Junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+; o que se sabe sobre a comunidade em Paranaguá?


Por Luiza Rampelotti Publicado 14/06/2022 às 21h56 Atualizado 17/02/2024 às 10h37

O mês de junho é considerado, mundialmente, a celebração do Orgulho LGBTQIA+. Comemorada durante os 30 dias, a data foi criada para conscientizar e reforçar a importância do respeito, garantia de direitos e promoção de equidade social e profissional das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, assexuais, etc.

Conhecido no mundo todo como Pride Month, em junho acontecem eventos e paradas em vários países. A data foi escolhida em memória à Revolta de Stonewall, ocorrida em 28 de junho de 1969. Também chamada de rebelião ou levante, a ocasião foi um marco na luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ e ganhou esse nome graças ao bar Stonewall Inn, em Greenwich Village, Nova York, onde um grupo de frequentadores decidiu se rebelar contra a repressão policial.

Até 1962, a homossexualidade era considerada um crime nos Estados Unidos, mas, mesmo após a descriminalização, pessoas que se declarassem abertamente gays eram constantemente atacadas. Além disso, quase não existiam espaços públicos que pudessem frequentar – e, muito menos, expressar-se. Por esse motivo, Stonewall Inn tornou-se conhecido, já que era o único bar para essa comunidade da cidade na época.

Em Paranaguá, o coordenador-adjunto da Aliança Nacional LGBTQIA+, Douglas Luiz Anselmo, comenta sobre a importância da data para os integrantes do movimento. No entanto, ele critica a realidade atual da falta de dados oficiais a respeito da comunidade.

Tanto em Paranaguá quanto no Brasil ainda há uma carência muito grande de dados que retratem a realidade da comunidade LGBTQIA+, seja em números de pessoas que se identificam, ou em casos de violência LGBTfóbica. Tanto que a primeira vez que uma pesquisa do IBGE questionou a população sobre sua identidade sexual e de gênero foi feita apenas neste ano, em 2022”, diz.

O que se sabe sobre os LGBTQIA+?

Douglas Luiz Anselmo é coordenador adjunto da Aliança Nacional LGBTQIA+, em Paranaguá. Foto: Douglas Anselmo

Segundo Douglas, são poucas as informações relacionadas às pessoas da comunidade, e são coletadas por alguns segmentos dos movimentos sociais. Ele comenta que os dados públicos dão conta de que o número de casamentos homoafetivos realizados no país desde que foi legalizada a união chega a quase 80 mil; estima-se que 20 milhões de brasileiros e brasileiras se identificam como pessoas LGBTQIA+; morre em média uma pessoa LGBT por dia no Brasil vítima de LGBTfobia; 4 a cada 10 pessoas trans que morrem vítimas de transfobia no mundo são brasileiras; pessoas LGBTs tem 8,4 vezes mais chances de tentarem suicídio; e o potencial de compra da comunidade LGBT (também conhecido como “pink money“) hoje no Brasil é estimado em R$ 419 bilhões.

Ele explica que há muitos casos de violência LGBTfóbica em todo lugar, sejam elas físicas, verbais, econômicas, parentais ou psicológicas. As situações e ambientes onde mais se ouve falar dessas violências são na escola, família, e em abordagens policiais.

Porém, o número de boletins de ocorrência por motivação LGBTfóbica só passaram a ser registrados em 2019, com a nova interpretação da Lei de Racismo, que passou a valer para LGBTfobia. “As secretarias estaduais de segurança ainda estão em processo de adequação e preparo para receber esses casos. Infelizmente, no Brasil muitas delegacias não estão capacitadas para atender as demandas da nossa comunidade, sendo por vezes essas mesmas e outras instâncias do Estado a justamente reproduzirem tais violências”, diz.

Para Douglas, os direitos LGBTs vêm avançando no Brasil, mas ainda com muita dificuldade. Ele ressalta que o crescimento ocorreu, em especial, nos últimos 12 anos, mas muito por conta da ação do poder judiciário, da luta política dos movimentos sociais, e da iniciativa privada que vem aderindo às pautas.

A comunidade em Paranaguá

No entanto, essa realidade vem se consolidando mais fortemente nas capitais e nos grandes e mais desenvolvidos centros urbanos do país. Ele avalia que no interior e nas cidades de pequeno e médio porte, como Paranaguá, o avanço segue sendo retardado, contido, se manifestando de maneira ainda muito pequena.

Em Paranaguá já existe uma comunidade LGBT que se conhece, que se reconhece e que tenta se organizar politicamente, mas com muita dificuldade também. Porém, isso não impediu que já conseguíssemos realizar algumas ações, campanhas e eventos de conscientização e sensibilização às questões da comunidade, mas tudo ainda muito inexpressivo e com pouca adesão”, conta.

Em sua opinião, a dificuldade de organização da comunidade no município se dá muito por conta do preconceito internalizado que os LGBTs da cidade possuem, e possuem porque sofrem diariamente com ele. “Quase ninguém quer dar a cara para bater, e quem se dispõe a lutar pelos nossos direitos ou uma hora se cansa ou sofre perseguição de alguma forma ou em algum lugar”, lamenta.

Com informações de ZZMall

Parte da comunidade LGBTQIA+ da cidade em 2017, nas escolas estaduais de Paranaguá. Foto: Divulgação