Na contramão do estado, homicídios em Paranaguá aumentaram 41,9% em relação ao primeiro semestre de 2022


Por Amanda Batista Publicado 06/08/2023 às 19h28 Atualizado 18/02/2024 às 19h26

Os primeiros seis meses de 2023 registraram uma queda de 8,7% no número de homicídios dolosos em todo o estado do Paraná. Contudo, em Paranaguá, houve um aumento expressivo de 41,9% das mortes violentas, saltando de 25 para 43 de janeiro a junho.

Segundo o levantamento da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SESP), em 2023, a cidade ficou em segundo lugar entre os 399 municípios do Paraná, atrás apenas de Ponta Grossa (44), e à frente de Londrina (41), Foz do Iguaçu (39) e Cascavel (34).

Enquanto o estado como um todo teve o segundo melhor índice dos últimos 10 anos, Paranaguá teve o terceiro maior número de mortes do período, atrás apenas de 2021 e 2018, quando foram constatados 45 homicídios no primeiro semestre.

O delegado da Polícia Civil, Nilson Diniz, conta que o acirramento entre facções é o fator motriz para o aumento no número de mortes.

São momentos agudos de disputa entre as facções, mas a Polícia Civil busca agir de maneira rápida para desarticular as células”, afirma. “Em 2018, por exemplo, tivemos um início de ano muito semelhante ao de 2023 porque uma organização criminosa instituiu um tribunal do crime e começou a aplicar sanções aos transgressores. Naquele momento, também tivemos um aumento significativo até que o grupo fosse todo capturado“, explica o delegado.

Cidade figura na lista das 50 cidades mais violentas do Brasil


Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que considera o índice de Mortes Violentas Intencionais (MVI) em cidades com população acima de 100 mil habitantes, Paranaguá está na 34ª posição do ranking, com 62 homicídios dolosos registrados em 2022. Neste total, estão incluídas vítimas de homicídio doloso, latrocínio, feminicídio e lesão corporal seguida de morte.

Apesar do aumento das mortes violentas, o município não registrou nenhum caso de feminicídio, lesão corporal seguida de morte ou latrocínio em 2023, seguindo a tendência do estado, que também registrou queda no número total.

Para o secretário de Segurança de Paranaguá, João Carlos Silva, a discrepância entre número de homicídios e inexistência de crimes seguidos de morte é mais um reflexo do tráfico organizado que se instalou na cidade.

Ver o número de mortes em Paranaguá entre os maiores do Brasil só constata a nossa realidade. Com um porto internacional, nos tornamos reféns do tráfico. Tanto que as estatísticas comprovam; foram cerca de 80% de mortes ligadas ao narcotráfico, não foram pessoas mortas em roubo, sequestro, nada disso. Nosso problema é o tráfico”, destaca.

Para combater as organizações criminosas, o município investiu mais de R$ 32 milhões ao longo dos últimos sete anos, ressalta o secretário. “Aumentamos e melhoramos o armamento, a capacitação das forças policiais e auxiliamos nas investigações da Polícia Civil, Militar e Federal”, complementa João Carlos.

Incremento nas forças policiais


O Governo do Paraná, através da Secretaria de Segurança Pública e do Departamento da Polícia Civil, atento ao crescimento constante dos índices de homicídio, no primeiro dia útil de 2023 designou três novos delegados para atuar em Paranaguá, além de criar uma força tarefa que se iniciou em dezembro de 2022.

O resultado deste incremento não foi imediato porque a apuração desses crimes é complexa e extensa. Porém, a partir de março, quando os resultados das investigações começaram a aparecer, encontramos provas robustas e cumprimos mandados de prisão. Aos poucos, vemos os resultados aparecerem, com a diminuição das mortes nos últimos três meses”, ressalta o delegado Rogério Martin de Castro.

Apreensão de drogas


Além do total de mortes violentas, o levantamento da SESP ainda traz dados sobre a apreensão de drogas no município. Nos últimos seis meses de 2023, foram apreendidos 29,2 kg de maconha, 743 kg de cocaína, 2,1 kg de crack, 567 comprimidos de ecstasy e 171 pontos de LSD. No mesmo período, em 2022, foram 318,44 kg de maconha, 1.774kg de cocaína, 28,11kg de crack, 179 comprimidos de ecstasy e 156 pontos de LSD.

Conforme explica o delegado Diniz, a partir do momento em que a Polícia Federal intensificou as atividades, realizando apreensão de grandes quantidades de cocaína, as facções começaram a fracionar as remessas para o exterior. Outro fator que influencia no volume menor de apreensões, é a desarticulação dos grupos, que anualmente são desmembrados pelas investigações das forças policiais.

No início, quando explodiu o tráfico internacional, eram remetidas toneladas de drogas. Hoje, para não haver grandes perdas, eles mandam porções menores. Então, dificilmente fazemos apreensões de volumes suntuosos. Além disso, células poderosas no município foram alvo da Polícia Federal, então, essa diminuição também é por conta das operações“, conclui o delegado.