Paranaguá é a 7ª cidade do Brasil com maior índice de infectados pela HIV/Aids por 100 mil habitantes


Por Luiza Rampelotti Publicado 10/12/2022 às 14h10 Atualizado 17/02/2024 às 23h41
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O último mês do ano é marcado pela campanha ‘Dezembro Vermelho’, instituída pela Lei nº 13.504/2017 no Brasil, com foco em mobilizar o País na luta contra o vírus HIV, a Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). O objetivo é divulgar informações para a prevenção, a assistência e a proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV.

Em Paranaguá, na quinta-feira (1), Dia Mundial de Combate à Aids, a Secretaria Municipal de Saúde promoveu uma ação, durante o dia inteiro, no Terminal Urbano, onde disponibilizou orientações, testes rápidos para detecção de HIV, Sífilis e Hepatites B e C, dispensação de preservativos, entre outros. A atividade buscava enfatizar a prevenção e o diagnóstico precoce.

De acordo com Denise França, diretora do Ambulatório Especializado em Doenças Infectocontagiosas do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), localizado no Centro de Diagnóstico João Paulo II, a procura pelo teste rápido é alta ao longo de todo o ano.

A procura pelo teste rápido sempre é alta. Realizamos o evento para que as pessoas conheçam o serviço e, também, contem com a ação extramuros em local central, além de todo o atendimento necessário, mesmo fora do João Paulo”, disse. Ela também destacou que os testes podem ser realizados nas unidades básicas de saúde.

A partir do resultado do teste, caso positivo para HIV, a pessoa já recebe atendimento com profissional para o aconselhamento e inicia o procedimento imediatamente. O tratamento, especialmente quando precoce, desempenha resultados muito positivos.

O que é o HIV


HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da Aids, ele ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças.

Porém, ter o HIV não é a mesma coisa que ter Aids. Há muitos infectados que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. No entanto, podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações.

Dados da HIV/Aids no Litoral


Em dezembro de 2021, o Ministério da Saúde lançou o Boletim Epidemiológico HIV/Aids, com informações sobre as 5.570 cidades do Brasil. No documento, com dados de 2016 a 2020, Paranaguá integra o ranking dos 100 municípios com mais de 100 mil habitantes com maior índice de infectados, ficando em 7º lugar. Isso significa que a taxa de detecção de Aids na população geral foi de 30,2 para cada 100 mil habitantes. Além disso, a cidade também lidera a maior incidência da doença no Paraná.

O JB Litoral teve acesso aos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) relacionados à HIV/Aids, da 1ª Regional de Saúde de Paranaguá, que compreende as sete cidades do Litoral. As informações detalham os casos notificados nos últimos 10 anos, de 2012 a dezembro de 2022.

No período, 1.793 casos foram registrados na região, a maior parte deles (675) em pessoas de 35 a 49 anos. Além disso, os mais infectados são os homens, respondendo por 1.112 do total de registros.

Apenas em 2022, 105 novos casos foram notificados no Litoral, sendo 10 em Antonina; 15 em Guaratuba; 11 em Matinhos; dois em Morretes; 53 em Paranaguá e 14 em Pontal do Paraná. O número representa uma diminuição de 20% se comparado ao ano de 2021, quando foram registrados 132 casos de HIV/Aids na região. 

Porto pode ser uma das causas


O diretor da 1ª Regional de Saúde, Leovaldo Bonfim, fala sobre a situação de Paranaguá no universo da contaminação pela doença e avalia as possíveis razões para a cidade ter um índice tão alto de infectados.

Paranaguá está em 7° lugar no Brasil entre os municípios com mais de 100 mil habitantes e há muito tempo é o município com maior índice de contaminações no Paraná. Isso se deve, muito provavelmente, em razão de ser uma cidade portuária com intensa circulação de pessoas de fora e, também, em virtude do elevado consumo de drogas pelo mesmo motivo”, analisa.

Segundo ele, o controle da doença é muito difícil justamente devido à população flutuante. Além disso, o diretor revela que, normalmente, o diagnóstico é feito de forma tardia em razão da baixa procura das testagens rápidas.

A alternativa mais aplicável é o investimento pesado na educação e na divulgação das formas de prevenção nos meios de comunicação, sendo que o poder público, tanto Estadual como Municipal, disponibilizam os preservativos de forma gratuita nas unidades básicas de saúde”, finaliza.

Pastoral da Aids


Com a cidade de Paranaguá liderando o triste ranking da maior incidência de Aids no Paraná, e em 7º entre as 100 cidades com mais de 100 mil habitantes com mais infectados, Sueli Ferreira dos Santos decidiu trabalhar para a orientação e prevenção da doença. Ela é a coordenadora da Pastoral da Aids da Paróquia São João Batista.

Criada em 2005, a Pastoral realiza ações em datas específicas, além de atender cerca de 30 pessoas que têm Aids com visitas domiciliares, orientação, apoio para compra de remédios, doação de cesta básica etc. “A partir de 2007 conseguimos uma sede onde fazíamos esses atendimentos, mas, com o passar do tempo, as ajudas diminuíram. Então hoje não temos mais um espaço físico”, conta Sueli.

A pastoral atua em nome da Igreja Católica exercendo atividades pelas quais a igreja possa realizar a sua missão, que consiste, basicamente, em continuar as ações de Jesus Cristo. “Trabalhamos em cima da nossa missão e ações a questão espiritual, que é o amor à vida, também a prevenção. Baseados nesses princípios fazemos nossas ações”, explica a coordenadora.

Anualmente, a Pastoral da Aids atua durante a Vigília e Mobilização em Solidariedade às Vítimas da Aids, durante a semana de 25 a 29 de maio, e em 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids. Fora isso, a entidade se dedica a atender as pessoas que a procuram via WhatsApp (41 99984-2538) com orientações, além de contar com os agentes que fazem o trabalho de visita domiciliar.

Não fazemos uma busca ativa, são as pessoas que nos procuram, geralmente quando recebem o exame com o resultado positivo. A partir daí, começamos a parte do atendimento. Às vezes elas precisam de uma complementação na medicação, de cesta básica, etc.”, comenta Sueli.

“A Aids não deixou de existir”, diz coordenadora


Ela conta que, nos últimos anos, a Pastoral parou de ser convidada para realizar palestras em escolas e empresas, muito provavelmente por conta da Covid-19. No entanto, a coordenadora alerta que a doença não deixou de existir.

As pessoas acham que a Aids deixou de existir, que só existe Covid, mas a infecção continua, as pessoas estão com vida sexual ativa, então a transmissão ainda acontece”, destaca.

Ela também desabafa que, neste momento, a Pastoral tem uma grande necessidade de um espaço físico para realizar os atendimentos, já que um ponto de referência para as pessoas é muito importante. Além disso, a entidade necessita de doação de cestas básicas para continuar seu trabalho de auxílio aos infectados.

Sueli conta que a Pastoral foi criada para levar esperança às pessoas contaminadas, além de ajudar na quebra de preconceitos. “A questão é o amor à vida, então, cada um tem que se preocupar com sua vida e ter cuidados consigo mesmo em primeiro lugar. A partir do momento que a gente se ama, também passamos a amar e a cuidar das outras pessoas. Além disso, quando a pessoa se trata, ela deixa de transmitir o vírus. Por isso é importante deixar de lado os preconceitos e entender que hoje temos avanços científicos”, conclui.