Clube de tiro em Paranaguá tem boa perspectiva para CACs: “estamos com lista de espera para novos registros”


Por Luiza Rampelotti Publicado 05/04/2023 às 17h29 Atualizado 18/02/2024 às 08h35

Desde janeiro deste ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu, medidas pró-armas, incentivadas pelo governo anterior, estão sendo combatidas. Por isso, no dia 1º daquele mês, Lula assinou um decreto que limita o acesso a armas e munições no país e suspende a concessão de novos certificados de registro (CR) a caçadores, atiradores e colecionadores (CACs), por, pelo menos, cinco meses, até que uma nova regulamentação do Estatuto do Desarmamento entre em vigor.

O decreto também restringe a quantidade de armas e munições que podem ser registradas por uma pessoa; suspende a possibilidade de registrar novos clubes e escolas de tiro; proíbe os CACs de transportar armas municiadas etc. Além disso, também está suspenso, pelo mesmo prazo citado, o “tiro recreativo” nos clubes, o que permitia que pessoas sem porte de armas ou registro de CACs praticassem disparos por hobby nos estabelecimentos.

Também está sendo realizado, pela Polícia Federal (PF), um grande recenseamento das armas em circulação no país. Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), de 2019 a 2022, o número de CACs, de armas em posse dos caçadores, atiradores e colecionadores, e de clube de tiros cresceu exponencialmente.

Em junho de 2018, os registros ativos de CACs eram de 117.467, em junho de 2022, esse número saltou para 673.818. Em janeiro de 2019, eram 1.055 clubes de tiros no Brasil, atualmente, são 2.061. Mais de um milhão de armas estão em posse do grupo.

Clube de tiro em Paranaguá


Para Noeli de Fátima Ávila, proprietária de um clube de tiro em Paranaguá, a expectativa é de que, em breve, os novos registros para CACs sejam liberados, uma vez que, segundo ela, “o atual governo já está entendendo que a visão que eles tinham dos caçadores, atiradores e colecionadores era distorcida”. “Nossa perspectiva é boa”, diz.

Noeli mora em Paranaguá há 15 anos, mas é natural de Francisco Beltrão (PR). Policial civil aposentada em 2016, já atuou na Força Nacional em 2017 e, em 2018, abriu o Ávila Clube de Tiro no município. Ela conta que sempre teve o sonho de empreender no ramo após perceber a necessidade de um clube na região.

Na época, muitos nem sabiam que podia ter um clube de tiro, mas já existia nas capitais e em outras cidades. Chegando em Paranaguá, me deparei com essa necessidade, especialmente para treinamentos dos policiais que para tudo tinham que se deslocar até Curitiba. Então fui desenvolvendo esse sonho, de que assim que me aposentasse, montaria o clube”, conta.

Noeli admite que com a eleição de Bolsonaro, a atividade dos CACs e dos clubes de tiros se tornou mais conhecida, mas ela destaca que, anteriormente, regras e normas já previam a possibilidade de se ter uma arma legalizada e praticar os tiros.  

Noeli Ávila é a proprietária do local. Ela é policial civil aposentada, já atuou na Força Nacional e também é instrutora de tiro. Foto: Rafael Pinheiro/JB Litoral


Modalidade esportiva e legalizada


Ao longo dos últimos cinco anos, a empresária conta que mais de mil alunos já passaram pelo Ávila e que, atualmente, cerca de 900 CACs são filiados ao clube, sendo que, metade, são moradores de Paranaguá. No estabelecimento, os frequentadores podem aprender a atirar, fazer cursos de defesa pessoal, defesa residencial, instrução de tiro etc., e, principalmente, se reunir com os demais caçadores, atiradores e colecionadores para praticar o tiro desportivo.

A maioria das pessoas não sabe que o tiro desportivo é uma modalidade esportiva e que a arma não é só para defesa, mas é um esporte legal”, comenta Noeli.

Ela também explica quais são os serviços oferecidos pelo Ávila Clube de Tiro. “A gente dá desde o curso inicial básico, quando a pessoa não entende nada de armas, até cursos mais avançados, pistas de ISPC, fazemos testes de tiro, toda a parte documental para que a pessoa venha a estar capacitada para ter uma arma de fogo, entre outros. Para os CACs, há uma exigência do Exército para que a pessoa esteja filiada a um clube de tiro para treinar, já que ela estará portando uma arma”, informa.

É coisa de mulher sim!


Apesar de o senso comum dizer que armas e tiros são “coisas de homens”, Noeli prova que, na verdade, as mulheres estão cada vez mais interessadas no assunto.

Aproximadamente metade dos sócios do clube são mulheres. Acredito que elas tenham começado a vir participar porque eu, proprietária, sou mulher, e isso se torna um atrativo e incentivo. A partir do momento que elas chegam, se apaixonam, porque a tiroterapia é muito desestressante”, diz.

Além disso, a empresária revela que elas se dão até melhor que os homens na atividade. “As mulheres são mais concentradas e vão melhores no tiro. Quando elas chegam, geralmente não sabem nada e querem aprender, então prestam muita atenção no que o instrutor ensina e fazem exatamente igual, diferente dos homens, que já chegam achando que sabem”, conta.

Segundo Noeli, o Ávila é conhecido como um clube de tiro familiar, o que promove um ambiente mais seguro e de identificação para as mulheres. “Elas se sentem muito à vontade e empoderadas aqui”, destaca.

Atividades controladas


Atualmente, o clube possui sete instrutores que atendem as demandas dos filiados. Um deles é José Fontana, que explica como funcionam as atividades dentro do estabelecimento.

Dentro do clube, além da prática dos tiros para os CACs, que têm a exigência pelo Exército de frequentar a um clube por, no mínimo, oito vezes por ano, para estarem aptos para o porte de arma, temos, também, vários cursos de aperfeiçoamento e defesa. Nenhum dos nossos alunos entra no estande sem o acompanhamento de um instrutor. Nossas atividades são todas controladas, a comando, isto significa que o aluno não entra dando tiro como ele quer. Nosso principal foco é a segurança do estande e dos nossos alunos”, conclui.

  • cacs, armas escola de tiro
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