Morretes: Cidade do Pólen, conheça o projeto que beneficia a agroecologia e preserva a biodiversidade da Mata Atlântica


Por Flávia Barros Publicado 03/10/2023 às 11h05 Atualizado 19/02/2024 às 01h07

Os estudantes aprendem ainda na escola que as abelhas têm papel fundamental na natureza, com uma função essencial para a sobrevivência de muitas espécies, inclusive a humana. Responsáveis pela polinização de 80% dos cultivos do planeta, uma pesquisa da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, estima que um terço dos alimentos consumidos no mundo é diretamente dependente do trabalho das abelhas no meio ambiente.

Em Morretes, um projeto iniciado em 2022, composto por palestras, cursos, oficinas e visitas técnicas, conseguiu aumentar o número de caixinhas de abelhas sem ferrão no município, passando de menos 100 para mais de 600. Número que vai crescer ainda mais com a entrega de mais caixas para as famílias selecionadas, que concluíram a primeira etapa do projeto “Morretes: Cidade do Pólen”.

Contexto x Sucesso


A iniciativa integra o Poliniza Paraná, programa estadual que segue o exemplo dos Jardins de Mel de Curitiba. Sob a responsabilidade da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo (Sedest), o objetivo é instalar colmeias de abelhas sem ferrão em diversas cidades do estado para reintroduzir polinizadores nativos em seus locais de origem, pois muitos se encontram ameaçados de extinção, além de sensibilizar a sociedade e propiciar a conexão com a natureza.

O projeto deu tão certo na cidade que, na última quinta-feira (28), foi divulgado o resultado da 11ª edição do Prêmio Gestor Público Paraná (PGP-PR); das 186 iniciativas homologadas, oriundas de 59 municípios, 41 delas foram contempladas, reconhecendo 26 cidades, sendo que Morretes foi uma delas, a única representante do Litoral.

Como funciona


O projeto tem quatro idealizadores: as prefeituras de Morretes (Tiago Tischer Coelho) e de Curitiba (Felipe Thiago de Jesus), Ekoa Park (Tatiana Perim), TECPAR (Renato Rau) e UFPR Litoral (Diomar Quadros) e elaborado com apoio de diversas instituições. Após passarem pela qualificação, 13 pessoas (em sua maioria agricultores familiares), vão receber as caixas contendo colônias matrizes com melgueiras de abelhas mandaçaias. O chamamento foi realizado na semana passada, agora os selecionados estão aptos a receberem as caixas, o que deve ocorrer nesta semana.

A engenheira agrícola Mírian Lovera Silva é proprietária rural em Morretes e uma das participantes contempladas do projeto.

Preservamos 40 hectares de floresta, parte em caráter perpétuo na RPPN Graciosa. Também produzimos a Cerveja Porto de Cima, na Porto de Cima Brewing, uma nano cervejaria ‘verde’ que produz com responsabilidade, com o objetivo de impactar positivamente nossa região”, diz.

Nos finais de semana, a propriedade recebe visitantes. “Ao compartilhar nosso quintal, o visitante tem a oportunidade de ficar próximo da natureza e conhecer nosso trabalho. Estamos aqui em Morretes, no Porto de Cima, desde 2007”, conta Mírian ao JB Litoral.

Sobre a oportunidade de proporcionar um aumento das populações de abelhas na região, a produtora fala com muito carinho. “Um fator motivador foi o fato de estarmos contribuindo com a preservação das Meliponias. As áreas de florestas preservadas são áreas em regeneração e ainda não maduras; as caixas são abrigos na falta de ocos de árvores velhas, então, em um primeiro momento, seria isso a preservação. Esperamos poder contribuir com o projeto, continuar aprendendo e, quem sabe no futuro, podermos ampliar o plantel e profissionalizar a operação.”, finaliza.

Só o começo


Um dos idealizadores do projeto é o Superintendente de Agricultura Familiar da Prefeitura de Morretes, Tiago Coelho. Ele explica que a ideia é fazer novos chamamentos. “Através deste instrumento vamos aperfeiçoar o processo de induzir a meliponicultura no município, pois é um aprendizado para nós da administração, afinal, é algo inédito dentre as prefeituras da região e com poucas referências no estado”, diz ao JB Litoral.

Também quero agradecer ao prefeito, ao secretário de governo, Gustavo Kemmer, e ao médico veterinário do município, Albino Grandi, pela confiança depositada em mim para colocar em movimento este projeto que agora tem seu reconhecimento estadual e a todos os parceiros e instituições envolvidas nesse processo de indução da meliponicultura em Morretes”, completa.

Já o prefeito, Sebastião Brindarolli Junior, o Junior Brindarolli (PSD), está contente pelo reconhecimento estadual e faz um convite. “É um projeto inovador para Morretes e para o Litoral do Paraná. Os demais prefeitos estão convidados para vir a Morretes conhecê-lo e replicá-lo em seus municípios”, enfatiza.

Próximo passo


Com a formação dos agricultores e a consolidação do projeto, a próxima etapa prevê a expansão dos programas anteriores, com a criação dos “Caminhos de Pólen” que irá conectar, pela Estrada da Graciosa e linha férrea, as cidades de Morretes e Curitiba, tendo como objetivo despertar a consciência das pessoas e a integração sistêmica entre aprendizado ecológico e cidadania, valorizando o patrimônio natural e a biodiversidade local.