RUMO/ALL quer mudar traçado da ferrovia, o que poderá alterar cenário turístico


Por Redação JB Litoral Publicado 17/03/2017 às 10h49 Atualizado 14/02/2024 às 20h30

A centenária ferrovia que liga Paranaguá a Curitiba, utilizada principalmente para o escoamento da safra de grãos do Estado via Porto de Paranaguá, poderá ter mudanças em seu traçado, segundo a empresa responsável pelo sistema ferroviário paranaense, Rumo/ALL, conforme anúncios realizados no início de 2017. A empresa garante que a medida irá triplicar o escoamento de grãos e diminuirá a geração de poluentes. Apesar disto, a medida traz dúvidas quanto ao respeito pelo patrimônio histórico da via férrea, assim como com relação à falta de contrapartida em benfeitorias na principal construção em torno da ferrovia em todo o litoral: Estação Ferroviária de Paranaguá.

A ferrovia possui uma ampla história, com 132 anos, construída pelos Irmãos Rebouças, sendo inclusive parte do Patrimônio Histórico do Paraná. Dúvidas pairam sobre se esta mudança no local iria afetar a construção centenária. A intenção da empresa é a de aumentar o raio da curva na área próxima à Ponte São João, em Morretes, um dos principais cartões postais do Paraná. Tal mudança iria possibilitar a substituição de trens e vagões antigos. O ganho logístico ocorreria com a presença de mais carga, triplicando o escoamento e, segundo a RUMO, iria reduzir em 80% a geração de poluentes na Serra do Mar e no Litoral.

Segundo o Conselho de Patrimônio Histórico do Paraná um dos itens pedidos, para que a empresa amplie a ferrovia, é a contrapartida nas estações ferroviárias da Casa da Pedra, em Quatro Barras, região metropolitana, e em outra que não foi citada oficialmente. A medida gera dúvidas em benfeitorias para a Estação Ferroviária de Paranaguá, que, apesar de que será revitalizada pelo município, poderia receber ainda mais melhorias com a atuação positiva da empresa. “A Rumo reforça que está disposta a cumprir com as compensações ambientais exigidas pelo Ibama. Mas entende que é um retrocesso que outras autoridades dificultem uma obra desta importância por causa da remoção de 68 árvores – cuja compensação está prevista no processo de licenciamento orientado pela legislação ambiental”, diz a empresa em nota. Apesar do “alvoroço” em torno de modernização da ferrovia, o projeto atualmente está parado, visto que o Conselho em questão precisa concordar para que as obras sejam iniciadas.

 

Mudanças geográficas na Serra e ferrovia

Segundo a empresa, para que a curva de raio da ferrovia seja alterada, deverá ser feita o desmonte de uma rocha na Serra do Mar, assim como possível desmatamento, onde será obrigatória a reposição de mata, algo somado ainda à necessidade de revitalização das duas estações. “Não é que a obra não pode ser realizada, mas é preciso uma contrapartida. A visão do Conselho é que, uma vez permitida a modificação de um bem tombado, a estrada seja desfigurada”, afirmou. Ainda de acordo com Krieger, não há comprovação de que o aumento significativo da carga não cause danos à estrutura. “A estrada não foi projetada para esta quantidade de carga que eles estão pretendendo. É possível que isto danifique a estrutura”, afirma o Coordenador do Conselho do Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura do Paraná, Sergio Krieger.
 

Apoio do agronegócio

Ainda segundo a Rumo/ALL, a capacidade atual de escoamento via ferrovia Curitiba-Paranaguá é de 10 milhões de toneladas por ano, número que subiria para 27 milhões de toneladas, com as alterações no traçado que estão com obras paradas atualmente. A empresa destaca, inclusive, que já pediu uma nova análise para aprovação da obra neste ano, porém não obteve resposta ainda da Secretaria de Cultura. Outra postura da Rumo é no mínimo polêmica: o patrimônio histórico seria a Serra do Mar, já tombada como tal, e não a ferrovia centenária.

O setor do agronegócio paranaense está apoiando a mudança na rodovia. A Secretaria de Planejamento do Paraná se coloca, inclusive, em posição diferenciada do que a pasta estadual de Cultura, ressaltando a necessidade de que a obra aconteça e o desafogo que ela ocasionará na BR-277, que hoje concentra 80% de todo o transporte de grãos para Paranaguá. Segundo Murilo Noronha da Luz, corretor de exportação da Secretaria de Planejamento do Estado, apenas 20% dos grãos transportados ao porto vêm via ferrovia. “Há mais margem de intervenções no setor ferroviário e há urgência no aumento da capacidade deste modal, que é muito subutilizado”, completa.

 

*Com informações de Laura Beal Bordin/Gazeta do Povo.