“Meninos do Luzo” – aos 61 anos, ícone do futebol parnanguara continua se dedicando a treinar crianças e jovens gratuitamente


Por Luiza Rampelotti Publicado 07/09/2022 às 19h42 Atualizado 17/02/2024 às 16h56

Se você é parnanguara e gosta de futebol, já deve ter ouvido falar no nome de Luzo Rodrigues de Carvalho, mais conhecido como professor Luzo. Desde cedo ele se dedica a ajudar crianças, adolescentes e jovens a se destacarem no mundo da bola.

Aos 61 anos, depois de ter atuado como jogador profissional, auxiliar técnico e, até hoje, como estivador, ele ainda encontra disposição para treinar a garotada. Há 44 anos ele promove os treinos gratuitos para aqueles que sonham em se tornar jogadores de futebol.

Hoje atendemos 18 crianças em um campo que estou cuidando com as próprias mãos. O local é próximo à Floresta do Palmito, onde, bem em frente, tem um ferro velho e uma grameira, atrás da grameira é o nosso campo”, conta Luzo.

Nas décadas de 1980 e 1990, Luzo se dedicou ao Rio Branco Esporte Clube como jogador profissional e, posteriormente, como auxiliar técnico. Também passou pelos times Iguaçu, de União da Vitória, e Ituano, de São Paulo. Ele dividia o tempo entre os jogos profissionais e os treinos gratuitos.

Em 1991, para garantir estabilidade financeira, ele se tornou estivador, mas continuou com os treinamentos para a garotada, principalmente na categoria de base do Rio Branco. Depois, em 95, foi escolhido como auxiliar técnico do time, após ter realizado o curso de formação para Técnico em Futebol pela faculdade CEFET.

Luzo participou da formação de grandes jogadores, como Adilson Pelézinho, Emerson Macaé, Ira, Ratinho, Marcelo Baiano, João Pedro de Paolo, Gabriel Messias, entre outros.

Os Meninos do Luzo estão invictos na Copa Caiçara de Futebol. Foto: JB Litoral


Mais de 15 mil atletas já foram treinados, conta Luzo


Pelas minhas contas, mais de 15 mil atletas já passaram pelas minhas mãos, seja aqueles que se tornaram profissionais ou não. Há mais de 4 décadas me dedico ao futebol amador nos bairros, e isso gerou muitos frutos”, conta o professor.

Luzo define o trabalho realizado como “invisível para a sociedade parnanguara”, já que sempre agiu sozinho para manter os treinos e materiais disponibilizados aos atletas que treinam com ele. No entanto, ele destaca sua satisfação por poder proporcionar esperança aos jovens.

Como estivador, trabalho de manhã, às vezes de madrugada, mas chego em casa e estou disposto a ir treinar os meninos, porque estou sempre aprendendo com eles há 44 anos. O carinho que eles me passam, o respeito que têm por mim, é uma coisa que não tem preço. Meu pagamento é ver um menino alegre, feliz, chegando em casa e tratando os irmãos bem, ajudando a mãe, diante de tudo o que passei para eles fazerem. Ver eles avançando no futebol, sendo chamados para testes em times de fora, indo jogar em times profissionais. É isso que me faz feliz”, diz.

Um dos alunos de Luzo foi Eraldo Plante, ex-jogador do Rio Branco e proprietário da loja Eraldo Esportes. Ele relembra sobre os treinos com o professor.

Só posso falar coisas boas. Desde que comecei a treinar no Rio Branco ele dava treino como professor, arrumando frutas e materiais para que conseguíssemos ter, dentro das dificuldades, a melhor estrutura. Nesse tempo, ele formou muitos atletas, e quem não virou jogador se tornou uma pessoa de bem e trabalhadora. Naquela época, ele já fazia um trabalho muito importante na parte social, e de lá para cá, ele continua mostrando que é apaixonado pelo que faz”, comenta.

Eraldo, ex-jogador do Rio Branco, foi um dos garotos que recebeu treinamento do professor. Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral


Quem ajuda o Luzo, ajuda a cidade”, diz ex-aluno


Eraldo ressalta, ainda, sobre a importância do trabalho do professor para a sociedade. “Quem ajuda o Luzo, está ajudando a cidade, porque ele tira esses jovens do tempo ocioso e ocupa a mente desses garotos com o futebol. Tenho muito a agradecer ao professor, aprendi muito com ele e lembro que os treinos eram às 7h, mas queria que nós estivéssemos no campo uma hora antes, e isso me ajudou a ter organização na minha vida. Ao nosso professor, quero desejar as melhores coisas do mundo e agradecer por tudo que ele contribuiu na minha vida”, diz.

Muitos jovens que já passaram pelas mãos de Luzo hoje estão atuando profissionalmente, inclusivamente, fora do país. É o caso de Marcelo Baiano, que treinou com o professor dos 7 aos 16 anos, depois foi para o Grêmio e hoje joga em El Salvador, com convocação até para a Seleção do país, já que se naturalizou salvadorenho.

Outro caso de sucesso é o de João Pedro de Paolo, que treinou durante 6 meses com Luzo e hoje, aos 19 anos, está na Itália, jogando futebol profissional. Gabriel Messias também está voando alto; o jovem treinou com o professor em paralelo aos treinos no Seleto, dos 8 aos 11 anos, foi para o Grêmio e, atualmente, aos 16 anos, assinou contrato com o time gaúcho.

Um dos “Meninos do Luzo”, nome do time de futebol treinado pelo professor, que está participando da Copa Caiçara, é Riquelme Luiz dos Santos Macedo, de 18 anos. Ele conta que treina com o Luzo há 2 anos e que a experiência tem sido incrível.

Atualmente, 18 meninos entre 7 a 18 anos treinam com o professor. Foto: JB Litoral


Os Meninos do Luzo agradecem


Seu Luzo é um grande conhecedor do futebol, já teve uma grande carreira, tanto como jogador quanto como técnico. Nos treinamentos, ele nos passa várias experiências, diversos treinos para ajudar na nossa evolução. Mas ele também é bastante conhecido pelos conselhos, é um grande ser humano. Nosso treinamento, desde o início, é na mesma pegada: três vezes por dia, de manhã, de tarde e à noite, e ele não cobra nada. Muitas vezes ele trabalha de madrugada e 7h da manhã está treinando comigo até às 11h. É uma pessoa maravilhosa”, conta.

Riquelme também fala sobre o time que, até o momento, está invicto na Copa Caiçara; campeonato na modalidade de idade livre que está sendo realizado em Alexandra, Pontal do Paraná, Matinhos e na Colônia Maria Luiza. “Estamos invictos no campeonato, com 10 equipes participando da competição. Ganhamos todas as partidas com grande número de gols de diferença do adversário, somos um dos clubes que mais tem gol no campeonato. É o reflexo do trabalho que temos no dia a dia”, conclui.

Outro aluno é Erick Alvino Mendes da Silva, de 17 anos, que há 4 anos treina com Luzo. Durante 3 anos ele jogou no Palmeiras, recentemente voltou para Paranaguá e daqui duas semanas está indo a Curitiba para jogar no Athletico Paranaense.

Luzo é uma pessoa guerreira, como treinador se doa por nós. Além de ele ser um grande professor, é uma grande pessoa, nos ajuda com conselhos sobre a vida, nos transmite sua experiência adquirida nos times que passou. Agora, estou treinando com ele para melhorar meu físico, chegar no Athletico Paraense e ir bem”, diz.


Ele é um espelho para nós”, diz aluno


Davi Gonçalves também está treinando com o professor. Ele começou aos 7 anos, hoje já tem 17. “Meu pai treinava com ele e eu comecei a acompanhar os treinos desde bebê, com 3 anos. Depois, com 7 anos, comecei a treinar. O Luzo é muito sábio, aprendemos muito com ele; sempre tem muita história para contar, é uma referência para nós que somos mais novos. Ele é um cara muito disciplinado, recebeu o Troféu Belford Duarte como jogar mais disciplinado, é um espelho para nós”, conta.

Recentemente, Davi fez um teste para o Palmeiras e também esteve jogando no Paraná Clube. Hoje, ele diz que está treinando firme para aproveitar as próximas oportunidades que surgirem. 

Há até quem vem de fora do país e escolhe o professor Luzo como treinador. Gabriel Alejandro Hernandez, de 16 anos, é venezuelano e chegou no Brasil em 2020.

Vim para o Brasil para estudar e jogar futebol, que é o meu sonho, quero aqui cumprir meu sonho porque no meu país é mais complicado. Quando cheguei, vinha fazer treino físico no aeroparque e cruzei com o senhor Luzo, que me chamou para treinar. Já estou há 2 anos treinando com ele, já fiz teste no Juventude, do Rio Grande do Sul, viajei por várias partes do Brasil. Com o Luzo aprendi muita coisa para minha preparação”, conclui.