Prefeitura destinou R$ 2 milhões à empresa do doleiro Youssef em dezembro de 2012
Na última quinzena de maio, a revista Veja, publicou matéria onde demonstrou que vários municípios do Brasil tiveram seus fundos de previdência municipais destinados à empresa Marsans Brasil, de propriedade do doleiro Alberto Youssef, que é investigado pela Polícia Federal, a chamada operação “Lava-Jato”, por um esquema de lavagem de dinheiro no Brasil que envolve ao total cerca de R$10 bilhões. Dentro desse montante de recursos, cerca de R$2 milhões, a suspeita é que tenha saído dos cofres da Paranaguá Previdência, segundo documentos da revista Veja.
O repasse de dinheiro ocorreu entre 2012 e 2013 pela Prefeitura Municipal de Paranaguá à empresa que é de propriedade de Youssef desde 2010. Segundo a revista, entre 2012 e 2013 a Marsans Brasil, empresa controlada por Youssef, angariou de vários fundos de previdência de servidores municipais em Prefeituras do Brasil um total de R$23 milhões. Desse total, o Paranaguá Previdência contribuiu com R$2 milhões, só perdendo em repasse para o Instituto de Gestão Previdenciária de todo o estado do Tocantins, que repassou R$12 milhões, e para o município de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso.
Além desses entes, outros municípios também investiram na empreitada, todos se tornando sócios de Youssef. O processo de repasse dos fundos de previdência foi feito através do Fundo de Investimento em Participações (FIP) Viaja Brasil, que foi criado pelo banco Máxima, com intenção de impulsionar o crescimento da empresa do doleiro, Marsans Brasil. Segundo o que informa a consultoria Lopes Filho, o dinheiro que entrou nesse fundo teria sido aplicado na Graça Aranha RJ Participações – uma das donas da Marsans. Por outro lado, documentos da Junta Comercial do Rio de Janeiro informam que há outro dono na Marsans, a GFD Investimentos, de propriedade de Youssef.
Apesar do alto lucro obtido com o número de investimentos no município, segundo a reportagem da Veja a situação financeira da Marsans “causa estranheza”, devido ao fato de que a empresa sofre dificuldades, visto que atualmente a compra de passagens aéreas pela Marsans caíram de forma drástica no primeiro semestre de 2014, sinal interpretado economicamente como queda no faturamento devido ao fato de que menos clientes contrataram viagens. Ainda de acordo com a reportagem, e-mails que foram interceptados pela PF demonstravam que Youssef tinha a pretensão de injetar ainda mais dinheiro para a Marsans, sendo que o mesmo foi inclusive cobrado pelo diretor-geral da Marsans, Luiz David de Almeida, que preferiu não se manifestar sobre o caso, dizendo não ser mais diretor da empresa, apesar disso, funcionários da própria Marsans informaram que até a última semana Luiz David ainda era diretor.
“Se fundos de previdência resolveram investir na Marsans, quem tem de responder são eles. Muitas das coisas que Alberto tentava fazer eram legais. Eu particularmente desconheço que tenha ocorrido irregularidade em relação a fundo de pensão”, ressaltou o advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, que jogou a responsabilidade por qualquer ilicitude no negócio para os próprios fundos de previdência, no caso local em questão, o Paranaguá Previdência.
Youssef é conhecido no Paraná e no Brasil
Em 2000, Alberto Youssef ficou conhecido no Paraná devido a escândalo no banco Banestado, por ter remetido bilhões de dólares ao exterior através de contas do banco que pertencia ao Estado. O governador da época era Jaime Lerner, que posteriormente privatizou o banco. Na época, o doleiro foi condenado judicialmente por evasão de dívidas, no entanto fez um acordo por causa de delação premiada com a Justiça Federal, onde entregou informações para posterior investigação sobre o caso, conseguindo assim uma punição mais leve do que a esperada.
Apesar de ter escapado, Youssef novamente se envolveu em escândalo em período recente. Na operação Lava-Jato, a PF encontrou vários indícios de que Youssef estaria controlando um esquema bilionário de lavagem de dinheiro, que será julgado em junho, pelos crimes de participação em organização criminosa, evasão de dívidas, operação indevida de instituição financeira e, claro, lavagem de dinheiro.
Consta ainda que desde 2010 Youssef estaria recolhendo recursos para campanhas de políticos, visto que a PF ainda encontrou contatos frequentes em período recente comos deputados federais André Vargas (ex-PT) e Luiz Argôlo (SDD). Além disso, o doleiro estaria envolvido em negócios com a Petrobrás e comandava um laboratório farmacêutico que conseguiu faturar R$35 milhões nos últimos anos, tudo isso em parceria com o Ministério da Saúde.
Prefeitura responde
A Prefeitura Municipal de Paranaguá enviou nota ao JB, ressaltando que “o repasse referente ao fundo da Paranaguá Previdência, constante na matéria publicada por “Veja”, foi objeto de solicitação de transferência ocorrida a partir do dia 10/12/2012, ocorrida ainda durante a gestão Municipal 2009/2012. A situação gerou enorme polêmica, pois se pretendia a transferência de valor financeiro ainda maior, que encontrava-se aplicado em Fundos administrados pela Caixa Econômica, e seriam levados à instituições privadas, em alguns casos, com pouco tempo de mercado”, informa.
O período citado pela assessoria, entre 2009 e 2012, demonstra que o repasse teria sido feito na época em que José Baka Filho (PDT), era prefeito de Paranaguá. Ainda segundo nota da Prefeitura, devido ao repasse feito pela Paranaguá Previdência “o Sindicato dos Servidores Municipais interviu na situação, procurando a instituição bancária (Caixa) e o Ministério Público, a fim de impedir a arriscada operação, na visão dos servidores.No que temos conhecimento, houve intervenção através de Ação Judicial proposta pelo Ministério Público, em que se obteve liminar obstando transferência de tais fundos.
Diante de tal ação, é que a transferência ficou limitada aos 2 milhões de reais que restaram transferidos antes das providências judiciais adotadas”. A Prefeitura ainda sugeriu sobre a matéria da Veja que, provavelmente as informações de repasse de R$2 milhões do Paranaguá Previdência à empresa do doleiro Youssef, “façam referência a tal fato, pois que, em regra, os fundos do Paranaguá Previdência encontram-se aplicados em Bancos Estatais, cuja garantia de retorno e estabilidade são maiores”, completa.
O assunto foi inclusive levantado em sessão legislativa na Câmara Municipal na última quinta-feira (22), pelo vereador Arnaldo Maranhão (PDT), que comentou sobre a reportagem da revista Veja, ressaltando que infelizmente Paranaguá estava novamente sendo citada no noticiário nacional por escândalos na administração municipal, relacionando o envio de R$ 2 milhões a Youssef ao ex-prefeito José Baka Filho. A reportagem do JB entrou em contato com o ex-prefeito para que falasse sobre o assunto, mas até o fechamento da edição não houve retorno.