Paranaguá oferece práticas de exercícios a professoras da rede municipal


Por Redação Publicado 16/07/2021 às 09h31 Atualizado 16/02/2024 às 07h42

O Brasil lidera o ranking no número de casos de ansiedade e depressão durante a pandemia. Conforme dados apresentados por pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) feita em 11 países, o número de pessoas diagnosticadas com ansiedade é de 63%. As pessoas com depressão somam 59%. Em segundo lugar, está a Irlanda (61% e 57%) e em terceiro os EUA (60% e 55%).

Por conta desse aumento alarmante, no número de casos de transtornos psicológicos, a prefeitura de Paranaguá está oferecendo práticas de atividade física gratuitas às professoras da rede municipal de educação. A iniciativa é uma parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e Ensino Integral (SEMEDI) com a Secretaria Municipal de Esportes (SESPOR).

Rosane Crescela, uma das idealizadoras do projeto, é professora de educação física e servidora da SESPOR. Ela ressalta que a atividade física pode ser um escape para as angústias do cotidiano, pois libera serotonina e dopamina, hormônios da felicidade. Ao ficar em casa sem exercícios, esses hormônios podem ter uma queda e ocasionar irritabilidade e desânimo. “Na verdade, eu entro com um complemento junto com o acompanhamento que elas já têm”.

Mulheres são mais sobrecarregadas durante a pandemia. Foto: O Tempo

Superando Desafios

Marcela Claudino dos Santos Rodrigues é professora da rede municipal e dá aulas ao ensino fundamental I. Ela passou a participar do programa depois de ter passado por momentos difíceis no trabalho. “As terapias em grupo e as atividades físicas desenvolvidas são um momento descontraído. Durante a pandemia continuamos com o grupo de terapia on-line com acompanhamento psicológico, que sempre trouxe reflexões acerca do momento difícil que todos estávamos passando, nos auxiliando a lidar com a insônia, ansiedade, sobrecarga do trabalho remoto, luto, medo”, explica.

Aline Carvalho Vidal, que é psicóloga e atende crianças, jovens e adultos em uma clínica na cidade, atribui o aumento dos casos de depressão e ansiedade ao medo de ser afetado pela covid-19. Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estudos Sócio Econômicos (DIEESE) revelou, neste ano, que os desligamentos por morte na educação cresceram. De janeiro a abril de 2021, a quantidade de desmembramentos por morte, no geral, subiu 89%, saindo de 18.580 para 35.125. Na educação, o cenário piora. O setor foi o quarto com o maior registro de contratos formais extintos devido ao falecimento de trabalhadores. De acordo com o boletim, em 2020, foram registradas 650 mortes. No mesmo período de 2021, esse número subiu para 1.479 desligamentos.

A psicóloga também fala sobre as consequências psicológicas do confinamento. “O fator que eu vejo na clínica, hoje, é a alteração de rotina em que as pessoas tiveram que mudar as condições de trabalho para o remoto e começaram a ter dificuldade para administrar essa rotina com cuidados da família e atividades domésticas, o que gera uma sobrecarga ocasionando as crises de ansiedade”.

Ela recomenda a seus pacientes que façam práticas de atividades físicas “A atividade faz com que o paciente possa ficar mais relaxado, possa liberar toda a energia, o que aumenta bastante o hormônio que gera aquela sensação de prazer, de bem-estar”.

Questões de Gênero

Rosane trabalha somente com professoras, pois acredita que criar um espaço seguro para o livre exercício do corpo ajuda no processo de recuperação. “Eu trabalho somente com mulheres, para elas terem mais privacidade na hora dos exercícios. Pois fazemos ginástica localizada e algumas posições podem deixá-las desconfortáveis se tiver homens junto”, explica.

De fato, mulheres têm sofrido mais com a pandemia do que homens. Segundo estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, publicado em fevereiro deste ano, mulheres foram emocionalmente mais afetadas pela crise sanitária. 40,5% das mulheres relataram sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse.

Qualidade de vida

Rosane ressalta que a qualidade de vida passa pela atividade física, não somente pela liberação de hormônios, mas também pela recuperação da autoestima. “Meu intuito com o projeto é trazer qualidade de vida a essas professoras, e também trabalhar o psicológico delas junto com o exercício físico, pois na minha aula além de nos exercitar também conversamos e interagimos umas com as outras”.

Para Marcela, esse espaço seguro de desabafo é importante pois ela sente que o ofício de lecionar é bastante recompensador, mas tem seus desafios. “O nosso trabalho é muito gratificante, eu vejo como uma missão alfabetizar as crianças, mas lidamos com muitos desafios que fogem das nossas competências, e isso, sem dúvidas, abala o emocional. O programa saúde do professor é um apoio essencial para que possamos desabafar, compartilhar experiências e soluções”, relata.

Para inscrever-se, basta comparecer às aulas que ocorrem no Centro de Iniciação ao Esporte João Hélio Alves, localizado no Jardim Esperança. Rosane leva fichas de inscrição para as professoras interessadas em participar.

Não dispense ajuda

Se mesmo dentro do programa as sensações de angústia, ansiedade e desânimo não melhorarem, a recomendação é procurar um profissional e peça ajuda. “Se, mesmo buscando estimular a produção de hormônios de bem-estar e o apoio de um grupo, a situação não melhorar, é preciso buscar ajuda profissional para um tratamento”, ressalta a psicóloga Aline.

Por Camila Vida