Prefeitura não atende orientação do MS e se perde no número de casos em Paranaguá


Por Redação JB Litoral Publicado 25/02/2016 às 08h00 Atualizado 14/02/2024 às 12h30

Em uma postagem no site oficial, publicada no dia 14 do mês passado, o prefeito Edison de Oliveira Kersten (PMDB) informou que a divulgação do diagnóstico da dengue tem que ser feito em até 20 dias, segundo determinação do Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). “O resultado agora demora cerca de 20 dias. Essa é uma orientação que temos que obedecer, não é uma falha municipal”, disse Kersten. 

Passado um mês desta informação, o JB mostrou casos que passaram de 30 dias e outras situações em que os diagnósticos sequer tinham sido divulgados, contrariando a determinação do MS e Sesa.
Além da demora, a reportagem constatou ainda um caso onde o exame epidemiológico para a confirmação da dengue não foi enviado ao Laboratório Central do Estado do Paraná (LACEN), segundo confirmação da Chefe da Divisão dos Laboratórios de Epidemiologia e Controle de Doenças do órgão, a diretora Dra. Elizabeth El Hajjar Droppa.

Na semana passada, o JB procurou a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) e a Sala de Situação para saber o porquê da demora e do não envio do teste ao LACEN. Falando por ambos os setores, a secretária municipal de Saúde, Sandra Luiza Machado, não conseguiu responder todos os questionamentos e chegou a ser evasiva em algumas repostas. Questionada sobre a quantidade de testes ainda não repassados a partir do dia 15 de janeiro, a secretaria não deu números e limitou-se informar que “diariamente todas as sorologias são encaminhadas ao LACEN, sendo assim não há estoque de amostras”. Mesmo ciente da determinação do MS e do Sesa no prazo de 20 dias para dar o diagnóstico, a secretária ressaltou que a demora de mais de 30 dias constatado pelo JB não é considerada atraso.

Sobre o caso de não envio do teste ao LACEN, mesmo confirmado pela Chefe da Divisão dos Laboratórios de Epidemiologia e Controle de Doenças do órgão, Sandra disse que apenas os testes rápidos realizados em pacientes graves não estavam sendo encaminhados ao LACEN.

Diferença no número de casos autóctones

No controle mais essencial no combate à dengue, que é o total de casos autóctones constatados na cidade, Sandra Machado, parece ter se perdido nos números. Ela informou a confirmação de 530 casos na cidade, entretanto, dois dias antes do Natal, uma postagem do resultado dos casos de dengue na cidade em 2015 feita no site oficial já anunciava 554 confirmações, um índice de 24 a menos do número atual, após dois meses de epidemia da doença.

Questionada sobre quais ações foram realizadas após a denúncia do JB sobre as piscinas localizadas no imóvel antigo Bola de Neve na Avenida Coronel José Lobo, nas Ruas Manoel Pereira e Professor Cleto e da casa ao lado da SEMSA, Sandra Machado destacou as providências tomadas. Na casa da José Lobo foram realizadas vistorias pelas equipes do município e estado, aplicado larvicida e passado bomba costal por mais de uma vez. A Secretaria de Urbanismo localizou o proprietário para notificar e descobriu que ele está residindo na Bahia. Porém, foi localizado um familiar na cidade, que irá tomar medidas de prevenção. Nas casas das Ruas Manoel Pereira e Professor Cleto foram solicitados números de protocolo e o imóvel ao lado da SEMSA está para alugar através de imobiliária. Na última ultima terça-feira (16), as agências de imóvel receberam convocação para uma reunião para tratar de manutenção e conservação.

No último questionamento, sobre a decisão da presidente Dilma Rousseff de permitir o acesso a possíveis focos de dengue em imóveis fechados, a secretária informou que a população pode fazer a denúncia pelo número 199. O serviço funciona de segunda-feira a sexta-feira, das 8h30 às 17h30, sem interrupção.

Entenda o caso

Com altos índices de casos autóctones confirmados, que já resultaram em referências negativas na mídia nacional, a ponta do novelo da doença que gera todos os demais índices não está funcionando como deveria – que é o repasse de casos suspeitos – em razão do provável não envio de diversos testes ao LACEN para a necessária análise. A descoberta pelo JB desta grave denúncia ocorreu justamente em função do teste feito pelo editor do jornal apresentar um atraso de mais de um mês no resultado.

Na quinta-feira (11), com 35 dias de atraso, o editor tomou conhecimento, no setor de epidemiologia, que o “LACEN ainda não havia enviado” o resultado de seu teste, apesar de ter resultados do dia 12 de janeiro a serem repassados aos suspeitos da doença.

Intrigado com esta situação, neste mesmo dia, o jornalista fez contato com o LACEN e tomou conhecimento, através da Chefe da Divisão dos Laboratórios de Epidemiologia e Controle de Doenças do órgão, a diretora Dra. Elizabeth El Hajjar Droppa, que o teste não havia sido enviado pela Secretaria de Saúde. A diretora admitiu um intervalo de apenas uma semana pelo fato de apenas um profissional estar trabalhando na realização dos mais de sete mil exames enviados ao órgão. Ao procurar pelo resultado, a diretora encontrou apenas o cadastro do jornalista no órgão feito no dia 5 de fevereiro, mas sem o envio do material (teste de dengue), que foi encaminhado para rede de saúde no dia 11 deste mês, apesar de ter sido realizado no dia 7 de janeiro. Até aquele dia, o teste ainda não havia chegado ao LACEN.