Tartaruga-verde encontrada em Pontal do Sul não resiste; plástico foi encontrado no estômago do animal e pesquisadores fazem alerta


Por Flávia Barros Publicado 02/02/2024 às 02h18 Atualizado 06/02/2024 às 15h38
|

Foram 10 dias de tratamento, torcida pela vida e, no fim, a perda. A tartaruga-verde, ainda jovem, encontrada viva, mas muito debilitada, na praia de Pontal do Sul, em Pontal do Paraná, em 31 de dezembro de 2023, morreu após os esforços da equipe do Centro de Reabilitação, Despetrolização e Análise de Saúde de Fauna Marinha (CreD), coordenado pelo Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC-UFPR), via Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS). A triste notícia foi divulgada esta semana pelo LEC-UFPR.

Longe de ser a última vítima

De acordo com os pesquisadores, muito magro e debilitado, o animal foi uma das muitas vítimas do lixo, principalmente do plástico, que é descartado incorretamente e chega ao oceano. Após a morte da tartaruga, durante exames, a equipe veterinária constatou a presença de lixo plástico no estômago, que causou a debilitação e a morte do animal. Cerca de 50% dos animais marinhos que encalharam nas praias do estado, desde 2019, ingeriram lixo, afirma a equipe do LEC-UFPR.

Lixo ingerido pela tartaruga a levou à morte, segundo os pesquisadores. Foto: LEC-UFPR

Lixo no mar

Também chamado de resíduo sólido, o lixo é um dos maiores problemas ambientais, sendo a forma de poluição mais difundida mundialmente. No ambiente marinho, cerca de 80% do lixo encontrado são plásticos, como garrafas PET, embalagens, armadilhas e utensílios de pesca. No processo de decomposição, esses materiais podem até ser fragmentados, mas não biodegradados (processo que demora de centenas a milhares de anos nos oceanos). Estima-se que, a cada ano, até 12 milhões de toneladas de lixo cheguem ao oceano.

Confundem com presas

Ainda segundo explicou o LEC-UFPR, os animais marinhos interagem com esse lixo ao acabarem ingerindo ou ao se enroscarem nele. Mariana Lacerda, bióloga e gerente do Projeto Coalizão Paraná pela Década do Oceano, explica que a ingestão pode ser direta, quando o animal confunde os resíduos com uma de suas presas em potencial, ou indireta, quando ele ingere esses resíduos junto com as presas. “As consequências tanto da ingestão quanto do emaranhamento são bem preocupantes, pois podem causar obstrução do trato digestivo, afogamento, sufocamento ou estrangulamento”, afirma Lacerda.

Metade dos encalhados ingeriu lixo

De acordo com análises de conteúdos estomacais dos animais encalhados a partir de 2019 e registrados pela equipe PMP-BS/LEC-UFPR no Litoral do Paraná, cerca de 50% deles ingeriram algum tipo resíduo de lixo, incluindo aves, tartarugas e mamíferos marinhos e diversas espécies ameaçadas de extinção.

As tartarugas marinhas estão entre os animais avaliados mais afetados. A frequência de ocorrência de plástico encontrado no trato digestório dessas tartarugas encalhadas chega a 80% (em uma análise que incluiu mais de 1.330 indivíduos). Muitas das tartarugas resgatadas nessa situação são juvenis, fase em que é possível que o lixo ingerido afete o crescimento do animal e importantes etapas de desenvolvimento para a fase adulta.