Fundador da Fazenda da Esperança visita nova unidade de Paranaguá; cerimônia de benção marcou início da atuação missionária
Na tarde da última terça-feira (14), autoridades municipais se reuniram para prestigiar a benção concedida pelo bispo de Paranaguá, Dom Edmar Peron, da Diocese local, aos missionários da recém-inaugurada Fazenda da Esperança de Paranaguá, nomeada de Nossa Senhora do Rosário do Rocio. A instituição terapêutica filantrópica atua desde 1983 no processo de reabilitação de pessoas que buscam a libertação de seus vícios, principalmente do álcool e das drogas. A solenidade foi acompanhada pelo Frei alemão Hans Stapel, considerado o pai do projeto da Igreja Católica para recuperação de dependentes químicos.
A unidade será inaugurada no dia 18 de fevereiro de 2024, graças aos recursos doados pela Feira da Partilha, da Receita Federal. Ela começará com o acolhimento de 25 homens. Enquanto aguardam o início do atendimento, os missionários voluntários de Garuva/SC passarão pelas comunidades da cidade para explicar sobre como funciona a iniciativa, como os dependentes poderão se internar e quais as formas de contribuição, dada a gratuidade da internação.
O prefeito Marcelo Roque (PSD), que marcou presença na solenidade, destacou o compromisso da gestão com todos os projetos sociais da cidade. “Na época do meu pai, a Prefeitura fez a doação da Chácara que ficava localizada na Comunidade da Floresta e servia para recuperar dependentes químicos, mas depois foi abandonada, principalmente após o desastre das chuvas de 2011”, lembrou o prefeito. “Enquanto eu estiver à frente da Prefeitura vamos ajudar, seja aqui, no asilo, no Centro de Recuperação da Betel ou nas creches filantrópicas”, destacou.
Durante a cerimônia, o Frei Hans abordou sobre sua trajetória ao longo de 50 anos como voluntário da igreja em países de vulnerabilidade e guerra; relembrou a importância do trabalho missionário e falou como uma crise de fé na época do seminário o levou a fundar o centro de recuperação para jovens dependentes, que acabaram se tornando parte de sua família.
“Esses jovens, que um dia me tiraram da paróquia, me levaram às ruas e às cracolândias, onde me fizeram viver o evangelho. Ainda há muitos deles que precisam encontrar a palavra de Deus, pois ela é mais forte do que qualquer coisa e é capaz de recuperar qualquer alma que se encontra perdida. Ao longo da minha vida, vi milhares de homens e mulheres sendo renovados pela força da palavra”, disse o Frei.
No encontro, Dom Edmar expressou sua gratidão ao fundador do projeto, aos missionários de Garuva, que trabalharão como voluntários em Paranaguá, além dos organizadores da Feira da Partilha, que doaram os recursos para a compra do terreno de 47 hectares, localizado na Colônia Santa Cruz. “É um momento de muita gratidão para a Diocese de Paranaguá. A unidade brasileira de número 113 será inaugurada aqui, sob nossa responsabilidade. Estamos muito felizes com a notícia, e esperamos que, dentre as próximas unidades, consigamos abrir um núcleo feminino aqui em Paranaguá”, afirmou otimista.
Feira da Partilha
Em sua fala, o delegado da Receita Federal de Paranaguá, Gerson Zanetti Faucz, explicou sobre o processo de apreensão e venda dos produtos contrabandeados em bazares, além da seleção de entidades filantrópicas contempladas com os recursos.
“Fico muito feliz por fazer parte desse trabalho, mesmo que seja uma pequena parte. Quando vemos tudo sendo feito e a expectativa para o futuro, que é atender até 100 acolhidos, é realmente gratificante. Nas ruas, encontramos dependentes químicos e pensamos que não tem jeito, mas quando vemos essas pessoas sendo recuperadas, é emocionante”, confessou o delegado.
Num discurso emocionado, a coordenadora da Feira da Partilha, Lisângela Fagundes Faucz, disse que a chegada do projeto foi a realização de um sonho antigo dela e da idealizadora da Feira, Regina Daux.
“Fizemos a Feira em agosto e hoje estamos aqui realizando esse sonho e compartilhando essa bênção com Paranaguá. Quero agradecer especialmente aos voluntários que fizeram parte desse esforço e tornaram esse sonho realidade”.
Em busca de novas doações
Segundo Regina Daux, a unidade atenderá, inicialmente, apenas 25 homens devido às limitações estruturais do local, que possui apenas seis casas atualmente.
“Vamos fazer rifas e tudo que pudermos para arrecadar recursos para atender um número maior de pessoas. Precisamos fazer outras duas casas, uma no valor de R$ 400 mil e outra de R$ 600 mil, para chegarmos a 100 pessoas. Mas, para isso, precisamos do apoio da comunidade, de empresários, do poder público e de todos aqueles que puderem contribuir”, destaca Regina.
De acordo com o responsável regional da Fazenda, Marcelo Rodrigues, durante esses três meses antes da inauguração, os missionários venderão óleos, pomadas, cadernos e palmito, já que o local possui uma plantação de 40 mil palmeiras.
“Muitos dos acolhidos são os que estão nas ruas e querem vir, mas sem termos uma boa estrutura, não tem como. A maioria deles não tem família, mas quem tem também é acolhido e os parentes podem contribuir vendendo os nossos produtos”, explica o coordenador.
Testemunho de superação
O conselheiro da região Sul, Orlando Silva Reis, contou sobre sua experiência na superação do vício. Há 12 anos, ele conheceu a organização por intermédio da mãe e da esposa e, com apoio dos sacerdotes e demais companheiros da Fazenda da Esperança de Lagarto/SE, ele conseguiu reconstruir seu lar.
“Foi através do trabalho, da convivência e da espiritualidade que passei pelo processo e entendi que não importa a religião, cor ou raça, o que salva é o amor de Deus. A Esperança vai muito além do tratamento contra drogas, através dela sentimos um chamado para ajudar e há quatro anos moramos no Rio Grande do Sul com a missão de levar essa mensagem para outras famílias”, ressaltou o conselheiro.
Volmir Keber, o responsável pela Fazenda de Garuva/SC, conta que se internou para superar o alcoolismo após as filhas chegarem chorando e perguntando por que ele as tratava tão mal. “Foi ali que percebi que não podia perder minha família”, lembra.
“Em Braga/RS, comecei a sentir alegria sem o vício e comecei a amar os irmãos mais novos. Eu era como um pai para aqueles que chegavam. Hoje, depois de ser chamado para liderar uma das unidades, sempre falo para minhas filhas que estamos mais próximos morando a 700 km de distância do que quando morávamos na mesma casa. Tenho certeza de que muitas famílias também serão restauradas aqui em Paranaguá”, concluiu Volmir.