Medida protetiva não impediu agressão: mãe e filho de três meses sofrem violência doméstica em Paranaguá

O acusado, Everaldo Bonsenhor Júnior, que já tem três medidas protetivas solicitadas por mulheres diferentes, descumpriu a decisão judicial, mas nada aconteceu.


Por Redação Publicado 22/07/2024 às 18h23 Atualizado 26/07/2024 às 10h28
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Everaldo Bonsenhor Júnior é acusado pela ex-esposa, Gabriela Oliveira, de violência doméstica; além disso, ele descumpriu medida protetiva que o impedia de se aproximar da vítima. Foto: Reprodução/Facebook

A violência doméstica continua a ser uma grave questão social que afeta milhares de mulheres no Brasil. Casos de agressão física e emocional ressaltam a urgência de medidas eficazes para proteger as vítimas e responsabilizar os agressores.

Em Paranaguá, uma situação recente ganhou destaque até em veículos de comunicação estaduais quando um vídeo mostrando Everaldo Bonsenhor Júnior e sua mãe, Possidônia Bonsenhor, agredindo a ex-esposa de Everaldo Júnior, Gabriela Oliveira, foi divulgado.

Em entrevista ao JB Litoral, Gabriela compartilha um relato detalhado sobre os abusos que alega ter sofrido nas mãos de seu ex-marido e de sua sogra.

Noite de terror

Na madrugada do dia 18 de junho, Gabriela Oliveira conta que vivenciou um pesadelo que jamais esquecerá. Segundo ela, após uma briga com seu ex-marido, Everaldo Bonsenhor Júnior, que chegou em casa aparentemente alcoolizado, decidiu sair com seu bebê de apenas dois meses para evitar maiores conflitos. No entanto, a tentativa de fuga foi brutalmente interrompida.

Eu fui sair de carro e ele pulou para cima do capô, subiu no vidro e meteu a mão para dentro do veículo, grudou no meu cabelo, e eu não tive mais visão. Ele abriu a porta, tentou me jogar para fora. Quase caí na valeta com o carro. Eu fiquei em choque. Ele tirou o neném do carro e fiquei ali”, conta Gabriela.

Ela diz que a agressão continuou, e Everaldo Júnior desapareceu com o bebê no meio da madrugada, deixando Gabriela em completo desespero. Em um ato desesperado, ela saiu correndo pela rua até encontrar um carro da Polícia Civil. Uma policial, que estava em operação com outros colegas, ouviu o relato de Gabriela e informou que viu um rapaz passando com o bebê nos braços.

Contei tudo para ela o que aconteceu, ela estava com outros policiais numa operação ali perto, e enquanto eu estava conversando com os policiais, ele passou de carro na nossa frente. Eu pedi para os policiais pegarem ele, mas eles disseram que eu teria que ir à delegacia fazer o BO. Ele sumiu com o neném às 2h da manhã e só foi me entregar às 14h”, relata Gabriela.

Ameaças contínuas e abuso emocional

Naquele dia, Gabriela passou a manhã inteira na delegacia, registrando boletim de ocorrência, fazendo queixas e solicitando a medida protetiva. Durante esse tempo, ela conta que sua sogra fez exigências absurdas, pedindo que ela entregasse a chave da casa em troca da criança. Gabriela, com a medida protetiva que lhe assegurava o direito de permanecer na residência, recusou-se a entregar a chave.

Nós somos casados no papel e essa é a nossa casa. Quando saiu a medida protetiva no dia 18 de junho, eles me deram o direito de ficar na casa com o neném. Porém, no mesmo dia, quando eu saí da casa para ir assinar papéis, ir ao IML, ele e a mãe dele entraram na casa, trocaram as fechaduras e trancaram a porta. Para entrar, eu tive que arrombar uma porta, mas quando entrei não tinha mais minhas roupas e nem das crianças, eles deram um fim e até hoje eu estou sem elas”, relata Gabriela.

Mais episódios de violência

A mulher diz que em outro episódio de violência, no dia 29 de junho, Everaldo Júnior descumpriu a medida protetiva e a agrediu, que estava com o bebê nos braços. “Ele entrou em casa gritando, dizendo que matei a cachorra dele. Ele vem, me dá um mata-leão, tenta pegar o neném do meu colo e eu não deixo. Cheguei a urinar na calça na hora que ele me enforcou. Segurei meu filho com tanta força, mas imagine se ele me enforcasse cada vez mais e eu soltasse meu bebê no chão”, relembra, expondo o terror psicológico e físico que sofreu.

Ela conta que, durante a agressão, sua cunhada estava na casa e tentou ligar para a polícia, mas, quando Everaldo Júnior viu, também a agrediu e tirou o celular de sua mão. “Minha cunhada correu para o portão, e a Possidônia, que estava na frente da casa, não a deixou sair e entrou na residência. Ela empurrou minha cunhada com o neném, agrediu ela, a criança bateu com a cabeça no portão e, por isso, também foi registrado um BO contra ela. Na hora que fui tentar empurrar a Possidônia para fora, ele me empurrou com tudo, e o neném, o filho dele, bateu com a cabeça na parede”, relata.

Foi graças a um pedreiro que estava na casa que a cena de violência foi apartada. Gabriela afirma que, com isso, mãe e filho fugiram da casa antes que a polícia fosse acionada.

O Júnior entrou na casa de cabeça raspada, uma blusa branca toda estragada, uma calça por baixo com uma bermuda jeans por cima, e ele estava com um rolo de uma fita cinza grossa no braço. Eu não sei por que ele entrou na casa, mas acredito que eles tenham planejado algo, que eu nunca vou saber, mas graças a Deus não conseguiram finalizar porque minha cunhada estava na casa”, diz Gabriela.

Após a situação, a vítima conseguiu chamar a polícia, que levou cerca de 30 minutos para comparecer ao local. “Na hora que a polícia chegou, a policial feminina começou a me questionar, dizendo que eu sabia quem era ele e onde eu estava me metendo. Eu pensando que eu podia contar com a policial, que é uma mulher, e ela veio me questionar coisas absurdas”, lamenta.

Três medidas protetivas

Esta não é a primeira vez em que Everaldo Bonsenhor Júnior se envolve em uma situação de violência doméstica. Em 2023, ele também foi acusado por uma ex-namorada, que obteve uma medida protetiva.

O Boletim de Ocorrência informa que, na ocasião, a ex-namorada abordou uma viatura que estava em patrulhamento na Avenida Bento Munhoz da Rocha Neto e relatou ter sido agredida por seu convivente após uma discussão dentro do veículo do casal. Ela contou que Everaldo Júnior queria pegar a direção e, ao parar o veículo, ele desferiu um soco no vidro do motorista, acertando seu rosto.

Após o ocorrido, o autor foi para sua residência onde, com a presença da vítima, a equipe adentrou dando voz de prisão ao autor e encaminhando-o até a delegacia. Perguntado ao autor sobre o fato, ele preferiu ficar em silêncio”, diz trecho do B.O. O rapaz não chegou a ficar preso.

Segundo Gabriela, já são três medidas protetivas contra o ex-marido, sendo uma feita por ela, outra pela ex-namorada e uma por sua cunhada, que também foi agredida por ele. No entanto, apesar do descumprimento das medidas, ele continua livre.

Eu fiz o pedido de prisão dele quando descumpriu a medida, mas não aconteceu nada. Todo mundo é conivente com o que ele faz. A mãe dele levou ele até a casa, no dia 29, para fazer o quê? Sabendo que ele tem uma medida protetiva que manda que ele fique a 100 metros da casa. Se com a medida protetiva ele entrou aqui e tentou me matar, imagine sem. Eles nunca perguntaram se o bebê está precisando de algo, só estão preocupados em me atingir, mas não irão, pois sei que sou a vítima nisso tudo. Tenho como provar que ele e a mãe dele nos bateram”, desabafa Gabriela.

O que dizem os acusados

O JB Litoral procurou Everaldo Bonsenhor Júnior e Possidônia Bonsenhor, que repassaram a solicitação de contato para o advogado Luiz Ilipronte. Em nota, o advogado afirmou que a defesa se manifestará apenas no processo, que tramita em segredo de justiça.

Qualquer interpretação antecipada, antes de findadas as investigações, contraria a ordem constitucional que garante a todos a presunção de inocência até qualquer prova em contrário, ressaltando que qualquer exceção a essa regra, além de covarde, é um massacre público e um desserviço à sociedade”, diz a nota.

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