SISMMAP repudia fala do Vereador Nilo e agradece pela aprovação de emenda


Por Redação JB Litoral Publicado 23/11/2017 às 18h01 Atualizado 14/02/2024 às 23h48

O que poderia ser uma sessão 100% produtiva, tanto para a categoria do magistério e servidores lotados na Secretaria Municipal de Educação em Tempo Integral (SEMEDI) como para o Poder Legislativo, no dia 7 deste mês, encerrou de forma constrangedora para os profissionais de educação, em especial para os que atuam na educação especial em Paranaguá.

Um pronunciamento feito em “tom alterado e aparentemente raivoso”, na visão do Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Paranaguá (SISMMAP), do Vereador Nilo Monteiro (PP), líder do Prefeito Marcelo Elias Roque (PODEMOS) na Câmara Municipal, resultou em uma nota de repúdio da entidade sindical, pelos comentários depreciativos contra a categoria.

O fato ocorreu durante a discussão de um requerimento que tratava da segurança nas escolas, momento em que o vereador se valeu da ausência de alguns educadores e pais de alunos, que acompanhavam a sessão, para distorcer fatos e tecer críticas injustas aos profissionais do magistério, após a votação do Projeto de Lei Complementar nº. 256/2017, que, dentre outros, incluiu nova classe no quadro de professores.

A reportagem  teve acesso ao áudio gravado por uma das professoras onde o vereador afronta a categoria ao dizer: “parece que a Câmara tá amedrontada ao funcionalismo de algumas classes”.

Porém, diante do seu desconhecimento de como funciona o sistema de ensino na cidade, Nilo disparou em seu pronunciamento.

“Só que não querem sair de uma sala de aula, que atendem 4, 5 crianças, para ganhar de 5 a 7 mil reais? E não querem ir pra trabalhar para 20, para 30? Complicado, né, Professor? Complicado deixar nós contra a população”, disse o vereador.

Para agravar ainda mais a situação, o vereador participou do programa “Sem Frescura Sem Fricote” do Prefeito Marcelo Roque na Rádio Litoral Sul FM e chamou os alunos da rede municipal de ensino como “mercadoria”.

“Ele demonstrou que não tem conhecimento suficiente dos profissionais que atuam na rede municipal e o que mais deixou chocada toda a categoria, foi tratar nossos alunos como “mercadoria”. Para nós os nossos alunos não são mercadoria, não é cliente que estamos atendendo, nós estamos transformando a vida de uma criança, estamos apresentando para ela aula de cidadania no seu futuro”, disse a Presidente do SISMMAP, a Professora Andrea Elias de Paula.

Profissionais de educação, mas também mães e esposas

Em defesa da categoria, a dirigente sindical disse que estas declarações a deixaram, como a categoria  e profissional de educação, muito chateada. No que tange a ausência, a dirigente sindical destacou que isto ocorreu, não pelo fato de não se interessarem com os assuntos abordados na Câmara, pois houve casos em que a categoria ficou até quase meia-noite aguardando votação de interesse da classe, enquanto ouvia os que diziam respeito à cidade e aos parnanguaras.

Porém, a partir do momento em que se encerrou a votação da emenda do Vereador Adriano Ramos (PHS), o qual corrigiu uma injustiça histórica na área da educação, segundo a presidente, os professores se retiraram por conta de terem seus filhos, maridos e seus compromissos de casa para fazer. “A função do professor não termina a partir do momento em que ele sai da escola, ali começa uma nova função que é a de dona de casa, da mãe, da esposa, então ela tem mais uma jornada a cumprir, além do que já fez no seu local de trabalho. Por termos conseguido aquilo que estávamos aguardando, os professores se retiraram da sessão, mas alguns prosseguiram pela internet e ouviram a fala do Vereador Nilo, após a retirada dos professores, falando que estavam indo lá por interesse próprio e não coletivo”, disse Andreia de Paula.

Para a líder sindical, ele fez um comentário infeliz e que não procede, ao querer colocar a situação da lotação com salário de professor com números de alunos que o professor atende. “Isto não estava em questão e sim a lotação do professor e a permanência dele no CEMEI. Ele disse ter uma lista com mais de 500 nomes de professores que trabalham em escolas que atendem 4 ou 5 alunos que ganham 7, 10 ou 15 mil reais. Para falar isto ele tem que saber como é a vida profissional deste professor, se ele ganha este valor, teve elevações, tem tempo de serviço, gratificações e assim não pode falar sem saber na realidade como funcionou, de que forma o professor chegou a este salário que ganha hoje. Foi uma atitude que a categoria não gostou e pediu uma retratação”, exigiu a presidente.

Educação especial

Por conta destas declarações, o sindicato redigiu uma carta de repúdio explicando as contradições do vereador na sessão, principalmente sobre seu comentário a respeito de o professor lecionar para poucas crianças, o que se dá em razão de que estas turmas são de Ensino Especial, alunos com deficiência mental.

“Estes merecem não somente total atenção e dedicação dos professores, mas o respeito de toda a população. A começar pelas mais elevadas autoridades do nosso município”, consta a nota.

O SISMMAP destacou, ainda, que com relação aos salários de alguns servidores e esta relação que se fez com o número de alunos atendidos, foi consideradadesrespeitosa, irresponsável e leviana a abordagem”. “A uma, porque a média salarial de professores, educadores e pedagogos é muito inferior aos valores divulgados. A duas, porque a fala omite, talvez de maneira proposital, que os vencimentos de alguns servidores, eventualmente superiores à média de salários da categoria, englobam adicionais de tempo de serviço, promoções pela formação acadêmica, dentre outras gratificações e vantagens previstas em lei e que foram agregadas ao longo da carreira. A três, porque a opinião do legislador fomenta a ideia junto à opinião pública de que o professor municipal ganha muito e não quer trabalhar, o que é uma inverdade, e ofende a dignidade do servidor”, encerra a nota que foi lida na sessão seguinte pelo Vereador Jaime Ferreira dos Santos (PSD), o Jaime da Saúde. 

Vereador leu nota de repúdio do SISMMAP na sessão
SISMMAP agradece a aprovação da emenda

Sobre a aprovação das reivindicações da categoria, a presidente se mostrou agradecida com a Câmara de Vereadores, pois já vinham trabalhando nos Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEI´s) junto às professoras que ali lecionam, as quais não têm interesse e não querem sair do seu local de trabalho. Ocorre que elas estão há muitos anos nas creches e se especializaram para atuar nos CEMEI´s. A partir disto, foram marcadas reuniões com os vereadores, por conta desta situação e tentado se reunir com o prefeito. Entretanto, foram agendadas três reuniões com o gestor municipal, mas todas foram canceladas. Após isto, o sindicato mandou ofício para o prefeito e, até sexta-feira (17), não houve retorno. Por conta de todos estes acontecimentos, a entidade sindical conversou com o Vereador Adriano que se propôs a fazer uma emenda, pedindo a permanência delas nas escolas, uma vez que todas são lotadas na Semedi.

Presidente do SISMMAP cobra retratação do vereador para categoria

“Ele apresentou a emenda e todos os vereadores votaram a favor. Antes da votação teve a fala de uma professora que expôs toda a situação, fez um relato da vida do professor no CEMEI, do trabalho que executa, os anos de serviço que tem lá, de sua dedicação dentro dos cursos e das especializações que fez para estar ali e que não gostaria de sair. Esta fala talvez tenha comovido os vereadores que aprovaram por unanimidade. A emenda beneficia não apenas a professora como toda a categoria lotada onde está trabalhando. Esta garantia não prevalece só para os professores que estão nos CEMEI´s, mas toda a classe que está na profissão: professor, educador, a monitora, a pedagoga, todos seriam lotados no seu local de trabalho e não mais no Semedi”, comemora Andreia.