Mulheres que movem o porto: a revolução feminina que transforma o setor portuário com determinação e empoderamento
Na imensidão do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), onde os contêineres se movem como peças de um quebra-cabeça gigante, a presença feminina não é apenas notável; é revolucionária. No trabalho, o atrito das engrenagens e a delicadeza se misturam, e as mulheres se tornam a força que impulsiona histórias incríveis. Elas não só operam máquinas gigantescas, como também desafiam estereótipos.
Além do progresso evidente nos números, essa evolução também aparece nas histórias de mulheres que transformaram o concreto do porto em um palco para seus próprios destinos. Até o final de 2023, cerca de 20% dos colaboradores do TCP eram mulheres, totalizando 303 em um grupo de 1.500 pessoas. Foi no ano passado que esse número teve um aumento notável com 70 novas contratações, marcando o maior ingresso anual de mulheres no Terminal.
De comerciante para o volante de um caminhão de grande porte
Contudo, as transformações vão além dos números; elas se inserem no dia a dia das mulheres que estão moldando o futuro do setor portuário. “Eu nem imaginava que, um dia, de comerciante, estaria atrás de um volante“, revela Solange do Rocio Ramos, operadora de CT (caminhão de transporte para contêiner).
A mudança foi radical: do comércio aos caminhões de grande porte que ela agora manobra com maestria. “Eu era comerciante desde a adolescência, mas um dia decidi que queria dirigir ônibus“, recorda Solange.
No entanto, o destino a levou para um caminho diferente: o volante de um caminhão. Os desafios iniciais não foram apenas mecânicos, eram sociais. “Tinha aquelas críticas machistas. Aquelas palavras que dizem que o lugar da mulher é pilotando fogão. Aí o que que eu respondia? Não, o lugar da mulher é onde ela quer estar”, conta ao JB Litoral.
Desafios nas alturas
Enquanto Solange trilhava seu caminho, Daniele Midori se destacava nas alturas, guiando um RTG (guindaste empilhador de contêineres) com muita habilidade. Com uma carreira de 12 anos no TCP, ela reflete sobre sua jornada desde instrutora de categoria D até operadora de RTG. “Eu era instrutora de autoescola e fui convidada pelo TCP para trabalhar como motorista convencional. Nunca tive o pensamento de trabalhar na área portuária devido a ser um setor muito fechado para as mulheres, mas a empresa deu essa oportunidade e eu agarrei. Fiquei quatro anos como motorista e há oito estou como operadora de RTG”, diz ao JB Litoral.
Ela revela que a altura é um dos seus principais desafios, afinal, o equipamento tem cerca de 20 metros. No entanto, Daniele não se deixa intimidar. “A gente vai com medo mesmo e faz o trabalho bem-feito”, afirma.
Daniele também comenta que o trabalho é complexo e requer atenção meticulosa. “São muitos detalhes, requer atenção e paciência. Por sermos mulheres, já temos essas características do cuidado, do detalhe. Acredito que a gente faça o nosso trabalho tão bem quanto os homens e, por vezes, até melhor”, diz.
Ela recorda que, no início, há mais de uma década, enfrentou preconceitos no setor, mas o suporte fundamental não veio apenas de manuais operacionais, e sim de sua mãe. “Minha maior fonte de apoio é minha mãe, que acredita: ‘se Deus te concedeu essa oportunidade, tudo vai dar certo‘”, compartilha.
Transformando a cultura no quadro
Nos bastidores dessa transformação, ocorreu uma reestruturação nas diretrizes da empresa em 2024. Thais Fudo, supervisora de RH no TCP, compartilha que a ordem da gerência foi clara: aumentar a presença feminina no Terminal de Contêineres de Paranaguá.
“Reconhecemos que as mulheres são muito capazes para atuar no setor portuário, e elas fazem tão bem quanto os homens, e até melhor“, ressalta ela. A empresa não se limita a números, pois está comprometida em transformar a cultura corporativa. “A cada cinco colaboradores, uma é mulher, então, 20% do quadro. É bem significativo para a gente, é um recorde que pretendemos continuar aumentando“, afirma Thais.
Esse aumento significativo vai além da equidade; é também um reconhecimento das contribuições únicas que as mulheres acrescentam à empresa. “É evidente o impacto delas no setor. Apesar de ser uma mudança recente, já podemos perceber a diferença que a presença feminina faz na área. Por exemplo, na equipe de auxiliar reefer, que anteriormente era exclusivamente masculina, agora temos metade do quadro composto por mulheres“, relata.
Ela destaca que, apesar de a reestruturação estar em seus estágios iniciais, o terminal já possui ferramentas que contribuem para alcançar esse objetivo. “Possuímos uma plataforma de recrutamento e seleção com um espaço exclusivo para mulheres. Assim, qualquer mulher pode se candidatar e entra para nosso banco de talentos, sendo priorizada pelas recrutadoras antes de considerar outras vagas. Este é o início de um processo que estamos em constante aprimoramento, buscando melhorias ao longo deste ano“, afirma.
Com tanto a celebrar, a Semana das Mulheres no TCP foi muito além dos eventos comuns e superficiais. Thais compartilha iniciativas especiais, como workshops, sessões de massagem e eventos de empoderamento feminino. “Buscamos verdadeiramente empoderá-las, criando um ambiente que não apenas conta com a mão de obra feminina, mas que também valoriza essas mulheres e prioriza o cuidado com o bem-estar delas“, conclui.