pedir desculpas pela denúncia realizada na sexta-feira (28).

Na conversa de áudio, que tem 4m28s, é possível ouvir vozes, que são atribuídas a Thalia de Fatima Burdzinski, a denunciante e sua mãe Marilene Amarante; também é possível ouvir supostamente o vereador Gerson e sua esposa Gisele Rosa.

Questionado pela esposa do vereador se a jovem foi ameaçada, a mãe de Thalia responde que outras pessoas entregaram de volta “a única prova que eles tinham”. Gisele então questiona “que provas eles tinham?” e já emenda com um “eu sabia que era perseguição”. A resposta não é conclusiva porque Marilene diz “se nós estivéssemos ali quando eles (inaudível), imagina para nós, pais. A gente nunca, jamais (inaudível)”. Portanto, não dá para saber quem teria pressionado a jovem.

Logo na sequência, Gisele Rosa interrompe a mãe da denunciante dizendo “a gente imaginou que estavam fazendo isso com vocês. Tipo pressionando”, citando nominalmente Dalmora e Pedro, possivelmente se referindo ao ex-prefeito Eduardo Dalmora (PL) e Pedro Bruno, ex-assessor de Gerson e genro de Ziulei Edgar Honorato dos Santos, que já foi secretário de Turismo do município e faleceu no final de abril. Gisele completa dizendo que não pode acusar o candidato derrotado para a prefeitura de Matinhos em 2020 e o ex-assessor porque “a gente tem que ter provas”.

Após um longo período de conversas inaudíveis, risadas e gritos, uma pessoa que supostamente seria o vereador Gerson chega até o ambiente gravado e diz “deveriam ter me falado alguma coisa, né? Eu sou interessado, né? Sou eu.” e então a mãe da jovem se explica “Nós não esperávamos antes de ir para lá. Chegamos aqui e o estrago estava feito”, se referindo a uma viagem que os pais de Thalia teriam feito durante a data da denúncia. O vereador então diz “pois é, vocês estavam viajando, né?”.

Thalia afirma ter sido pressionada

Ainda na conversa, que teria acontecido na casa do vereador Gerson, no final de semana, a voz que supostamente seria da mãe da denunciante Marilene Amarante diz ao político “primeiramente, perdão. Eu vim pedir perdão porque, olha, isso jamais poderia (inaudível)”. A denunciante pede a palavra pela primeira vez e diz “Calma, vamos começar do começo. Quem veio me procurar, me pressionando dizendo ‘você tem que ir se não você vai junto, você vai junto’”, diz sem concluir o raciocínio. A esposa do vereador então questiona “‘mas de onde que eles tiraram essa ideia?” a jovem então prossegue “porque eles tinham provas”. Gisele então diz “mas caiu na conversa do Pedro?”, novamente se referindo supostamente ao ex-assessor Pedro Bruno. Thalia então diz “a gente conviveu nos outros anos e eu achei que ele era amigo. Amigo do Gerson”. O vereador responde que “na política aqui não tem amigo. A gente ficou escandalizado”, completa.

Marilene então teria citado outro ex-assessor de Gerson, Claudinho Amarante, que é tio e foi responsável pela indicação de Thalia. “O Claudinho ontem de noite nos expulsou lá da casa dele. Eu não tiro a razão dele”, com voz de choro a mãe continua “eu perdi o chão”. O áudio segue com trechos inaudíveis.

A reportagem procurou o ex-prefeito Eduado Dalmora, Claudinho Amarante e o advogado Paulo Sérgio Guedes, que responde pela defesa de Thalia, mas não obteve resposta até o fechamento dessa reportagem. Nós não conseguimos contato com Pedro Bruno.

Pessoas atribuídas às vozes do áudio confirmaram que as citações a “Dalmora e Pedro” se tratavam do ex-prefeito Eduardo Dalmora e do ex-assessor Pedro Bruno. 

Confira o áudio supostamente gravado na casa do vereador:

Em trechos de conversa entre Thalia e advogada, a denunciante cita sofrimento dos pais

Em mensagens que supostamente teriam sido trocadas pela advogada Cristiane Ferreira da Maia Cruz e a ex-assessora Thalia Burdzinski, pelo aplicativo WhatsApp, a advogada teria dito que “quanto ao assédio sexual você até pode desistir e tem que tomar cuidado para não acabar respondendo por crime de denunciação caluniosa ou até por calúnia e difamação”, a advogada então explica como se dariam esses processos contra a ex-assessora e que denunciação calunionsa quem faz é o próprio delegado do caso. A advogada procede dizendo “De qualquer forma ,se você quiser, podemos conversar um pouco antes de entrar na delegacia. O que acha?”.

Thalia diz então “meus pais estão sofrendo demais, e eu também. Estou pedindo que não quero que a senhora seja mais minha advogada, diante disso não quero que você use mais as provas que você tem, vídeo, etc. Se sair alguma coisa, sei que foi a doutora que vazou”.

Após as mensagens da ex-assessora, Cristiane responde dizendo “Olha, Thalia, eu sou sua advogada até o momento que você me destituir. Se você não quiser mais os meus trabalhos, não posso mais fazer nada. Já lhe orientei sobre os efeitos da sua desistência e isso é com você. Eu lhe devolvo o que tenho mediante termo de entrega e renúncia de mandato de procuração. Com relação a sua última frase de que ‘se sair alguma coisa, sei que foi a doutora que vazou’, deixo claro que existe sigilo entre advogado e cliente, talvez você não saiba sobre isso. Mas, de qualquer forma, terei que comunicar a delegacia de que não irei hoje e porque, no caso, que não serei mais sua advogada”, diz Cristiane. A jovem então complementa: “Entendo! Vou pagar pelas minhas consequências, mas é pela minha família”.

A advogada conclui. “Eu sou, ou era, sua advogada e minha função era te orientar. Você me mostrou as provas que tinha, eu avaliei e sim, eram verdadeiras. Por isso, falei ‘sim’ da possibilidade de realizar um B.O e ação. Agora te orientei do que pode ocorrer com sua desistência. E você me disse que está ciente das consequências e que vai constituir novo advogado. Face a isso, como disse, farei o termo de entrega e finalização dos meus serviços advocatícios. E boa sorte na sua jornada”, encerra a advogada Cristiane. 

A advogada Cristiane foi procurada para esclarecer os fatos, mas não se pronunciou até o fechamento dessa reportagem.

TV divulga vídeo de rachadinhas

A TVCI divulgou durante o programa “Voz do Litoral” dessa segunda-feira (1) uma reportagem sobre uma série de vídeos atribuídos pela ex-assessora Thalia em que ela narra como o dinheiro é repassado ao vereador. Em um primeiro momento, a jovem se apresenta, marca cada nota com um “R” e conta as cédulas até chegar a totalidade de R$ 2 mil. Após essa etapa, Thalia vai até a casa do vereador e repassa o dinheiro ao político. Toda ação é filmada.

Ao final, a estudante de fisioterapia diz que gastou a sua parte do salário e então o vereador repassa R$ 200 para a jovem dizendo “parceria é parceria”.

O JB Litoral teve acesso aos vídeos gravados por Thalia, que somam 9m40s de gravações. Também há um print e uma suposta conversa entre o vereador e a ex-assessora, em que o vereador diz “emprestei o dinheiro para você. Esqueça nossa cidade”.

Procurado, Gerson Junior comentou que a situação é uma “grande armação” e que é “tudo sujeira política”, o vereador também ressalta que “teve coação da advogada que foi procuradora do município também”, diz.

Autoridades investigam o caso

Em resposta ao JB Litoral a Polícia Civil informa que “está apurando todas as informações recebidas até o momento”. O Ministério Público do Paraná diz que “O MPPR em Matinhos está analisando a possível abertura de Notícia de Fato para apuração da ocorrência, embora não tenha sido protocolado nenhuma representação formal na Promotoria de Justiça”.A Câmara Municipal de Matinhos divulgou nota pública na tarde de hoje (01) dizendo que “A Câmara Municipal de Matinhos vem a público informar que de maneira alguma compactua ou aceitará qualquer ato ímprobo por parte de seus integrantes e que analisará o caso e tomará as medidas legais necessárias à elucidação das acusações com a adoção dos procedimentos legais e regimentais cabíveis de forma a garantir a transparência e a dignidade de seus trabalhos perante a sociedade”, informa o documento assinado pelo presidente Mário Braga Neto (PODEMOS), vice-presidente Rodrigo Gregóro dos Santos (PODEMOS), 1º secretária Nivea Carraro Gurski (PSD) e 2º secretário Milton dos Santos (PODEMOS).

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