Compostagem: Pontal do Paraná atua em frentes de aproveitamento de resíduos orgânicos


Por Flávia Barros Publicado 03/02/2023 às 21h25 Atualizado 18/02/2024 às 04h10

Ela é bem-vinda o ano inteiro, mas no verão é ainda mais requisitada por ser refrescante, gostosa, natural e rica em nutrientes. A água de coco combina com praia e, embora o fruto não seja original do Brasil, já habita o território nacional há quase 500 anos, quando foi trazido pelos primeiros colonizadores, se tornando um dos queridinhos da culinária nacional, tanto por fornecer a água como a polpa. Mas a casca do coco, em sua maioria, é descartada como lixo, ou era, pelo menos em Pontal do Paraná.

O projeto realizado pela Prefeitura, em parceria com a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), dá uma destinação bem diferente e inteligente ao material. Durante a temporada, os cocos consumidos pelos veranistas, principalmente nas areias das praias, são recolhidos pelos coletores da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e encaminhados para a sede da Compostagem, em Pontal do Sul. O “Nossa Praia Mais Limpa e Sustentável” foi criado em 2017 e passou quatro anos em estudo de viabilidade, sendo implantado na temporada passada, de 2021/2022.


COMO FUNCIONA


Ao chegar na sede da compostagem, o coco é triturado e se obtém a fibra, que, posteriormente, passa pela secagem para poder ser utilizada.

Por dia, trituramos de 100 a 200 cocos, tendo capacidade para mais. Uma parte das fibras vai para compostagem e outra está sendo usada em um projeto piloto que irá fabricar vasos de plantas, copos sustentáveis, entre outros produtos”, disse João Miquilini, assessor técnico da Agência de Inovação Tecnológica da Unespar, um dos responsáveis pelo projeto.

As fibras do coco servem para manter a umidade do solo, protegendo contra a erosão, e atuando como substituto de materiais como turfa e xaxim, ou como adubo orgânico nas plantações.


COMPOSTAGEM


A compostagem é a reciclagem dos resíduos orgânicos, através de um processo biológico que acelera a decomposição, permitindo a transformação em adubo, por ação de micro-organismos de resíduos orgânicos, tais como cascas, sementes e talos de frutas, legumes, verduras, serragem e folhas, por exemplo.

O procedimento contribui para o ciclo natural, recuperando nutrientes que seriam descartados junto ao lixo comum e os leva de volta para o solo, em forma de adubo, enriquecendo hortas e jardins.


ALÉM DOS COCOS


Em Pontal do Paraná, há mais dois tipos de compostagem além do aproveitamento do que resta do coco. Uma delas recolhe duas vezes por semana, nas escolas municipais, os resíduos orgânicos que sobram das merendas escolares. O material é separado por cozinheiras e alunos já treinados para separar o que serve para ser reciclado.

A exemplo do que ocorre com os cocos, os resíduos são levados para a sede da compostagem onde recebem o tratamento biológico adequado para se decompor virando adubo, o qual é usado em hortas para gerar alimento para as escolas, fechando o ciclo, e retornando em formato de terra adubada que as crianças utilizam para o manejo das hortas escolares. Em 2022, foram recolhidas 16 toneladas de material orgânico nas escolas.

Alunos e servidores da Educação também participam da compostagem na cidade; no ano passado, foram recolhidas 16 toneladas de material orgânico nas escolas. Foto: Prefeitura de Pontal do Paraná

NADA SE PERDE


E algo mais inusitado, é que a compostagem aproveita até os dejetos do cavalo, que tem uma missão tão especial no projeto de equoterapia, realizado na Escola Especial Municipal Ilha do Saber, no balneário Praia de Leste. Na equoterapia, o cavalo atua como recurso terapêutico para o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência ou necessidades especiais. É justamente nesse material “diferente” que surgiu a primeira iniciativa de compostagem no município.

A escola recebe cepilho de madeira e aplica nas baias dos animais, em que acaba misturado aos dejetos. Essa mistura precisa ter um destino ambientalmente correto. De acordo com a Prefeitura, por ser um material fraco organicamente, somou-se então o resíduo orgânico das cozinhas das escolas do município, recebendo tratamento biológico para sua decomposição e indo para um minhocário. Após isso ele é misturado à terra pelos alunos da escola, como forma de tratamento terapêutico. Quando a terra já está adubada ela é embalada, ali mesmo e, posteriormente, vendida para ajudar nos custos da escola.

Na Escola Especial Municipal Ilha do Saber até os dejetos dos cavalos são aproveitados na compostagem e geram renda para ajudar nas despesas da unidade. Foto: Prefeitura de Pontal do Paraná

COMPOSTAGEM TERAPÊUTICA


Para o presidente da Associação de Pais, Mestres e Funcionários da Escola Especial Municipal Ilha do Saber, Edson Nascimento, pai de aluno da escola, de 17 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista, o filho reage muito bem ao trabalho da compostagem.

A reação dele e o comportamento são muito melhores, isso é bastante relaxante e ajuda na concentração. Ao mesmo tempo, ele está compartilhando a atividade com outros alunos e essa questão da interação social é importantíssima e necessária para os autistas, isso ajuda bastante, ele mudou muito desde que viemos morar aqui, em 2019”, disse Edson.

Os resíduos gerados pelo equipamento “pica-galho”, utilizado pela gestão de Pontal do Paraná, também são encaminhados para a sede da compostagem e enriquecem a reciclagem dos orgânicos e o adubo das terras.

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