Família raspa o cabelo junto com menino que enfrenta o câncer em Guaratuba
Sabe aquele momento em que a gente vê o mundo desabar? A nossa tendência é pensar que a vida acabou, né? Não para a família do pequeno Pedro Tkachechen Pereira, de cinco anos, de Guaratuba, no litoral do Paraná, que resolveu encarar a leucemia de frente e lutar com a melhor das forças que poderia, a leveza. Tem dado tão certo que até a tão temida hora de raspar o cabelo acabou transformada em festa.
A descoberta da doença veio há muito pouco tempo, há aproximadamente dois meses. “E só descobrimos porque ele estava brincando, bateu a cabeça e fez um galo que não ia embora nunca. Começamos a investigar o que poderia ser e chegamos ao diagnóstico. Se ele não tivesse batido a cabeça, talvez não teríamos descoberto”, contou a mãe, Bruna Tkachechen.
Diagnosticado com leucemia linfoide aguda (LLA), Pedro começou o tratamento imediatamente. “Os médicos nos explicaram que, embora seja uma doença rara, é o tipo de leucemia mais tradicional, com mais tecnologia para o tratamento, e o Pedro não tem nenhum agravante. Fomos alertados de que a chance de recuperação fica entre 70% e 80%, mas que dependeria muito da nossa participação, de seguirmos tudo à risca, então resolvemos encarar tudo isso da melhor forma que poderíamos”.
E aí, chorar ou sorrir?
Bruna contou que, sim, a vida da família virou de ponta-cabeça. “Sabemos que estamos num momento de pandemia, que ele poderia acabar contaminado por estar mais frágil, enfim, tivemos e continuamos com muitos medos. Descobrimos também que, em crianças, a quimioterapia é mais forte do que em adultos, então muitas preocupações tomaram conta da gente”.
Logo que receberam o diagnóstico, porém, os pais de Pedro conversaram e chegaram à conclusão de que iriam encarar tudo isso de uma forma diferente. “Combinamos, em família, que não levaríamos toda a seriedade da coisa para ele, para que ele conseguisse encarar tudo isso com mais leveza. Ele sabe que tem um ‘dodói’, mas tentamos levar as coisas da forma mais leve possível”, comentou Bruna.
Na avaliação da mãe, saber da leucemia de um filho lhe dava dois caminhos. “Foi realmente nos dada a chance de seguirmos chorando e lamentando, ou seguirmos felizes e fortes, porque é o que a gente tem. Optamos pela segunda. Claro que dá aquele baque, mas 99% do tratamento também seguimos felizes, porque isso também vai refletir lá na frente. Até mesmo para ele encarar o tratamento de uma forma diferente”.
Raspar o cabelo foi triste? Não para o Pedro!
Desde o momento em que a família soube da doença, Pedro já começou a tomar os remédios para se preparar para a quimioterapia. Segundo a mãe, ele está reagindo bem ao tratamento, mas foi o momento mais temido por todos que ensinou ainda mais a família toda: a hora de raspar o cabelo. “Quando começou a cair o cabelo mesmo, ficamos com medo, mas novamente lembramos daquilo que nos propusemos fazer, de encarar tudo com o máximo de tranquilidade possível”.
Bruna contou que Pedro ainda demorou uns dias para entender que preferia ter seu cabelo raspado. “Mas a decisão de raspar veio dele mesmo, porque estava incomodado por seu cabelo começar a cair, caía o dia todo, na boca, no rosto, então ele pediu que cortássemos”.
No momento de raspar, a família, que sempre conviveu junta, estava reunida e veio a surpresa. “Não foi nada combinado, mas depois que ele raspou o dele, meu marido também quis e ele mesmo raspou o cabelo do pai. Depois o avô raspou, os tios também acabaram raspando, e fomos todos pegos de surpresa. Pra gente foi ainda mais especial, porque nós sabemos o peso que esse momento tem e, quando vimos, estávamos todos rindo”.
O que era para ser um momento triste, se transformou num dia de alegria. A foto, que a família compartilhou nas redes sociais, bombou e apoio das pessoas foi, para o menino, a confirmação de que tudo vai ficar bem. “Para ele foi um momento de festa. De fato o que seria tristeza, assim como temíamos, foi só alegria. Depois, quando viu a foto publicada nas redes sociais, percebeu quantas pessoas gostaram e interagiram, ele ficou ainda mais feliz. Foi mais um gás que precisávamos para seguirmos em frente”.
Tratamento todo pelo SUS
Bruna Tkachechen contou que o tratamento de Pedro é feito totalmente pelo SUS. “Como moramos em Guaratuba, temos ido algumas vezes por semana até Curitiba, onde ele faz o tratamento no Hospital Pequeno Príncipe. De fato, não temos o que reclamar, pois mesmo sendo SUS nós tivemos tudo que ele precisava. Não teríamos dinheiro para pagar pelo privado”.
Aos pais, Bruna disse que o importante é não perder a fé. “Não se amedrontem diante do problema. Claro que a gente tem o primeiro impacto de medo e que nos vemos abatidos em vários momentos, mas não podemos deixar isso tomar conta. Temos que confiar em Deus e seguir com a missão de tornar o tratamento que poderia ser algo muito terrível em algo mais leve. Foi assim que conseguimos encarar a leucemia por aqui”.