Onda crescente de roubos e furtos de carga desafia autoridades em Paranaguá e requer medidas integradas de segurança
Paranaguá enfrenta um sério problema com o aumento significativo de roubos e furtos de carga ao longo dos últimos anos. Segundo dados de um estudo realizado pela Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (FETRANSPAR), a cidade portuária lidera o ranking desses tipos de crimes no estado, tendo registrado 208 furtos (vazadas) em 2022. Contudo, o 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), que atua no Litoral, divulgou um número ainda mais alarmante, relatando 398 ocorrências no mesmo ano.
O cenário não melhorou em 2023, visto que nos primeiros seis meses já foram contabilizadas 122 ocorrências, de acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP). Entretanto, os números do 9º Batalhão de Polícia Militar seguem com dados ainda mais impressionantes, que mostram que, até o momento, já foram registradas 232 ocorrências, sendo 25 nos primeiros 20 dias de julho. Ainda de acordo com o 9º BPM, enquanto em 2022 foram efetuadas 22 prisões relacionadas a esses tipos de crimes, em 2023, 14 prisões já aconteceram.
Preocupada com a situação, a SESP tomou medidas para conter a onda de furtos e roubos na região, solicitando a manutenção da Força Nacional de Segurança Pública e um aumento no efetivo policial, passando de seis para 20. Ainda não há informações que indiquem se o pedido foi atendido.
Fatores que contribuem para o aumento dos crimes
Para lidar com a situação, as autoridades têm buscado soluções conjuntas, envolvendo tanto a Polícia Militar quanto a Polícia Civil em ações estratégicas e investigações aprofundadas. Em entrevista ao JB Litoral, o delegado da Polícia Civil de Paranaguá, Ivan José da Silva, apontou alguns fatores que podem estar contribuindo para o aumento dos roubos e furtos de carga.
“Há oportunidades de melhoria ao longo das nossas vias que levam ao porto. Outras cidades portuárias já adotaram medidas eficazes, como aprimorar a iluminação e remover quebra-molas, que acabam por reduzir a velocidade dos caminhões. Além disso, tornar a via inacessível pelo acostamento, com uma barreira, como uma grade, é uma solução considerada em áreas urbanas densamente ocupadas por longos períodos. Essas melhorias já estão em estudo. A situação atual permite que caminhões sejam forçados a diminuir a velocidade ou até mesmo a parar, facilitando assim a ocorrência de furtos, além de que é comprovado que investir em iluminação aumenta a segurança pública”, diz.
Facções substituíram os receptadores
Ele ainda destaca que a Polícia Civil tem investigações e operações em andamento visando combater esse cenário. O delegado também ressalta que elas apontam para uma mudança no perfil dos criminosos envolvidos nos roubos e furtos de carga.
“Até poucos anos atrás, percebíamos que existia as vazadas e a receptação desse material. Para enfrentar esse problema, a polícia realizou diversas operações visando indivíduos envolvidos para revendê-los a terceiros interessados em adulterar suas próprias cargas, entre outros propósitos ilícitos. O resultado dessas ações foi notável e as associações criminosas com esse propósito foram desfeitas, tendo seus integrantes presos. Contudo, observamos uma mudança no cenário, onde as associações criminosas que antes atuavam nesse mercado foram substituídas por facções ligadas ao tráfico de drogas. Neste novo panorama, os indivíduos responsáveis pela vazada recolhem os materiais e os entregam aos receptadores associados a essas facções, recebendo pagamento em dinheiro ou trocando diretamente por drogas”, explica.
Para o delegado Ivan, não basta mais efetivo policial, são necessários investimentos estruturais e tecnológicos para combater os crimes. “É necessário tecnologia, câmeras de monitoramento, iluminação pública, limitar o acesso as vias com bloqueios, câmeras que leem placas de veículo e conseguem procurar em banco de dados. É necessário trabalhar com eficiência”, finaliza.
Polícia Militar atua em diversas frentes
O subcomandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, major Cristiano Stocco, também conversou com o JB Litoral sobre o assunto. Ele menciona que a PM trabalha em diversas frentes, tanto preventivas quanto repressivas, para coibir os roubos de carga e as vazadas.
Segundo o major, estão em andamento a Operação Carga Segura e outras, o que tem gerado bons resultados. “No primeiro semestre de 2023, se comparado a 2022, tivemos um bom acréscimo em apreensões relacionadas a esse tipo de crime, porém nas ocorrências também tivemos um acréscimo. Então, por mais que tenhamos apreendido mais, também tivemos mais ocorrências”, diz.
Ele destaca que a PM continuará com policiamento ostensivo nos locais onde mais são registrados casos, e realizando fiscalizações tanto em armazéns clandestinos quanto nos legalizados.
O subcomandante avalia que o crime de vazada é uma questão social e que deve ser analisado por diversas óticas. “Percebemos que as pessoas que moram na região onde acontecem as vazadas vivem num buraco, então é uma questão de insalubridade; às vezes, o indivíduo não comete o furto, mas acaba aproveitando aquele produto na pista para recolher e trazer um dinheiro para casa. É uma questão social muito forte e já estabelecida há alguns anos na cidade”, analisa.
Grupo de trabalho para tratar sobre as vazadas
Major Stocco ainda esclarece que, visando enfrentar a questão de forma mais abrangente, a SESP criou um órgão de integração das forças de segurança e um grupo de trabalho para tratar sobre as vazadas. Tal grupo reunirá representantes da Polícia Civil, Polícia Militar, Portos do Paraná, Ministério Público, Poder Judiciário, Prefeitura de Paranaguá, Guarda Municipal de Paranaguá, Polícia Rodoviária Federal, FETRANSPAR, entre outros. O objetivo é integrar esforços e desenvolver estratégias conjuntas para combater os roubos de carga na região.
“Todos os órgãos que são afetos à região têm que dar uma contribuição na resolução desse problema”, conclui o subcomandante.