Irmão do ex-presidente do PT de Paranaguá é citado na Operação Lava Jato


Por Redação JB Litoral Publicado 21/04/2016 às 04h00 Atualizado 14/02/2024 às 13h12

Desde que os nomes do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) e da senadora paranaense, Gleisi Hoffmann (PT), apareceram nas tabelas de repasses da Odebrecht, apreendidas na 23ª fase da Operação Lava Jato, denominada de Acarajé, a discussão parecia encontrar-se apenas na esfera estadual e nacional. 

Porém, na semana passada, a coluna do jornalista Fernando Tupan, do site Bem Paraná, ganhou redes sociais e grupos de WhatsApp por trazer o nome do ex-presidente do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Paranaguá, Mário Kugler Rodrigues, que já tinha sido divulgado na imprensa em 2015. A suspeita é que esta situação ganhou notoriedade somente agora como ferramenta política por conta da disputa municipal de outubro.

Ocorre que o petista Mário Kugler é irmão de Ernesto Kugler Rodrigues, citado na Operação Lava Jato pelos delatores, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
O doleiro disse que, por orientação de Costa, entregou pessoalmente R$ 1 milhão a “um senhor em um shopping de Curitiba”, dinheiro que supostamente seria usado na campanha da senadora Gleisi Hoffmann. Youssef afirmou que o homem era Ernesto Kugler Rodrigues.

Nesta época, a senadora era presidente do PT do Paraná e Mário Kugler, que foi secretário parlamentar do ex-deputado Ângelo Vanhoni (PT), presidia o Diretório Municipal do partido na cidade e também exerceu a presidência da Fundação Municipal de Esportes (Fundesportes), na gestão de José Baka Filho (PDT).

Na nota veiculada no site “Bem Paraná”, que sugere finalidade e intenção meramente política, o jornalista tenta relacionar esta situação com a Operação Lava Jato rotulando o caso como “República de Paranaguá” e citando o acordo de delação premiada das empreiteiras OAS e Odebrecht.

Além do irmão de Mário Kugler, Tupan cita José Antunes Sobrinho, “homem forte da Engevix com sede em SC”. Entretanto, a nota fecha afirmando que esses nomes “têm endereço no centro da cidade litorânea”, o que não é verdade porque nenhum deles, inclusive o ex-presidente do PT local, reside em Paranaguá, pelo que apurou o JB.

Contas do PT não prestadas desde 2008

A reportagem do JB procurou a senadora Gleisi Hoffmann, que negou as denúncias dos dois delatores e assegurou não existir nenhum fundamento nas informações divulgadas pelo jornalista. Ela disse ainda que todas as doações recebidas em suas campanhas eleitorais estão disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que basta acessá-las. Porém, admitiu conhecer Ernesto Kugler Rodrigues com quem possui laços de amizade. “Como já disse diversas vezes, conheço Ernesto Kugler, amigo nosso e empresário paranaense”, disse a senadora. Quanto a José Antunes Sobrinho, Gleisi não foi enfática, mas disse que, pelo nome, “não se lembra dele, mas que é possível até que conheça”.

A reportagem do JB procurou o presidente da Comissão Provisória do PT de Paranaguá, o professor e diretor do Colégio Estadual Estados Unidos da América Jozelito Serafini para falar sobre o assunto e ele confirmou que Mario Kugler Rodrigues consta na lista de filiados do partido como Regular Oficial. Porém, informou que ele não tem participado e nem procurado o partido para discussões e debates.

O JB questionou Serafini se no período em que Mário Kugler presidiu o partido na cidade sua gestão partidária teve a prestação de contas aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). O presidente disse que “desde 2008 as contas do partido não são apresentadas ao TRE”. O que é surpreendente, levando em conta que após este período o partido teve candidatura a prefeito em 2012 e candidato a deputado estadual na cidade em 2014.

O presidente disse ainda que o PT de Paranaguá “nunca recebeu doações de nenhuma das empresas citadas na Lava Jato, e se em algum momento algum filiado recebeu deve responder na ordem pessoal”.

Jozelito deu ainda a posição do partido sobre esta situação. “Nós, da direção atual do partido, não compactuamos com atos ilícitos de qualquer membro da sigla e caso seja comprovada a participação, este será chamado na comissão de ética sendo passível podendo ocorrer a sua desfiliação. Sempre fomos contrários a doações e financiamento de empreiteiras para campanhas em qualquer nível. Estaremos sempre prontos a prestar esclarecimentos”, concluiu.
O JB enviou ainda quatro questionamentos para o Secretário Geral do PT do Paraná, Chic o Moreno, que serão veiculados na próxima edição.