Polícia Civil investiga denúncia, viralizada nas redes, de desvio de pneus na prefeitura de Matinhos
Por Brayan Valêncio
Uma denúncia sobre supostos desvios praticados na prefeitura de Matinhos ganhou as redes sociais e circulou amplamente nos últimos dias, causando questionamentos. A postagem original, feita dia 9 de abril no grupo de Facebook “Reclama Aqui Matinhos”, relata que vários pneus foram enviados da Secretaria de Obras e Planejamento Urbano até uma borracharia na calada da noite, supostamente de forma ilegal.
O autor da postagem, que detalhou as acusações com fotos dos pneus na secretaria, momentos antes da retirada, e também com imagens do suposto instante em que os produtos estão sendo descarregados dentro da borracharia, aproveita o espaço para questionar o motivo de “coisas estranhas” continuarem acontecendo na cidade e nenhuma autoridade vir a público dar alguma explicação razoável.
Devido à gravidade dos fatos apontados, a denúncia gerou manifestação de insatisfações de moradores do município. Até o fechamento desta reportagem, a publicação já contava com 46 comentários, todos em tons críticos. Entre eles, um que diz “eu já acho que é safadeza mesmo, desvio da coisa pública para particular é crime. Tanto de quem tira, como de quem pegou”. Em resposta ao comentário, outro membro completou “não vejo a hora do Gaeco [Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado] vir e acabar com essa farra”. Um terceiro internauta demonstrou querer entender os motivos do suposto desvio: “Seria bom que alguém explicasse, mesmo que não por esse canal. Afinal, merecemos explicações para os fatos registrados”.
Secretaria afirma que pneus estavam inutilizáveis
Procurada pela reportagem, o governo municipal informou saber da situação e que vai providenciar uma resposta sobre o caso. “Tendo em vista os recentes acontecimentos registrados na garagem da Secretaria de Obras e Planejamento Urbano, a Prefeitura de Matinhos vem a público informar que providências já foram tomadas. A Polícia Civil foi acionada, sendo registrado o Boletim de Ocorrência (B.O.) n.º 2021/365431 na delegacia do nosso município. Além disso, o prefeito Zé da Ecler determinou a abertura de uma sindicância interna, para apurar as responsabilidades”, diz a nota enviada ao JB Litoral pelo Departamento de Comunicação da prefeitura de Matinhos.
O B.O. citado pela prefeitura foi registrado no mesmo dia da publicação da postagem nas redes sociais e não tem como finalidade relatar a denúncia, e sim como queixa de calúnia contra um funcionário da prefeitura do município.
No documento, obtido pela reportagem, consta que o procurador-geral do Município, Ronysson Antonio Pontes, foi até a Delegacia da Polícia Civil, localizada no bairro Bom Retiro, para relatar que o chefe do pátio da Secretaria de Obras, lhe mostrou um áudio, onde um terceiro servidor municipal teria acusado o responsável pelo pátio de estar comercializando os pneus de forma ilegal, e com a anuência do prefeito Jose Carlos do Espírito Santos (Podemos), o Zé da Ecler.
Sem irregularidade
No Boletim de Ocorrência, o procurador do município explica as razões para a retirada dos pneus e garante que não houve nenhuma irregularidade no seu descarte. Ele informa, ainda, se tratar de um “descarte consciente”. “Hoje, este procurador-geral foi informado tanto pelo secretário municipal de obras, o senhor Clecio Vidal, quanto pela chefe do departamento de patrimônio, a pessoa de Laudiceia de Melo Viana, que referidos bens foram retirados do pátio da Secretaria Municipal de Obras por serem bens de consumo e estarem sem condições para uso, se tornando portanto inservíveis, é um procedimento padrão adotado pelo município, e realizado em razão disso o descarte consciente a fim de não poluir o meio ambiente”, afirma em seu relato, onde também é citado o vereador Elton Lima Filho do Beiço (PSC), como um fiscalizador presencial das ações de descarte dos pneus.
Questionada sobre o caso, a Delegacia de Polícia Civil informou que instaurou um inquérito para apurar os fatos e que “todas as diligências estão sendo realizadas e testemunhas estão sendo ouvidas”.
O Ministério Público do Paraná, por sua vez, afirma que ainda não há nenhum procedimento aberto na Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público e o caso deve ser remetido ao órgão, assim que houver conclusão do inquérito policial.