Após 30 anos, governo do Paraná decide revisar Caso Evandro; Leprevost e Beatriz Abagge comentam


Por Redação Publicado 21/07/2021 às 15h20 Atualizado 16/02/2024 às 08h00

A morte do menino Evandro Ramos Caetano, em abril de 1992, em Guaratuba, tornou-se um dos mais polêmicos e históricos crimes da história do país, tendo o mais longo julgamento das cortes brasileiras e sendo responsável por diversas idas e vindas nas condenações dos acusados.

Quase 30 anos após o fato, a série documental “O Caso Evandro”, da Globoplay, e o podcast Projetos Humanos: Caso Evandro revelaram novas linhas de diálogos que corroboram com a tese dos acusados de que houve tortura e, somente por causa das agressões, ocorreu a confissão do assassinato de Evandro em um “ritual de magia negra”.

Com a divulgação dos áudios das torturas e o apoio popular que os agora conhecidos como “sete inocentes de Guaratuba” ganharam nas redes, o secretário da Justiça, Família e Trabalho do Paraná, Ney Leprevost (PSD), decidiu criar um grupo de trabalho para investigar as torturas ocorridas à época e também para trazer formas de garantir que casos semelhantes não voltem a acontecer.

Ney e Beatriz Abagge analisam grupo de trabalho

Em entrevista exclusiva ao JB Litoral, o secretário da Justiça e uma das acusadas da morte do menino Evandro comentam a repercussão do caso após novos desdobramentos, mesmo tanto tempo depois.

Uma das condenadas no caso Evandro, Beatriz Abagge luta por justiça após a comprovação de torturas

Para o secretário, o processo precisa ser revisto já que “prova obtida sob tortura é prova que não tem validade” e, portanto, “fica a suspeita de que pessoas inocentes podem ter ficado na cadeia por um crime que possivelmente não cometeram”, diz Ney Leprevost, que também lamentou a frustração dos pais das crianças Evandro e Leandro Bossi que não viram os responsáveis pelos homicídios sendo presos e punidos. “[A forma com que ocorreram as prisões] precisa ser revista para que esses erros não aconteçam no futuro e também para que a tortura seja algo execrado na história do Paraná”, diz o secretário.

Beatriz Abagge, uma das sete acusadas, diz que ela e sua mãe, Celina Abagge, veem com felicidade, e como forma de justiça, as reviravoltas que o caso vem recebendo. “Estamos bastante emocionadas com o posicionamento do estado por meio da Secretaria de Justiça, pois finalmente nossas vozes estão sendo ouvidas. Jamais pensamos que o estado pudesse ter a coragem e a sensatez de averiguar as graves violações de direitos humanos e, especialmente, o olhar para as famílias de crianças desaparecidas”, diz a filha do ex-prefeito de Guaratuba Aldo Abagge, que também analisa que torturas são inadmissíveis em uma democracia. “Penso que uma sociedade não pode se calar quando há provas concretas de torturas, pois atos como esse insultam o sangue arduamente derramado por aqueles que lutaram séculos pela inserção gradativa no sistema jurídico dos povos civilizados”, diz Beatriz.

Membros têm 90 dias para apresentar parecer

Após a abertura dos trabalhos da comissão, que reunirá membros da sociedade civil e do poder público, as medidas propostas aos órgãos de fiscalização e controle devem ser anunciadas até a segunda quinzena de outubro. “Eu acho que daqui sairão bons programas e projetos, tanto para a proteção dos direitos humanos quanto para a proteção das crianças do Paraná que são nossos bens mais preciosos”, diz o secretário Ney Leprevost.

Já Beatriz conclui dizendo que continuará lutando pela defesa dos Direitos Humanos e da dignidade de todo e qualquer indivíduo. “No Caso Evandro ignorou-se somente os princípios, valores e axiomas informadores do nosso Estado Democrático de Direito, e que nossa sociedade está edificada sobre a base da dignidade humana, estampada na Carta Política de 1988 como valor reitor. Houve o solapamento de direitos e garantias individuais como o que presume a inocência do cidadão. O que ocorreu foi afrontoso aos Direitos Humanos. E, diante de tamanha barbárie, a nossa luta é exatamente chamar a atenção do estado para que jamais aconteça com outras famílias o que aconteceu conosco. É um momento histórico no Estado do Paraná”, conclui Beatriz Abagge.

Por Brayan Valêncio