Invasão do mexilhão-verde ameaça a fauna do litoral paranaense
O litoral paranaense está enfrentando a chegada de uma espécie invasora que tem gerado preocupação entre especialistas: o mexilhão-verde (Perna viridis). Nativo do Indo-Pacífico, especialmente da Ásia, essa espécie de molusco foi registrada pela primeira vez em 2020 na região, e desde então, seu número vem crescendo de maneira significativa, conforme explica Victor Faruk Morato, estudante do 3º ano de Licenciatura em Biologia e bolsista de iniciação científica envolvido no “Esverdeando o Litoral”, projeto de monitoramento da espécie realizado pela Unespar – campus Paranaguá.
O projeto, vinculado à iniciativa “Marés de Mudança: monitoramento, gestão e cenários presentes e futuros em relação às mudanças climáticas das espécies bentônicas não-nativas no Complexo Estuarino de Paranaguá”, conta com o apoio de Itaipu Binacional, Funbio e TAJ Litoral do Paraná, e tem como objetivo conscientizar a população sobre a fauna invasora não-nativa, além de monitorar o crescimento dessas espécies. “Iniciamos o monitoramento no começo deste ano, e o que observamos é preocupante. Nas primeiras coletas, registramos cerca de 60 organismos, mas nas últimas três coletas, esse número ultrapassou 100 exemplares“, relata Victor, indicando um crescimento exponencial do mexilhão-verde no Litoral.
Riscos à fauna local
A presença do mexilhão-verde representa uma ameaça considerável à fauna nativa. De acordo com Victor, essa espécie possui características que facilitam sua adaptação e dominância nos ecossistemas locais. “O mexilhão-verde é um organismo filtrador. Sua larva se fixa em um substrato, onde ele se desenvolve e permanece por toda a vida, desde que haja alimento em quantidade suficiente“, explica o estudante. No entanto, esse processo de fixação e crescimento pode comprometer o espaço ocupado por espécies nativas, como o mexilhão Perna perna e outros bivalves e invertebrados presentes no litoral paranaense.
O impacto na biodiversidade local é uma das principais preocupações. “Ele pode acabar tomando o espaço de espécies nativas, prejudicando a pesca e a coleta de organismos como o mexilhão-sururu e outros moluscos, que são fontes de renda para muitos pescadores da região“, alerta Victor.
Consumo humano: um dilema
Embora o mexilhão-verde seja comestível em algumas regiões do mundo, como na Indonésia, onde é cultivado em tanques para consumo e comercialização, a situação no Brasil exige cautela. “O problema é a qualidade da água no litoral paranaense“, afirma Victor. “Como o mexilhão é um filtrador, ele absorve tudo que está em suspensão na água. E como estamos em uma rota portuária, a água pode conter poluentes que tornam o consumo desse molusco perigoso“.
Segundo o estudante, ainda são necessários mais estudos para avaliar a segurança alimentar dessa espécie em águas locais, especialmente no que se refere à presença de metais pesados e outros contaminantes. “Apesar de ser visualmente atraente e de chamar atenção pela cor verde, ainda não temos certeza se o consumo da carne do mexilhão-verde seria seguro“, diz.
Monitoramento contínuo
Victor destaca que o trabalho de monitoramento do mexilhão-verde continua, e os dados coletados até o final do ano serão fundamentais para compreender a extensão do impacto dessa espécie invasora no ecossistema marinho do Litoral. Ao mesmo tempo, projetos de conscientização, como o “Maré de Mudança”, buscam envolver a população local e alertar sobre os riscos que essa invasão pode representar para o meio ambiente e para as atividades econômicas da região.
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