Pacientes sofrem com desconhecimento sobre o retorno das cirurgias eletivas
Por Luiza Rampelotti
Com as cirurgias eletivas na rede pública de saúde do Paraná suspensas desde o ano passado, devido à pandemia de coronavírus, pacientes que aguardam para realizar procedimentos que precisam de agendamento relatam preocupação com a falta de informações a respeito do retorno das operações. Esse é o caso de Maria Eduarda Iunklaus, moradora de Paranaguá, e que estava com a cirurgia de timpanoplastia marcada para o dia 22 de março de 2020.
O procedimento seria realizado no Hospital de Clínicas, em Curitiba, e, para isso, ela já havia passado por um tratamento de um ano com antibióticos. Porém, com o adiamento, a medicação acabou se tornando desperdiçada.
“Me sinto muito mal com essa indefinição sobre o retorno das cirurgias, pois perdi um ano de tratamento e voltei a sentir dores. Tentei um médico particular, porém, os valores são exorbitantes e também não há certeza de que o procedimento será realizado”, diz Eduarda.
As cirurgias eletivas são aquelas marcadas com antecedência, ou seja, por definição, não são situações de emergência. A suspensão não se aplica nos casos emergenciais, nem nas intervenções de cardiologia, oncologia e nefrologia.
Corona demanda muitos recursos
O diretor da 1ª Regional de Saúde de Paranaguá (RS), José Carlos de Abreu, informa que as intervenções eletivas, na realidade, não estão em sua totalidade interrompidas. “Somente alguns grupos foram suspensos, mas as cardiológicas, oncológicas, e aquelas cirurgias eletivas que têm um curso que podem agravar a doença adiante, estão sendo mantidas”, diz.
Segundo ele, apenas aquelas que, se caso não realizadas, não impedem “que a pessoa continue vivendo sem riscos de agravamento”, é que foram paralisadas. José Abreu explica que isso foi necessário por conta do consumo de equipamentos médicos hospitalares que, neste momento, estão em falta no mundo inteiro, em razão da pandemia.
“Atualmente, esses materiais, como respiradores, monitores, bombas de infusão e etc., estão ocupados quase que em sua capacidade total. Além disso, estão em falta, no Brasil e no mundo, em função do aumento da demanda de medicamentos importantes, como drogas sedativas, analgésicas e etc.”, diz.
Qualidade de vida afetada
Apesar de compreender a situação, Maria Eduarda comenta que a realização de sua cirurgia é essencial para que ela tenha uma boa qualidade de vida. “Minha cirurgia é de extrema importância e necessidade, pois está afetando minha audição. Tenho perfuração no tímpano, sinto frequentemente muitas dores de ouvido”, conta.
Seu quadro clínico começou após a descoberta tardia de uma infecção. “Infelizmente, descobri tarde demais, minha audição já estava afetada”, lamenta.
Ela diz que, desde 2019, enquanto ainda estava em tratamento preparatório para a cirurgia, já havia voltado a sentir fortes dores. “Já se passaram dois anos e, provavelmente, só farei a cirurgia em 2022 ou 2023, pois é necessário um ano de acompanhamento, que eu já fiz e foi perdido, então precisarei refazê-lo”, comenta.
O diretor da 1ª RS reconhece que a situação das intervenções eletivas necessita de discussão permanente, especialmente por haver uma lista de espera significativa para as realizações. “Os municípios fazem a gestão das filas e avaliam periodicamente esses pacientes. Essas filas são importantes e não existem só no litoral, mas no Paraná inteiro. Nós tínhamos um mutirão previsto para a realização das cirurgias eletivas, que abrangiam em torno de 15 mil procedimentos, em todo o Estado, e não foram realizados até hoje”, conta.
É preciso diminuir taxa de ocupação dos hospitais
Para que as eletivas retornem, é necessário diminuir a taxa de ocupações dos hospitais, que, atualmente, estão praticamente lotados com pacientes contaminados pelo coronavírus no país inteiro. “Um paciente que faz uma cirurgia ortopédica que pode esperar, por exemplo, ocupa o lugar de um com covid, que está com asfixia e que, se não for entubado, vai a óbito. Foi essa opção que obrigou a suspensão das cirurgias eletivas. Elas irão retornar quando baixarmos o elevado grau de utilização dos hospitais”, conclui.
Maria Eduarda espera que os procedimentos eletivos retornem logo. “Sei que a totalidade da minha audição não voltará mais, porém, não gostaria de perde-la mais ainda e gostaria de não sentir mais dores, o que será possível com a intervenção”, finaliza.